O Taj Mahal foi a minha grande motivação para querer ir à India. Fascina-me a sua história e beleza. Em Agra, tinha planeado fazer um voluntariado no hostel em que ia ficar, tal como tinha planeado outros voluntariados na Índia para não estar sozinha, mas eu não sabia ao certo qual seria a minha tarefa neste voluntariado.
Nem nos meus sonhos poderia haver a hipótese de fazer um voluntariado mais perfeito do que este. Quando soube que a minha tarefa iria ser juntar os hóspedes do hostel por volta das 4h da tarde para irmos todos juntos ver o pôr-do-sol com o Taj Mahal como pano de fundo, fiquei mais do que radiante. O meu “trabalho” seria fazer de guia turístico com outras pessoas do hostel. Bom demais!
Adorei este voluntariado, não só pela minha tarefa mas também pelas pessoas que lá conheci e pelo staff do hostel. Ensinaram-me muita coisa sobre a Índia. Com eles comecei a olhar para a Índia de outra forma. De facto estar em contacto com os locais é a melhor forma de podermos entender culturas diferentes e começar a sentir que já fazemos um bocadinho parte da sua realidade e interiorizá-la. Fiquei cerca de uma semana em Agra, mas por norma, os visitantes só ficam um dia, somente para ver o Taj Mahal.
O Taj Mahal é um sítio super lotado de visitantes mas a maioria são mesmo indianos. Dentro do complexo do próprio Taj Mahal passei cerca de metade do dia mas a entrada foi um pouco atribulada. Quando comecei esta viagem decidi que ia levar comigo o SpongeBob em peluche para não estar tão “sozinha”, e era super engraçado estar a tirar-lhe fotos porque chamava a atenção.
Em todos os sítios que visitava eu tirava-lhe fotos, mas dentro do Taj Mahal isso não aconteceu. Não me foi permitido pelos seguranças entrar no complexo com o boneco. Depois de passar o raio X, o segurança veio ter comigo e começou a apalpar o SpongeBob. Nisto chama mais 3 seguranças e ali estão todos de volta do boneco uns minutos até que decidem que não posso entrar com ele. Fiquei bastante irritada e perguntei porquê várias vezes. Era só um boneco… Dei por mim a argumentar em mau tom com os seguranças do Taj Mahal, quando me apercebi que era melhor calar a boca e fazer o que estavam a dizer. Discutir com seguranças na Índia rodeada por indianos não me pareceu boa ideia.
Mas em que consistia ao certo este voluntariado?
No meu primeiro dia ensinaram-me como chegar aos pontos de interesse e nos dias seguintes tive de levar os hóspedes sozinha a esses mesmos sítios. Ambos são sítios desconhecidos dos turistas e portanto a maior parte das vezes tínhamos tudo só para nós. Um dos sítios fica mesmo por trás do Taj Mahal junto ao rio. Existe lá um único barco que trabalha de forma independente e que nos leva até meio do rio onde conseguimos ter uma perspetiva diferente do Taj Mahal com o seu reflexo na água e um efeito espelho para fotos incrível. Infelizmente, esse tour de barco não dura mais de 15 minutos, pois podia ficar ali a apreciar a vista deslumbrante por muito mais tempo.
O outro local é ainda mais restrito pois faz parte de uma propriedade privada e só por estar a fazer este voluntariado tive a hipótese de lá entrar. Sinto-me privilegiada por ter feito tal voluntariado pois tenho a certeza que se não o fizesse jamais iria conhecer estes locais mais escondidos.
Este local é usado para filmagens de filmes de Bollywood. O sítio é lindo graças à vista. De vez em quando, éramos assombrados por bandos de corvos que levantavam voo ao mesmo tempo cobrindo o céu de uma mancha preta e de um som que normalmente se associa a filmes macabros onde os corvos costumam ter papel ativo.
É deslumbrante e nenhum pôr-do-sol é exatamente o mesmo. Das muitas pessoas que lá levei, todas concordavam que o local era fascinante. Para lá chegar tínhamos de atravessar uma vila que era digna de um cenário de há muitos anos atrás na Europa. As pessoas usam fezes de vaca como combustível para o fogo de que precisam em suas casas. Não há eletricidade.
Agra tem mais para oferecer do que o Taj Mahal e eu como lá ia estar vários dias também visitei o Agra Fort e o túmulo a que chamam Baby Taj. Isto porque o consideram um Taj Mahal em ponto pequeno. Sinto que quase ninguém visita este lugar o que o tornou mais genuíno e encantador. Adorei visitar porque está localizado ao lado do rio Yamuna e aquele rio tem tanta vida que passei lá horas só a admirar tudo o que se estava a passar: crianças a jogar críquete; búfalos de água a tomar banho; senhores que enchem os burros de carga com areia repetidamente; roupa a ser lavada. Tudo isso torna o rio numa tela colorida gigante no meio da cidade. Portanto, um ponto de contacto muito sincero com o que é a vida rotineira dos indianos. E esta é a parte que mais gosto! Descobrir e entender uma cultura diferente por meio da observação.
Por Paula Carvalho, autora do blogue While You Stay Home
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