As medidas, para já, preveem que na Suíça apenas sejam permitidos ajuntamentos de cinco pessoas por casa. Isto trouxe decisões aos nossos emigrantes que têm outra perspetiva do reencontro e abraço natalícios: quando a família vai de Portugal até lá. Segundo a Susana Catarrinho (emigrante) e também segundo a Mónica Silva (filha de emigrante), desta vez, isso não vai acontecer como normalmente. Ambas, representando a voz de inúmeros emigrantes ou de filhos de emigrantes portugueses, referem a revolta da comunidade portuguesa na Suíça pois Portugal voltou a ser considerado um país de risco, sem que os emigrantes portugueses estivessem a contar com isto. Vamos perceber o motivo.

Os portugueses ‘lá fora’ que quiserem visitar a família em Portugal, este Natal, terão de regressar ao país de neve e serem obrigados à quarentena de 10 dias. Até há uma semana o cenário era completamente diferente. Aliás mudei este parágrafo num ápice quando a Susana (@ssuussaannaa80) e a Mónica (@monicasilva7) me alertaram sobre a decisão governamental suíça! A partir de 14 de Dezembro estamos na lista ‘negra’ da Suíça. Guarde esta informação se tiver familiares emigrantes na Suíça, como o caso da Mónica que lá tem apenas a mãe e esta terá de passar a ceia sem a filha que a costumava visitar nesta época. O que a não liberdade de viajar está a provocar. Pensemos: é por um bem maior.

De repente estas nossas portuguesas viram a sua oportunidade de reunião com a família com muita revolta e injustiça. E, perante isto, parece muito pior pensar ‘quando vi a minha família em Portugal, no Verão… foi a última vez? Num instante os momentos parecem fugir e não voltar. Esta revolta tem a ver com os factos: primeiro, a quarentena não permitirá regressarem ao trabalho (ou seja, os emigrantes terão de tirar férias de forma obrigada) e, segundo, os números de casos de COVID-19 em Portugal não justificam esta decisão súbita da Suíça (no depoimento dos portugueses emigrados ali: os casos são equivalentes ou menos, em número, por comparação com a situação epidémica suíça).

Suíça
Suíça créditos: Unsplash

Susana conta as emoções sobre o confinamento inicial: não foi só o corte instantâneo da liberdade, mas ter sido assustador não poderem vir a Portugal caso ocorresse algum incidente com os familiares devido ao vírus e não só. Por outro lado, nessa fase inicial do confinamento, ela compara Suíça com Portugal pois ainda veio cá há 4 meses: Portugal muito mais cuidadoso nas medidas de restrição. Aliás ela dá parabéns a Portugal quanto à gestão da pandemia. Algo que a nossa emigrante nota: na Suíça cada cantão decide sobre as medidas decididas pela Federação. E a divulgação lá é menos transparente do que em Portugal – opinião desta portuguesa. Mas em Portugal todos devem obedecer ao Governo e por isso a uniformidade com que nos deparamos em território lusitano.

Um problema que quase nunca se refere sobre os portugueses emigrantes: nesta fase é quando a economia do português emigrado se potencia. E lá a restauração encerrou há algum tempo e de forma maciça. Os portugueses empreenderam ali os seus negócios e vivem sobremaneira dessa área: a restauração.

Voltando à reunião e crise familiar que a interdição de viajar está a provocar: a mãe da Mónica não poderá vir cá, a família da Susana não poderá ir lá. No caso da Susana, todavia, já tinham decidido que a família não iria este ano à Suíça, pois seria um risco maior para os avós portugueses. A Susana é natural de Torres Novas e emigrou há 29 anos para esse outro lado da Europa e no entanto não abandona, por nada, os hábitos portugueses nesta altura. Ou parte deles!

Aliás a sua voz animou-se quando perguntei sobre ‘como será a ceia este ano?’. É que algo compensa: têm imensas pastelarias portuguesas que cheiram a Portugal e lá já está o bolo-rei, as couves e o bacalhau, por exemplo! A família da Susana prefere o marisco acompanhado do champanhe e faz uma comparação com os suíços: os portugueses comem muito e bem. Refere aliás que cada cantão não faz especialmente ceia natalícia, mas tem uma variedade imensa de pratos. E gelados. O salmão fumado entra também no menu. Ela espera poder juntar os seus filhos, o marido, a sua irmã e cunhado (e sobrinha!). E o seu pai. Isto porque todos vivem lá também. Aqui parece que ‘ouvi’ a esperança a subir a um ritmo alucinante.

Natal 2020
créditos: Unsplash

De Macau bem segura, tenho outro depoimento de uma emigrante que decidiu não vir a Portugal, no Natal. A Edlia (@edliasimoes) deparou-se com a mesma situação: vindo a Lisboa teria de fazer quarentena em Macau o que prejudicaria o seu trabalho. Tem esperança em vir no Verão. Relata que há zero casos COVID-19 em Macau. Portanto, numa zona em que, como sabemos, sofreu bastante após a tragédia ter sido espoletada ‘muito perto’. Controlou-se imediatamente, mas foi um choque para toda a China, como sabemos. O seu irmão vive no outro lado do globo, emigrado no Canadá, e virá passar o Natal a Portugal o que a conforta pois, assim, tem a certeza que a mesa dos pais não estará solitária.

Da Escócia, a emigrante Mariana Costenla (@costenlamariana) apresenta uma viagem planeada de forma diferente para o seu Natal. E noutra rota! Ela marcou imediatamente (em Agosto!) o seu voo para Portugal. Só há voos low cost e, entretanto, viu o seu voo cancelado. Mas marcou de novo. Não desiste de cá vir. Vai enfrentar a questão de um regresso com quarentena, também. Mas ela vem e fará o teste COVID-19, tal como toda a família. Ela é muito rigorosa quanto a isso, até máscaras haverá à mesa, cá em Lisboa.

De Itália, os pais do Andrea Agarla (@andrewagarla) decidiram não vir também por motivos de segurança, pensando no bem de toda a família. Eles vivem em Prato Sesia, uma cidade entre Turim e Milão. Que fique claro que não é proibido viajar para cá ou até lá, mas as limitações não ajudam. E, quando se fala de Itália, lembramos o cenário de tormento que vivenciaram. E, precisamente, a 3 de Dezembro, Itália sofreu um novo recorde de 1000 mortos devido à COVID-19. O Andrea emigrou em 2013 para Aveiro e cá passará, connosco, o Natal. Eu vou até à casa dele, precisamente. Sim, ele é como família e vai ‘acolher-me’ (e à minha família) na ceia. A Mónica, porque tem a mãe na Suíça, também passará connosco. E, sem ultrapassarmos limites, teremos, a primeira ceia de Natal mais diferente de qualquer momento das nossas vidas.