Estes 13 emigrantes portugueses de longa duração, provenientes da Argentina, Brasil, Venezuela, Moçambique e África do Sul, passearam pelo país que há muito deixaram e aonde a maioria não voltou depois de partir, ainda muito jovem.
Luciano Silveira estava longe de imaginar que poderia percorrer Portugal. Aos 78 anos, feitos precisamente no dia em que terminou a experiência de 12 dias proporcionada este mês pelo programa da Fundação Inatel “Portugal no Coração”, revelou à agência Lusa que leva um conhecimento do país “que não é definitivo”.
“Sou português nascido na ilha Terceira e isto foi uma coisa que nunca esperei vir ver. Eu não conhecia nada, fiquei a conhecer agora”, disse, com os olhos marejados.
Luciano saiu dos Açores aos 13 anos, depois de um oficial da base das Lajes ter reparado que por lá andava a ajudar uma senhora a vender bolos e a lavar a loiça na messe.
“O senhor engraçou comigo e disse para chamar o meu pai. Mas a minha mãe, desconfiada, acompanhou-o. Disse que me queria levar para a América, para eu fazer um curso de cozinha, e eles deixaram. Lá fui durante seis meses para Nova Iorque”, contou.
A vida começava a ser traçada naquele momento, embora não o soubesse. Foi depois à tropa, esteve em Angola e voltou aos Açores, mas, ao perceber que não queria ficar “naquela terra tão pequena”, foi “correr mundo”.
Passou pela África do Sul e acabou por regressar a Moçambique, onde ficou até hoje, dedicando-se à cozinha, a sua primeira paixão, numa casinha na província de Nampula.
“Faço casamentos. A minha arte é esta. Aniversários, leitão à bairrada, cozido à portuguesa. Tudo o que é culinária eu sei fazer. Sei fazer comida americana, alemã e moçambicana”, enumerou.
Apesar da experiência dos últimos dias e da gratidão que sente por aqueles que lhe proporcionaram o passeio, está desejoso de regressar: “Estão à minha espera, sabe. Estão à espera que o ‘ti’ Luciano vá tratar das encomendas que já tem de leitão para o Natal. Estavam com medo que eu não regressasse do passeio”.
Não pensa voltar a Portugal. A família está toda na América, mas há muito que não se veem. Os 500 meticais que ganha com cada leitão que vende vão sendo amealhados, para “o resto da vida e para não incomodar ninguém”.
Aos domingos, é dia de assado e a família de João Almeida e Maria do Carmo junta-se para o almoço em Buenos Aires. Os três filhos e os netos enchem a casa, onde sempre se falou português. À mesa são servidos os produtos que João, reformado há uma década, cultiva na quinta.
João tinha 14 anos quando emigrou de Fornos de Algodres para a Argentina. Há 66 anos que vive no país, onde conheceu a mulher e mãe dos seus filhos, natural de Seia e com quem só se cruzou em Buenos Aires.
“Estive 52 anos sem vir a Portugal”, disse Maria do Carmo. Emocionada, foi contando que chorou muito, demasiado, quando chegou à Argentina, mas como os pais já lá estavam emigrados não teve alternativa, apesar de muito se ter arrependido.
Habituou-se à vida e, pelos filhos e netos e também pela sua idade, 77 anos, e a do marido, 81, não pensa voltar para Portugal. Mas se tivessem outra oportunidade como estes últimos 15 dias não hesitavam.
“Há 66 anos que estou na Argentina, só cá tinha vindo uma vez. É uma maravilha por todo o lado que a gente vá. Para a idade que a gente tem, ver isto, Nossa Senhora, é o melhor do mundo”, reconheceu.
Não há nada de que o casal não tenha gostado em Portugal e para o comprovar levam "dois rolos cheios de fotografias".
“Não há dinheiro que pague isto”, disse Maria do Carmo.
O programa “Portugal no Coração” comemora este ano a vigésima edição e por ele já passaram 797 participantes, sendo destinado a pessoas com 65 ou mais anos, residentes fora da Europa, que não tenham visitado Portugal há menos de 20 anos.
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