O livro “A Universidade de Coimbra e seus Estudantes aos Olhos dos Viajantes Estrangeiros (1581-1879)”, do investigador Carlos Xavier Reis, reúne 30 relatos de viajantes estrangeiros (homens e mulheres) de dez nacionalidades, mostrando um olhar externo sobre a Universidade de Coimbra (UC), os seus professores e estudantes e a cidade.
Dos relatos, há quem fale de um museu com uma “soberba coleção”, uma universidade “muito superior a todas as de Espanha”, há quem destaque as “margens encantadas do Mondego” ou a própria cidade, onde a vida parece “correr alegre e despreocupada”, pode ler-se no livro consultado pela agência Lusa.
No entanto, também não faltam críticas. Um médico suíço fala de uma universidade “que teve fama no mundo” e que “vale hoje muito pouco”, lamentando que tendo a cidade “servido de residência a soberanos”, esteja, naquela altura, “transformada em cemitério”.
A obra surge de uma investigação autónoma desenvolvida por Carlos Xavier Reis, depois de, no seu primeiro ano de mestrado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, ter entrado em contacto com os relatos de viajantes como fontes de informação.
Depois de um apanhado inicial, a partir de livros acessíveis e traduzidos em português, o investigador optou por ir colecionando relatos – “um relato leva a outro”.
“Acabou por crescer como projeto autónomo e apresentei-o à Imprensa da Universidade de Coimbra. Felizmente, houve esse interesse de apoiar este projeto, que é também uma homenagem que faço à Universidade de Coimbra”, disse à agência Lusa o autor.
Entre relatos mais objetivos, há vários que se deixam levar seja por um deslumbramento pela cidade e pela universidade e outros por críticas ácidas e nem sempre justas, por parte de viajantes, que vinham já “com uma ideia preconceituosa ou negativa” sobre a cidade ou o país, denotando até alguma sobranceria, aclarou.
A própria obra agora publicada procura contextualizar o tempo e o espaço em que cada relato foi feito.
Um dos relatos mais negativos da Universidade surge de J.B.F. Carrère, que esteve em Portugal no século XVIII, e que falava da UC como uma instituição que contribuía “para a manutenção da ignorância”.
“À medida que vamos penetrando neste pretenso santuário das ciências e de mais perto o examinamos, encontramos apenas um vulto, um corpo cheio de vento, mas substancialmente magro, seco, descarnado, sem alma, sem vida, apenas articulado pelo pedantismo e só eivado pelo preconceito e apenas obstinadamente mantido pela soberba e orgulho dos nacionais”, relata o francês.
O livro aclara que este viajante andou clandestino por Portugal, onde foi perseguido e posteriormente expulso, considerando que o relato poderia ser também uma “maneira de desforrar da nação que o havia recebido mal”.
O olhar dos viajantes debruça-se também sobre os estudantes, com um italiano, no século XVII, a reparar que a “rapaziada escolar é bastante licenciosa”.
Já o alemão Heinrich Link destacou o “incómodo fato negro” que os estudantes tinham de vestir, lamentando que as ruas da cidade estivessem “permanentemente cheias destas pessoas vestidas de negro”, oferecendo “um aspeto triste e fradesco”.
O mais famoso dos viajantes citados é o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, que considera o traje dos estudantes “pitoresco”.
No relato, o autor conta que os estudantes andavam “com guitarras ou espingardas aos ombros”, deixando-se impressionar com a “imponente capela” e a biblioteca da Universidade.
A obra é apresentada na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, na quarta-feira, às 18:00, com a participação do docente da Faculdade de Letras Fernando Taveira da Fonseca.
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