Na península Calcídica, no nordeste da Grécia, a ausência do inverno é um problema para as milhões de oliveiras da região, muitas das quais, como resultado, já não produzem azeitonas.
"O clima mudou e as árvores não conseguiram resistir. Já não temos inverno", lamenta a agricultora grega Zaharula Vassilaki na aldeia de Polygyros.
Em meados de novembro, o termómetro marcava temperaturas acima dos 15ºC nesta região.
"Neste momento, as temperaturas deviam ser de 10 graus", afirma Nikos Anoixas, membro do conselho de administração da Doepel, a organização nacional interprofissional grega de azeitonas de mesa.
Vangelis Evangelinos, de 62 anos, que cultiva esta árvore nas terras da sua família desde criança, não se lembra de condições climáticas tão adversas como as que atingiram a região este ano, nem de uma colheita tão fraca.
"As chuvas são intensas e breves, ao contrário do que é necessário para enriquecer os solos", conta.
A situação danificou milhões de árvores na região, segundo produtores e especialistas. Como resultado, muitos delas já não produzem azeitonas.
"É um problema que temos notado nos últimos cinco anos", diz Vassilaki, explicando que é necessário no mínimo "de um a dois meses de frio para que a árvore descanse" e possa dar frutos posteriormente.
Gigantes deste setor na União Europeia (UE), como a Itália e Espanha, enfrentam problemas similares, o que faz aumentar os preços do azeite de oliveira e da azeitona, bases da alimentação na região mediterrânea.
A Espanha, maior produtora mundial de azeite, passou por um ano muito difícil em 2022 e a seca deste ano agravou o problema. Segundo estimativas do bloco, a produção deste óleo na UE deverá cair 39% em 2022-2023 em comparação com 2021-2022.
Athanassios Molassiotis, agrónomo e diretor do laboratório de arboricultura da Universidade Aristóteles de Salonica, afirma ter registado um aumento de dois graus na temperatura durante os meses de outubro, novembro e dezembro de 2022 em relação ao ano anterior. Isto afetou os botões da oliveira, principalmente a variedade calcídica, que "necessita de temperaturas baixas no inverno", explica.
Segundo a câmara de comércio regional, esta localidade grega produz cerca de metade da azeitona de mesa da Grécia, com uma média anual entre 120 mil e 150 mil toneladas.
"Enorme" impacto
Mais de 150 empresas da região trabalham na transformação e na comercialização das oliveiras e mais de 90% dos produtos são exportados para todo o mundo.
"Tenho medo de que a situação piore", lamenta o presidente da Câmara de Comércio, Yannis Kufidis, para quem o impacto económico nos produtores já é "enorme", com perdas de cerca de 200 milhões de euros de faturação apenas na Calcídica.
Na unidade local de processamento de azeitonas, que também gere carregamentos de todo o país, a administração afirma que a produção caiu pelo menos 70%.
Segundo um estudo sobre alterações climáticas realizado pela Universidade Aristóteles, a temperatura média na região deverá aumentar, na melhor das hipóteses, entre 1,5 e 2 graus nos próximos anos.
Para os produtores, a esperança está na possível criação de uma variedade de azeitona que necessite de menos tempo de inverno, um projeto "muito difícil", segundo Kufidis, que já está a ser trabalhado pela câmara regional juntamente com a universidade.
"Não podemos ficar de braços cruzados", diz.
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