“Antigamente, havia mais produtores, havia menos poluição, havia pessoas mais dedicadas ao cultivo da azeitona, daí que houvesse mais produção do que hoje”, adiantou, em declarações à Lusa, Francisco Branco, de 72 anos, que herdou do pai olivais no Porto Martins (concelho da Praia da Vitória).

De acordo com os serviços agrários do Governo Regional na ilha Terceira, existem atualmente 26 produtores de azeitonas no Porto Martins, que cultivam uma área de cerca de 13 hectares, quando em 1999 esse número ascendia aos 35 produtores.

A azeitona do Porto Martins, vendida sobretudo para restaurantes, é apreciada tanto pelos açorianos como pelos turistas que visitam a ilha Terceira.

Os produtores dizem que não têm dificuldade em vender as azeitonas e às vezes até as enviam para outras ilhas, mas o trabalho exigido na manutenção dos olivais afasta as gerações mais novas.

Segundo Francisco Branco, a maior parte dos produtores tem mais de 50 anos e cultiva a azeitona como um passatempo, porque não é lucrativo.

“A produção da azeitona é muito irregular. No ano passado tive uma produção espetacular. Este ano, foi na ordem dos 60%”, frisou.

Apesar de já ter cativado os netos de cinco e oito anos para a apanha das azeitonas, o produtor admite que o cultivo está em risco, porque exige “muita dedicação”.

“Eu não vivo das oliveiras, mas vivo para as oliveiras. Eu ali parece que estou num mundo diferente”, realçou.

José Lucas também herdou do pai o gosto pelo cultivo das azeitonas e, por isso, adquiriu um olival há cerca de 20 anos, mas lamenta que as gerações mais novas não se interessem pela produção.

“Não acho que tenha muito futuro. Esta malta nova não quer saber de nada disto e é pena porque tem uns matos aqui à volta que podiam estar a produzir”, disse, em declarações à Lusa.

Devido à reduzida escala de produção, as azeitonas do Porto Martins não são transformadas em azeite e a apanha é toda à mão.

Desde 2004/2005 que a produção se tornou ainda mais trabalhosa, com o aparecimento da mosca da azeitona, que se não for combatida atempadamente pode danificar olivais inteiros.

“Quem não combater a mosca da azeitona, a partir da primeira semana de junho, última semana de maio, quando for a altura da cultura pode ter azeitonas lindas, mas vai-lhes tocar e elas estão todas contaminadas”, explicou Francisco Branco.

Na Terceira, as oliveiras só se desenvolvem num pequeno espaço com cerca de um quilómetro e meio, na zona da Madre de Deus, na freguesia do Porto Martins, uma das mais ensolaradas da ilha.

Francisco Branco já experimentou plantar uma oliveira em Angra do Heroísmo, mas, apesar de se ter feito uma “árvore linda”, não deu fruto.

O produtor, que desde criança acompanhou o pai nos olivais, estima que o cultivo da azeitona tenha sido introduzido na ilha no tempo do povoamento, mas foi no século XVIII, quando dois frades italianos se mudaram para o Porto Martins, que a cultura se começou a desenvolver.

Os frades sabiam enxertar as oliveiras e tentaram esconder a técnica do quinteiro, que acabou por a descobrir e partilhar com outros produtores.

Atualmente, José Lucas estima que a produção total de azeitonas no Porto Martins não ultrapasse os 10 mil quilos por ano, um valor muito distante do que Francisco Branco se recorda dos seus tempos de infância.

A azeitona do Porto Martins tem um sabor característico, que os produtores acreditam ser influenciado pelo clima e pela salmoura apurada ao longo de várias décadas.

“Ela tem um gosto diferente da do continente. Não sei porquê, não sei se é por causa do clima, mas é uma azeitona que é muito apreciada. As minhas já foram para o continente”, salientou José Lucas.

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