“Tudo começou com uma vontade muito grande de voltar para o interior”, começa por dizer Rita Gomes, quando perguntamos como surgiu a ideia de abrir um restaurante na aldeia de Vreia de Jales, município de Vila Pouca de Aguiar.
A escolha do lugar não foi por acaso, uma vez que João Pires, companheiro de Rita, é natural de Vila Real, portanto, começaram a procurar pela região. “Queríamos abrir um restaurante no interior e queríamos algo mais rural, que nos permitisse mudar o nosso estilo de vida porque tínhamos sempre vivido em cidades”, continua Rita.
Até que surgiu a oportunidade de “pegar num restaurante que já existia e estava desativado”. “Apresentaram-nos este sítio e, quando chegamos aqui, ficamos encantados com o ambiente rural, dentro de uma aldeia e cozinha aberta”, descreve João.
Assim começava a concretização do sonho destes dois cozinheiros que se conheceram na Escola de Hotelaria do Porto, trabalharam em Espanha e na Suíça, mas sempre com o objetivo de voltar a Portugal para abrir um restaurante no interior do país.
Apresentam uma “proposta mais gastronómica e criativa ao receituário e aos produtos da região”, explica João. “O nosso objetivo é sempre trabalhar com produtos locais, dar a nossa visão daquilo que pode ser uma cozinha rural, mas mais gastronómica porque, apesar desta zona ser tão rica em ingredientes, a forma como às vezes se come é muito monocromática”, completa Rita.
Trabalhar com produtores locais e viver a sazonalidade
Vivem na aldeia e têm uma horta. Trabalham em proximidade com produtores, da carne maronesa, aos vegetais, passando pelos queijos e vinhos. Consideram que já fazem parte da comunidade. “É preciso haver esta conexão”, afirma João.
Este estilo de vida reflete-se no que apresentam no restaurante que conta com um menu de degustação sempre disponível. “É esta a proposta que tentamos oferecer aos clientes. Isso também nos permite fazer alterações constantes de acordo com os produtos disponíveis e viver a sazonalidade desta região da melhor forma possível”, considera Rita.
Pastéis de cogumelos, bola rústica de carne, croquetes de maronesa, tortilha de bacalhau a Brás, cabeça de porco bísaro, polvo confitado e vitela foram as iguarias que fizeram parte da nossa experiência gastronómica no Forno de Jale.
Depois de passar esta temporada de verão, em que estão com um menu mais fresco, vão entrar numa das épocas mais rica em produtos da região, o outono. Altura em que a lareira volta a ser acessa e que, com certeza, valerá a pena ir saborear a cozinha regional alternativa que por ali se faz.
Alternativa, mas que não deixa de ser rural. Assim, os chefes querem apostar cada vez mais no fogo que “traz uma nostalgia à comida que é muito única desta região”, sublinha Rita.
O trabalho com os produtores locais também é algo que vão continuar a aprimorar, sempre em busca de novos produtos ou de visões diferentes sobre produtos tradicionais. Por exemplo, já apresentaram um prato de beterraba e, nesta altura, tiveram de fazer um esforço junto aos produtores locais para que produzissem “a beterraba para nós e não para dar aos porcos”, recordam.
Rita e João não têm dúvidas que o turismo de natureza e gastronómico são pontos fortes de uma região com muito potencial. “Houve uma desertificação nos últimos 30 anos e isso esvaziou a oferta que poderia existir”, refere João, destacando o património único deste Planalto de Jales, a herança mineira, a natureza, as aldeias e a gastronomia.
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