A torta de Azeitão é o bolo mais afamado mas perde para a concorrência na montra que nos cativa a atenção com uma grande diversidade de bolos, a maioria regionais e outros recriados.
“O que tem tido mais impacto é o mémé” uma recriação de José Augusto Pinto, proprietário da Pastelaria Regional Cego há 44 anos.
Ele diz ainda que “as pessoas ficam um pouco surpresas”. Não é muito doce e tem tido muita aceitação por isso. Tem requeijão e doce de ovos por cima, “uma massa crocante, mete-se na boca e ouve-se o estalar.”
É feito na hora porque convém ser comido com brevidade. O requeijão deve estar apurado e “se estiver mais de meia hora dentro da massa perde qualidade. Como pretendo evitar isso, não vendemos para as pessoas que os vão consumir mais tarde.” São doces pequenos.
“Há pessoas que chegam aqui com hora combinada e comem um rebanho. Chego a fazer 100 a 150. Mas com hora combinada para não haver uma longa espera”.
O amor é diferente. É um pequeno suspiro. Faz parte da doçaria regional e é um legado da família que esteve na origem da pastelaria. Na brincadeira aconselha a que se coma de uma só vez.
Degustando lentamente, com o açúcar a derreter até se sentir a amêndoa que está no interior. O maior problema é respirar com a boca cheia. Ou aguentar o riso. Quem não consegue está sujeito a uma explosão de açúcar.
Para além dos amores e dos mémés é também obrigatório degustar o doce de moscatel.
Como se percebe, a atração é a torta de Azeitão mas muitos clientes perdem-se em frente do balcão da pequena pastelaria com outras tentações.
Na doçaria regional do Cego também são conhecidas as roscas em forma de S, os esses. Foram estes bolos que há mais de um século começaram a dar fama e sustento a um casal que veio para esta casa em 1901.
O homem, Manuel Rodrigues, ficou cego e isso está na origem do nome da pastelaria, mas o mérito é de Maria Albina. Conta José Augusto Pinto que a a esposa do cego “era uma excelente cozinheira e tinha aprendido em casas ricas. No primeiro piso alugavam quartos e nos rés do chão Maria Albina tinha a cozinha onde fazia os bolos.”
Na altura produziam essencialmente os bolos secos. Duravam mais tempo e eram mais rentáveis. “No entanto, já fazia bolos maiores, como as tortas, que eram para as pessoas que viviam aqui e sabiam que ela cozinhava muito bem. Mais tarde deixou de alugar quartos, dedicou-se só à pastelaria e reduziram o tamanho das tortas. Naquela altura criar uma pastelaria numa aldeia era muito arriscado”.
Segundo é narrado, alguns desses bolos eram vendidos aos viajantes à porta de casa. Só mais tarde a pastelaria ganha relevância e já tem a intervenção da filha do casal que criou também alguns doces e depois foi a neta. Mantiveram os bolos e as receitas de Maria Albina: tortas, queijinhos, amores, esses, tranças e os duques que eram queques de limão.
Em 1975 venderam o estabelecimento ao pai de José Augusto Pinto que tinha um restaurante mesmo em frente. “Calhou-me a sorte de vir para aqui. Quando saía da escola tinha de vir aqui e a partir dos 15 anos comecei a trabalhar a tempo inteiro. Já cá estou há 44 anos. Sou uma pessoa que gosta de criar. Já recriei alguns bolos que tiveram bom acolhimento. Eu não tenho mais bolos recriados por mim porque depois não tenho tempo para o fazer.”
Para sossego dos gulosos. A conversa teve de encerrar porque já eram 20h, quando fecham as portas e os mémes tinha de ir dormir.
Bolos do Cego – onde nasceu a torta de Azeitaõ e se comem os amores faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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