O cavacório tem a forma de concha e é revestido com fondant, açúcar em ponto e água.
Jorge Mourão, da pastelaria Nova Pompeia, de Vila Real, há três décadas que sugere uma prática muito particular, que seja consumido conjuntamente com vinho do Porto.
Para isso, picamos ligeiramente a cobertura do fondant com um garfo, “para o vinho penetrar, o que a gente chama enxaropar o cavacório. Para humedecer o doce porque o cavacório é seco.”
E o resultado no paladar é suave e de harmonia entre os dois sabores. “o vinho do Porto corta um pouco o doce do fondant porque a massa é só farinha, ovos e óleo. Não tem açúcar. O doce está no fondant. Na combinação com o Vinho do Porto fica uma junção perfeita, sem sobressair o vinho ou o doce.”
Jorge Mourão acrescenta que a aguardente também não fica mal. “Quando estou com um grupo de amigos, costumamos fazer com a aguardente. Picar o cavacório e colocar aguardente. Fica excelente. É uma combinação perfeita.”
Jorge Mourão é dono da pastelaria Nova Pompeia em Vila Real que, segundo diz, introduziu esta prática, de se consumir o cavacório enxaropado.
“Antes os cavacórios comiam-se normalmente. É natural que depois bebessem um copo. Para os antigos tudo servia para beberem. Neste caso, introduziu-se isto, foi uma novidade e a pessoas aderiram e aderem. Foi por volta dos anos 90 que se iniciou o hábito do cavacório enxaropado, é assim que denominamos esta prática.”
O cavacório é um doce tradicional de Vila Real e “tem sempre algum segredo porque leva farinha, ovos e óleo. Depois tem de ser batida num ponto que eu chamo de correr, fica quase em fio.”
É nesta altura que há maior procura dos cavacórios porque o doce é uma oferenda a S. Lázaro, o santo que salvou o Bairro dos Ferreiros de uma epidemia e cuja romaria se realiza este domingo. O bairro fica perto do rio Corgo, era uma zona de artesãos. Realizam na capela de S. Lázaro uma grande festa com procissão, missa e muitas barracas de comes e bebes. A lenda diz que o doce nasceu numa oferenda ao santo.”
A tradição ultrapassou a componente religiosa e passou para a doçaria regional. “Em Vila Real quase que 100% das pastelarias produzem cavacórios nesta altura. Cada um com a sua receita. O nosso é diferente. Enquanto os outros são duros, crocantes, mais parecidos com as cavacas das Caldas, o nosso é mais fofo.”
No entanto, é um doce sazonal, “até à Páscoa e depois um ou outro fim de semana. A doçaria tradicional está associada à religião. Na festa de Santa Luzia temos o pito, o S. Brás tem as ganchas e finalmente S. Lázaro com o cavacório.
Os pitos, com doce de abóbora, fazemos durante todo o ano.” Se nas outras festas a doçaria está associada a rituais de enamoramento, o cavacório marca a aproximação da Páscoa: “Lázaro, Ramos, na Páscoa estamos”.
Cavacórios de São Lázaro com vinho do Porto faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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