O senso comum diz que o efeito do álcool é sentido muito mais depressa em grandes altitudes. Peter Hackett, diretor do Instituto da Medicina em Altitude, diz que este dito tem mais de ficção do que de realidade.

Então o que explica tamanha crença? O investigador conta à Condé Nast Traveler que esta ideia começou a difundir-se a partir dos anos 30 quando um psicólogo da Universidade de Colômbia, nos EUA, afirmou que dois ou três cocktails corresponderiam a quatro ou cinco, quando tomados a 10.000-12.000 pés. Normalmente, os aviões voam a uma altitude de 6000-7500 pés e imensos estudos refutam esta ideia, refere Peter Hackett. Os efeitos do álcool são semelhantes em altitude ou ao nível do mar. Na verdade, o que poderá experienciar é uma forte ressaca após aterrar.

"O álcool faz-nos sentir mais a altitude, não o contrário"

Se consumido durante um voo, os efeitos diuréticos e desidratantes do álcool são mais potenciados. Charles A. Morris, médico do Brigham and Women's Hospital, afirma que estas bebidas diminuem a produção de uma hormona anti-diurética. Consequentemente, os rins aumentam a produção de urina e acabamos por ir mais vezes à casa de banho, explica.

Durante o voo, este efeito é ainda potenciado por outro fatores. O ar na cabine é mais seco o que faz com que o corpo perca fluidos mais depressa. E é neste estado de desidratação que várias pessoas se sentem ligeiramente tontas ou embriagadas.

Por outro lado, a altitude também diminui o nível de oxigénio no sangue. Quando ingerimos bebidas alcoólicas a respiração tende também a desacelerar, o que combinado com níveis baixos de oxigénio provoca dores de cabeça e tonturas. "O álcool faz-nos sentir mais a altitude, não o contrário, o que é um mito comum", conclui Charles Morris.

Se não conseguir resistir a uma bebida, o médico recomenda fazê-lo depois do voo, mas fique apenas por uma dose e vá alternando com água, prevenindo assim que o corpo fique desidratado. Ou então beba bastante água antes de embarcar, mas nunca com o estômago vazio. As boas gorduras e proteínas (sementes, abacate, frutos secos, queijo, carne ou iogurte) ajudam a que o processo de digestão das bebidas seja mais lento. E, já agora, diminuem a rapidez e a intensidade com que elas possam atuar.

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