Ao fim-de-semana, um pouco por todas as estradas do país, é habitual avistar grupos de ciclistas amadores a realizarem passeios que podiam rivalizar com as provas da Volta a Portugal em bicicleta, tanto em distância como grau de dificuldade. A história da viagem que se segue, todavia, faz até a Volta parecer curta demais para usar como termo de comparação.
Acabados de chegar de Lisboa à estação de Porto-Campanhã no último Intercidades do dia 6 de agosto, os protagonistas desta aventura, acompanhados das suas bicicletas e equipados a rigor, são capazes de ter passado por ciclistas a regressarem de um passeio de sábado. Na realidade, a sua viagem só agora estava prestes a começar. Depois de 3 horas num comboio, partiram de bicicleta rumo ao seu ponto de partida original, a 345 quilómetros de distância: Lisboa. Esta é a história da sua épica aventura, tal como contada por um dos seus participantes, Tiago Palinhos.
O grupo de amigos
Nesta viagem (Porto-Lisboa) participaram seis pessoas: Francisco Nascimento (59 anos), Tiago Palinhos (39 anos), Fernando Silva (38 anos), João Gonçalves (33 anos), Diogo Manjerico (32 anos), João Nascimento (28 anos). Todos nós, com exceção do Francisco (pai do João Nascimento), trabalhamos na Lisbon Bike Shop.
A origem da ideia
Não foi a primeira viagem de grande distância que fizemos. É o culminar de uma série de três grandes viagens, uma trilogia, a que demos a alcunha de EPIC. Tudo começou no dia 5 de março de 2022. Nesse fim-de-semana, participei no Algarve Bike Challenge (ABC), em Tavira. Os outros elementos da loja decidiram, logo após o dia de sábado a trabalhar, pegar nas bicicletas e ir de Tróia até Tavira de noite para assistirem à minha participação na última etapa do ABC. Esse foi o primeiro episódio, um EPIC TT (Tróia-Tavira). Foram 221 quilómetros. Depois desta incrível aventura, decidimos subir a fasquia e fazer o Porto–Lisboa, novamente após um sábado de trabalho.
A primeira tentativa, em julho
Marcámos para o dia 2 de julho. No entanto, sempre atentos à meteorologia, reparámos que nessa noite iria chover durante o trajecto do Porto–Lisboa, pelo que optámos por fazer, nessa mesma noite, uma viagem pelo sul, onde não iria chover. Foi assim que surgiu o EPIC LET (Lisboa–Évora–Tróia), com 267 quilómetros.
Nesta aventura, para além do Fernando, Diogo e João Nascimento juntaram-se o Francisco e o João Gonçalves. Até que, dia 6 de agosto, mais uma vez após um sábado de trabalho, fomos até Santa Apolónia e seguimos, de comboio, em direcção ao Porto para fazer o EPIC PL (Porto–Lisboa). Neste EPIC participámos os seis.
A grande viagem
Partimos à meia-noite da estação de Campanhã, em direção a sul. Foi uma viagem num ritmo tranquilo (há que ter em conta que trabalhámos das 9h às 18h), sem grandes percalços. A situação mais “complicada” foi um problema técnico na minha bicicleta.
Durante a viagem de comboio, o desviador traseiro levou uma pancada de uma mala, o que fez com que este se avariasse e ficasse inutilizável. Por causa disto, só pude usar as mudanças da frente durante toda a viagem!
De resto, o mais complicado de gerir foi o cansaço. Ao longo de uma viagem tão longa, vamos sentindo altos e baixos na energia que dispomos. As dores no corpo vão e voltam mas a motivação, o espírito positivo e a boa disposição do nosso grupo é sempre alta!
A preparação
Para se fazer viagens deste género é necessário estar bem preparado fisicamente, mas, talvez mais do que isso, é preciso estar bem preparado psicologicamente. Há vários momentos em que nos perguntamos “o que é que eu estou aqui a fazer?”
Outro ponto essencial ao fazer uma viagem destas é a alimentação e a hidratação. Como são várias horas de viagem, é essencial, além de nutrição energética, comer “comida de verdade”. Comer algo de hora a hora e estar sempre hidratado para que o corpo não quebre. E muita cafeína!
Outro ponto fulcral é saber gerir o ritmo em grupo para que ninguém fique para trás.
A chegada
O percurso foi previamente planeado, com excepção das paragens. Dependiam sempre da energia do grupo e das necessidades do momento.
Na nossa chegada a Lisboa, o entusiasmo superou o cansaço — apesar de estarmos bastante fatigados e com dores no corpo, após 14 horas de pedal efectivo (sem contar com paragens)!
Chegámos por volta das 19h de domingo. No dia seguinte, às 10h da manhã, parte da equipa estava na loja para começar uma semana de trabalho.
A próxima aventura
Já estamos a pensar na próxima aventura: fazer a N2 em 2 dias ou talvez 1. Mas, dessa vez, será com o sono em dia. Sem ser logo após um dia de trabalho!
Podem acompanhar as aventuras do Tiago, e do seu grupo de amigos, no instagram.
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