Mais de metade das deslocações em Portugal entre a casa e o trabalho são inferiores a 10 quilómetros, uma distância que ajuda a aliciar cada vez mais pessoas a optar pela bicicleta nas suas deslocações diárias, especialmente se for elétrica. Que motivações estão por detrás da sua escolha? E que desafios ainda encontram nos seus percursos? Colocámos estas questões a cinco ciclistas de diferentes cidades do norte e centro do país. Pedalem connosco nestas histórias, contadas na primeira pessoa.
Comprei a minha bicicleta (uma Wayscral–Everyway E- 200, que chamo de Penélope) há 8 meses, como prenda após ter concluído um curso de mestrado feito ao longo do período da pandemia. Depois de dois anos e meio a gerir uma rotina estressante de mestrado e trabalho na escola de dança considerei a prenda mais que merecida!
Utilizo a bicicleta como transporte para trabalhar pelo menos três a quatro vezes por semana. A bicicleta veio substituir parcialmente o uso dos transportes públicos. Não tenho carro e utilizo principalmente a linha da camionetes de Canidelo (Espírito Santo) que neste momento funciona de forma bastante precária no que diz respeito aos horários, a manutenção e ao número de camionetes que circula no dia a dia.
Aos finais de semana gosto de ciclar explorando os belos percursos, margeando o rio e o mar. Meu sonho é aventurar-me e seguir viagem com a bike explorando e curtindo novos sítios que me permitam estar em contacto com a natureza e conhecer gente que gosta de ciclar.
A experiência de ciclar tem sido maravilhosa e reveladora. Sinto-me mais autónoma no ir e vir. É muito bom não ter que depender da instabilidade dos transportes públicos. Quando utilizo a bicicleta para trabalhar sinto-me sempre bem-disposta. Percebo o meu corpo mais ativo e verifico que obtive ganhos a nível muscular e na capacidade anaeróbica.
Adoro a sensação de liberdade e o contacto mais direto com a natureza. O percurso que faço para trabalhar me permite apreciar diariamente a linda paisagem entre a Afurada e a Ribeira de Gaia. Sol, vento, frio, calor, a luz do dia e do final da tarde, o rio como um espelho a refletir uma cidade submersa. Muito lindo!
No entanto é preciso muita prudência, pois os desafios são muitos. Infelizmente, a cidade não apresenta condições para ciclar com segurança. São pouquíssimos os trechos onde de facto há ciclovias, são inúmeros os buracos e os carros nem sempre respeitam os ciclistas. Todo o cuidado é pouco. Verifico também a ausência de lojas de bicicleta a que possamos recorrer no dia a dia em caso de algum imprevisto.
Apesar dos desafios e de algum perigo não abro mão de ter a Penélope como companhia. A vida ganhou uma outra cor, uma nova dinâmica e isto é muito bom!
A bicicleta encaixa como meio de transporte quando preciso de me deslocar para fazer alguns recados dentro de Espinho, que é uma cidade pequena, onde a maior a parte dos serviços se encontram a uma "walking distance". De bicicleta, as coisas ficam ainda mais acessíveis. Substitui parcialmente o uso do carro dentro da cidade de Espinho, nas deslocações mais longas.
Uso igualmente a bicicleta para ir ver as ondas a algumas praias que ficam mais distantes da praia central de Espinho. Numa vertente mais de lazer e de exercício, uso a bicicleta para passeios mais longos a Maceda ou a Gaia/Porto.
Gosto muito da minha bicicleta porque restaurei-a e acaba por proporcionar um prazer extra no seu uso. A bicicleta para mim é sinónimo de flexibilidade e liberdade, não apenas na nossa deslocação, mas igualmente como forma de mover o corpo, fazer exercício, enquanto gozamos de paisagens únicas, dependendo de onde se viva. No meu caso, nas deslocações mais longas que faço, consigo aproveitar uma vista de praia/mar, assim como floresta quando vou a Maceda.
Sobre os desafios que encontro ao ciclar, destaco o desrespeito pelas ciclovias que mesmo estando demarcadas na via pública, muitas vezes são alvo de estacionamento indevido, sem que haja a devida atenção dada pelas autoridades.
Desde novo que tenho paixão por velocípedes e comecei a utilizar a bicicleta para comutar entre a minha casa e o local de trabalho, há aproximadamente dois anos. O meu local de trabalho fica em Vila Nova de Gaia, e comecei por testar alguns percursos para perceber quais os mais eficientes em termos de distância e esforço físico necessário. Após decidir-me por um dos percursos, comecei a fazer os 10 quilómetros em cada sentido de forma regular. Utilizo uma bicicleta convencional, à qual adaptei um alforge para transporte de bens pessoais. Utilizo sempre capacete e decidi fazer um seguro de Acidentes Pessoais e de Responsabilidade Civil para estar mais protegido.
A minha opção pelo uso da bicicleta deveu-se à necessidade de otimizar e de prever o tempo despendido na deslocação casa-trabalho. No meu caso, utilizando o automóvel, poderia ir de 15 minutos até mais de uma hora, dependendo das condições do trânsito. Como a utilização da bicicleta é mais imune às filas de trânsito automóvel, consigo alocar 55 minutos do meu tempo diário na deslocação. Para além desta vantagem, fui apercebendo-me de outras como, por exemplo, a redução com o custo da utilização do automóvel, a melhor forma física e boa disposição, a utilização do centro da cidade ao invés da via de cintura interna e a capacidade de poder fazer pequenas alterações de percurso conforme a minha vontade ou necessidade. Uma outra vantagem que enumero é a camaradagem que existe entre quem utiliza a bicicleta: diariamente cumprimento e sou cumprimentado por desconhecidos que também utilizam a bicicleta.
Costumo pedalar diariamente, quando a meteorologia permite, e consigo substituir totalmente o automóvel nas deslocações casa-trabalho. A utilização da bicicleta na cidade permite reduzir o tempo de deslocações, anular a emissão de poluentes e economizar algum dinheiro.
Entre os maiores desafios que encontro está a quase inexistência de vias dedicadas à bicicleta, tendo por isso que dividir a maior parte do trajeto com os automóveis, que ainda não estão preparados para o fazer. Muitos condutores ainda veem a bicicleta como algo “menor” e não como um meio de transporte válido. Também posso apontar a reduzida quantidade de locais para estacionar em segurança a bicicleta.
Desde sempre que pratico desporto e juntar bicicleta com a rotina de trabalho foi um duplo ganho. Desloco-me três vezes por semana num percurso combinado de comboio ou de autocarro entre Malveira - Entrecampos (45min) e bicicleta Entrecampos - Avenida Marechal Gomes de Costa (15/20min). No total faço cerca de 10kms. No passado, quando vivia em Lisboa levava o meu filho à creche de bicicleta. Hoje, sempre que consigo, faço o mesmo aqui na Malveira.
O uso combinado comboio/bicicleta veio substituir o carro, apesar de demorar cerca de 1h a chegar ao local de trabalho. Se fosse de carro demoraria, sem trânsito, cerca de 35min (algo que nunca acontece), por isso prefiro usar a bicicleta dentro de Lisboa. Para mim o uso da bicicleta tem imensos ganhos: sei exatamente o tempo que necessito para deslocar-me ao trabalho. Retira o stress do trânsito, de usar o “waze” e de andar sempre à procura do melhor caminho. Tenho tempo para ler ou simplesmente descansar no comboio. Consigo fazer um pequeno exercício quase diário, sem a necessidade de ir ao ginásio.
Fazer o percurso de Entrecampos à RTP é muito agradável, chego a horas ao trabalho, observo a vida na cidade e da natureza que a rodeia. As árvores que estão no percurso fornecem uma ótima sombra no verão (até passo por uma vinha). O facto de ser de bicicleta dá imensa flexibilidade. À sexta-feira, vou tomar o pequeno-almoço numa esplanada. Por vezes, quando saio do trabalho, faço pequenas coisas que de carro seriam mais complicadas por causa do trânsito, passo na padaria, ou simplesmente vou desfrutar ao beber uma cerveja com amigos.
A persistência no uso carro torna a cidade muito caótica. Muitos veem a bicicleta como “complementar” ou "lazer" e não como “alternativa”. Mas no global está muito melhor do que há oito anos, pois, quando comecei a pedalar na cidade, não existiam praticamente bicicletas a circular na Avenida da República. Hoje, já temos um saudável trânsito de bicicletas.
Sou neta e filha de portugueses e estou a morar em Portugal desde 2019. Não estando a chover, prefiro usar a bike todos os dias para deslocar-me ao trabalho, na parte da manhã, e faculdade (onde estou a cursar mestrado) de tarde. Aos finais de semana, pratico Remo no Fluvial Portuense em Gaia e costumo ir de bicicleta. Costumo fazer muitas pedaladas pelo Porto e arredores. Quase sempre acompanhada de amigas. Já fiz uma viagem para o Algarve utilizando apenas comboio e bicicleta e foi fantástica!
Sempre que possível opto pela bike, ao invés de outro transporte. Somente para compromissos sociais ou quando está a chover utilizo o metro ou TVDE. Amo ciclar. A liberdade de parar a qualquer momento e contemplar a vista. Chamar um amigo pelo vídeo para compartilhar uma paisagem. O exercício físico. Já no Rio de Janeiro, onde morava, usava preferencialmente a bike para deslocar-me.
Falta, como é lógico, ciclovias adequadas aqui no Porto. Mas, de um modo geral, os outros condutores costumam ser mais respeitosos e cuidadosos com os ciclistas que no Rio de Janeiro. O que entendo que falta é um serviço de assinatura mensal, a baixo custo, como temos no Rio de Janeiro, que permita usar com mais frequência a BIKE e não limita quem não tem espaço para guardar ou quer fazer somente uma parte do trajeto de BIKE. No Rio, temos um sistema de bicicletas partilhadas, que todos podem usar livremente pelo custo de uma assinatura mensal de R$ 10,00 (cerca de € 1,66).
O nosso obrigado aos cinco ciclistas pelos seus testemunhos. Encontram mais histórias de viagens marcadas pelo uso da bicicleta aqui.
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