A música não é mais do que emoções e sensações através de sons, qualquer pessoa consegue ouvir e a sua sensibilidade vai ser tocada. Este é um dos lemas de Martim Sousa Tavares, o maestro de uma orquestra de jovens músicos residentes no interior de Portugal.
Martim Sousa Tavares não orienta apenas os músicos. Lidera um projeto com um alcance muito vasto e que se pode sintetizar em dois grandes objetivos: apoiar jovens talentos para que prossigam a sua atividade musical e conquistar novos públicos.
"Orquestra 4x4" para quebrar tabus
Uma das facetas é que “tanto atuamos em cidades onde existe uma programação regular como em sítios onde eu posso dizer com toda a certeza que uma orquestra nunca por lá passou.”
Martim Sousa Tavares exemplifica com as “Maratonas de Orquestra de Bolsa em que trabalhamos com os municípios e são eles que identificam quatro a cinco freguesias dentro do seu território onde faz falta esse tipo de iniciativa.
Nós vamos lá, somos uma espécie de orquestra 4x4, todo o terreno, que tanto se adapta a um concerto para um publico de Madrid, como se adapta a um concerto na freguesia de Orjais, p. ex. , onde já tocámos.”
Estes concertos nas aldeias “são pedagógicos, à conversa, para dar ao público as melhores ferramentas possíveis para se relacionar com esta forma de arte e, assim, desenvolver essas comunidades enquanto públicos para música clássica.”
O curioso é que há uma relação biunívoca. As pessoas vão ouvir os músicos com imenso sentido de descoberta e de curiosidade e, por outro lado, “uma das surpresas mais positivas que nós vamos encontrando é o desmantelar da falsa imagem da musica clássica como uma coisa para as elites. Há quem imagine que nós ao tocarmos em aldeias vamos tocar para pessoas que não vão entender a música. Isso está errado. A música que tocamos não é mais do que emoções e sensações através dos sons.
Qualquer pessoa consegue ouvir e a sua sensibilidade vai ser tocada.”
Em pouco mais de um ano a Orquestra Sem Fronteiras já deu mais de 40 concertos, a maioria nos concelhos da raia e alguns nestas pequenas aldeias.
A Orquestra Sem Fronteiras tem sede em Idanha-a-Nova e percorre um território muito mais vasto. Por vezes dão concertos em metrópoles, como por exemplo Lisboa ou Madrid, mas quem quiser assistir a um concerto é mais fácil no interior de Portugal. É o “seu habitat natural”.
Ferramentas digitais, transmissões em direto, podcast e gravações de algumas peças em vídeo são outras formas de estabelecer contato com a OSF.
Para este ano está previsto alargar o leque de atividades entre um vasto grupo de iniciativas que já desenvolvem como por exemplo, formação para público em geral e professores de música e masterclasses de instrumentos. “Vamos ter residências para agrupamentos de Música de Câmara que queiram circular pelo país. Vamos ter projetos de intervenção social através da música.”
O talento dos jovens músicos
Os músicos que compõem a orquestra não são sempre os mesmos. Há uma grande flutuação de forma a que o projeto, o impulso que se pretende dar, seja o mais abrangente possível. As portas estão abertas, exige-se apenas mérito e que os jovens músicos residam no interior. “Para os músicos o nosso regulamento de participação é muito claro.
Há 3 canais. O primeiro é através dos protocolos que temos com os Conservatórios. Têm alunos excelentes. Nós enviamos convocatórias para essas escolas e é o corpo docente que nos responde com os alunos que entende que devemos apoiar.
Outro canal é para os alunos do ensino superior desta região. Podem-se auto propor enquanto alunos residentes no interior.
O terceiro canal são os músicos livres, que podem não estar no ensino oficial ou que já não são alunos, terminaram o ensino oficial e continuam por aqui e não há razão para ficarem de fora.”
O Maestro
O percurso profissional de Martim Sousa Tavares revela uma trajetória interessante e um pouco invulgar. A sua formação foi de 4 anos em Milão e mais dois em Chicago. Não quis criar raízes no Estados Unidos, preferiu regressar a Portugal e apostar num projeto de comunidade.
“Confesso que tinha alguma vontade de abraçar este projeto. Sonhava com ele há algum tempo. Conheço o interior de Portugal, costumava vir para aqui, os meus avós são desta região. Naquele momento achei que era agora ou nunca. Regressei em Setembro de 2018 e a orquestra deu o seu primeiro concerto em Março de 2019.
Quase dois anos depois, traça uma experiência muito positiva e adianta que “a grande satisfação é ver o que isso significa para os jovens músicos que tocam para nós regularmente. Não é só o dinheiro que cada um ganha aqui, ajuda também a dar esperança e a fazer carreira na música clássica em Portugal. Porque se vão entrosando, vão crescendo, a orquestra começa a ganhar as suas próprias práticas.
Apesar de em cada projeto termos alunos que estão a participar pela primeira vez começa a haver um modo de fazer que é nosso e os músicos que já sabem, já ouviram falar. O ambiente é muito positivo.”
Calendário dos próximos concertos:
23 de Janeiro - Fundão, Auditório d'A Moagem
24 de Janeiro - Idanha-a-Nova, Centro Cultural Raiano
30 de Janeiro - Alcobaça, a convite da Academia de Música de Alcobaça
31 de Janeiro - Belmonte, Auditório da Santa Casa Misericórdia de Belmonte
O concerto universal da Orquestra Sem Fronteiras faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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