A ilha inglesa
O Monte St. Michael funcionou durante centenas de anos como um importante entreposto comercial para onde o estanho, habilmente trabalhado, era trazido das minas da Cornualha para ser vendido aos comerciantes estrangeiros. Porém, com a chegada do cristianismo à Grã-Bretanha, este lugar que oferecia uma boa posição defensiva e oportunidade de reclusão, começou a atrair homens de fé que aqui construíram uma igreja dedicada a São Miguel Arcanjo, pela primeira vez em 495 d.C.
Um mosteiro surgiu algumas centenas de anos depois — também dedicado a São Miguel Arcanjo. Já no século XIX, Sir John St Aubyn — cuja família foi proprietária da ilha durante dois séculos – transformou a sua casa de verão gótica numa habitação digna de um herói wagneriano, amplificando o charme e o romantismo do local.
Com o passar do tempo, a família acabou por ceder a maior parte da ilha ao National Trust, mas manteve um contrato de arrendamento de 999 anos, assinado em 1954, para continuar a viver no castelo e gerir os rendimentos provenientes do turismo. Assim, hoje continuam a viver em St. Michael os membros da família, James e Mary St Aubyn, também conhecidos como Lord e Lady St Levan, bem como os seus filhos.
Monte St. Michael e Monte Saint-Michel, a história partilhada
Semelhante ao seu homólogo francês, o Monte St. Michael é, com o seu castelo, mosteiro e jardim, um local icónico na Cornualha. É uma ilha tão fascinante quanto a sua irmã gémea normanda, com a qual, aliás, partilha uma história comum.
Na verdade, não é por acaso que estas duas ilhas rochosas são tão semelhantes: os 13 séculos da sua existência estão cheios de ligações, mitos e coincidências.
Na Normandia, uma lenda conta como na noite de 16 de outubro de 708, o Arcanjo São Miguel apareceu ao bispo Aubert de Avranches, instruindo-o a construir um edifício em sua homenagem. Na Cornualha a lenda é semelhante e conta como em 495, pescadores viram o mesmo Arcanjo a sair da água e pedir-lhes para construirem uma estrutura em sua homenagem.
Separadas por 330 km e pelo Canal da Mancha, as duas ilhas acabaram por se tornar locais de peregrinação populares, devido a estas lendas, mais ou menos ao mesmo tempo, no século VIII, mas a sua história cruzada não fica por aqui. Quatro séculos mais tarde, por volta de 1130, um monge normando, o Abade Bernard, veio do Monte Saint-Michel para o Monte St Michael e mandou construir um mosteiro beneditino na ilha inglesa, seguindo exatamente o modelo daquele que já existia ao largo da costa francesa.
Os destinos das duas ilhas separaram-se finalmente em 1425, quando, no auge da Guerra dos Cem Anos, o mosteiro da Cornualha foi tomado pela Coroa inglesa. Ao mesmo tempo, o Monte Saint-Michel, também cercado pela frota inglesa, resistiu aos ataques e tornou-se o símbolo nacional francês de resistência contra os ingleses.
As atrações do Monte St. Michael
Poucos locais na costa da Grã-Bretanha são tão românticos como a ilha do Monte St. Michael.
Situada em frente à vila piscatória de Marazion, em Mount’s Bay, a ilha rochosa, hoje coroada por uma igreja e uma fortaleza, propriedade da família St Aubyn há mais de 350 anos, abriga ainda o antigo mosteiro do século XII e uma capela do século XV. O castelo que pode ser visitado pelo público em geral, é uma mistura de estilos e géneros que vão desde um alpendre Tudor, a um salão rococó-gótico do século XVIII e a uma sala de jantar que lembra um mosteiro medieval.
No entanto, a peça mais bonita do cenário continua a ser o jardim em terraço, cheio de canteiros com plantas subtropicais, que oferece vistas espetaculares sobre a baía circundante.
O porto, lojinhas locais, cafés charmosos e a própria passagem entre a praia de Marazion e a ilha são igualmente atrações que conquistam os visitantes.
Como chegar
O Monte St. Michael localiza-se ao largo de Marazion, na costa sul da Cornualha, a dez minutos de carro de Penzance (em Londres pode apanhar um comboio para Pezance).
Se conduzir até Marazion, tem um estacionamento de longa duração em Folly Field onde pode deixar o carro assim que entrar na vila. Também pode chegar de autocarro ou caminhar pela costa desde Penzance até Marazion.
Uma vez na praia de Marazion, são 5 minutos de caminhada até à ilha – mas tenha atenção de cronometrar as marés. O site www.stmichaelsmount.co.uk/getting-here tem horários de abertura e fecho do caminho que conduz ao Monte Saint Michael.
O Monte St. Michael é uma ilha de maré. Isto significa que na maré baixa, pode-se alcançar a ilha a pé e durante a maré alta atravessar de barco. A passagem faz parte do seu charme, mas também pode representar um desafio. Os barcos apenas funcionam de 1 de Abril a 31 de outubro — não estão disponíveis no inverno quando ventos fortes e/ou mar agitado obrigam muitas vezes a fechar o acesso à ilha.
Na maré baixa, chegar ao monte demora apenas 15 minutos a pé a partir da vila de Marazion onde se inicia um bonito caminho de paralelepípedos utilizado pelos peregrinos desde o século VIII.
Não há nenhum custo para visitar o Monte St. Michael durante a época baixa (meses de inverno), mas é sempre preciso pagar para entrar no castelo. Durante a pandemia de Covid para diminuir o número de visitantes foi introduzida uma taxa para visitar a ilha de maio a setembro que se mantém até hoje.
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