Estava na hora de deixar as vertigens de lado e vestir o fato de neoprene e as botas. Para finalizar, o capacete e um arnês bem apertado, que seria a nossa maior segurança durante a descida da ribeira. O canyoning consiste na progressão de um rio ou ribeira através de técnicas de montanhismo, como o rapel e escalada.

“Estás nervosa?”, pergunta Luís Paulo Bettencourt, guia e fundador da Aventour Azores Adventures, que, juntamente com a guia Catarina e o guia Tiago, nos acompanharam no percurso de forma muito serena e segura. Era impossível esconder o nervoso miudinho antes do batismo de canyoning.

Antes de arrancar, Luís enumera as três regras de ouro do canyoning: “o guia vai sempre à frente; caminhamos sempre em linha reta, mantendo o contacto visual com os outros participantes; temos sempre a opção de dizer não”. Ou seja, podemos sair da atividade (naquela ribeira existiam quatro saídas de emergência) ou, caso não estejamos a conseguir fazer uma descida ou dar um salto, os guias apresentam outras opções.

Era capaz de descer uma cascata de 25 metros? Foi o que fizemos na ilha de São Jorge
Era capaz de descer uma cascata de 25 metros? Foi o que fizemos na ilha de São Jorge Catarina e Tiago, os guias que nos acompanharam no batismo de canyoning créditos: Aventour

Botas na água, começamos a progressão pela ribeira de São Tomé. Pé ante pé, tentamos manter o passo firme e vamos pisando nas rochas maiores e secas. Paramos na primeira cascata e recebemos mais algumas instruções de segurança e sobre o equipamento. É essencial perceber como funciona a técnica de rapel para descer as cascatas.

Um pequeno desequilíbrio no início deixou-nos os sentidos em alerta. A seguir, foi respirar fundo, deixar o corpo cair para trás, estabilizar as pernas e começar a descida, sem esquecer de ir dando folga na corda. Em cima, Catarina ia enviando apoio e instruções, em baixo, Tiago ia controlando o processo.

Primeiro desafio concluído com sucesso. Seguir-se-iam mais três descidas de quedas de água. A segunda e mais alta, com 25 metros de altura. Uma bela cascata a escorregar pela rocha negra. Difícil é começar, depois, com calma, vemos que só existe um caminho: para baixo, embora o melhor seja olhar para cima. Ouvimos o som da água a correr e apreciamos a paisagem. Para terminar em beleza, um salto de três metros para um poço de águas cristalinas.

Era capaz de descer uma cascata de 25 metros? Foi o que fizemos na ilha de São Jorge
Era capaz de descer uma cascata de 25 metros? Foi o que fizemos na ilha de São Jorge Descida de uma das cascatas créditos: Aventour
Era capaz de descer uma cascata de 25 metros? Foi o que fizemos na ilha de São Jorge
Era capaz de descer uma cascata de 25 metros? Foi o que fizemos na ilha de São Jorge Cenário natural fantástico da ilha de São Jorge créditos: Aventour

Seguimos para uma das saídas da ribeira, enquanto Luís e o casal de canadianos que também nos acompanhou na primeira parte do canyoning continuaram para mais uma progressão que iria durar cerca de duas horas e meia.

Quando os níveis de adrenalina começaram a baixar, sentimos uma sensação de dever cumprido e ficamos contentes por termos saído da nossa zona de conforto, experimentando uma atividade que permite um contacto único com a natureza. Em momento algum, pensamos em utilizar a regra de ouro número três, graças ao trabalho impecável da equipa da Aventour durante o percurso.

São Jorge, uma referência no canyoning

A ilha das fajãs é, atualmente, conhecida pela aventura. Mas nem sempre foi assim. No final da década de 1990, quando Luís Paulo Bettencourt fundou a sua empresa, “um sonho que vinha desde os tempos de escola”, o turismo de aventura era algo pouco difundido em Portugal. “Agora está na moda”, diz o jorgense, nascido e criado na ilha, “com muito orgulho”.

São Jorge, uma referência no canyoning
São Jorge, uma referência no canyoning Luís a descer uma cascata na ilha de São Jorge créditos: Aventour

Luís foi um pioneiro da modalidade nos Açores, aos 12 anos “fugia” para as ribeiras com um “capacete de obras” que roubava ao pai. Em 2000, fez o primeiro curso de canyoning que existiu no arquipélago, depois, fez o curso da Federação Francesa de Canyoning e, atualmente, frequenta a International Academy of Canyoning. “Não podemos descurar de nada, temos a vida das pessoas nas nossas mãos”, refere.

Apesar de ser considerado uma atividade de “alto risco”, o canyoning pode ser praticado por qualquer pessoa, “desde que seja saudável e não tenha grandes limitações físicas”. Há cada vez mais visitantes que procuram a Aventour para experimentar esta modalidade. “O batismo é o que fazemos com mais frequência, atualmente”.

Existem também praticantes experientes, “na sua maioria, franceses, espanhóis e italianos”, que vêm à ilha para fazer canyoning de forma autónoma, mantendo o contacto com Luís, que conhece os acessos de entrada e saídas das ribeiras.

Uma das particularidades da ilha de São Jorge é que muitas das ribeiras exigem longas caminhadas e saídas para o mar, sendo necessário a presença de um barco para buscar os praticantes. Progressões exigentes para níveis técnicos elevados. “Existem canyonings que podem durar 12 horas”, conta Luís.

São Jorge, uma referência no canyoning
São Jorge, uma referência no canyoning Luís a descer uma cascata na ilha de São Jorge créditos: Aventour

Todos estes fatores, aliados à beleza natural e às vistas que se têm durante a prática da atividade, fazem de São Jorge, juntamente com a ilha das Flores, uma referência para a prática da modalidade.

Durante esta semana estamos a desvendar alguns encantos da ilha das fajãs:

O SAPO Viagens visitou São Jorge a convite do Turismo dos Açores