A viagem a Coimbra estava planeada há algum tempo, mas nada fazia prever que de véspera fosse dormir tão poucas horas. Saí de Lisboa pelas 9:30h e do par de horas de caminho até à Cidade dos Estudantes, pouco ou nada me lembro. Coimbra estende-se nas margens do Mondego ao longo de uma encosta que nos leva a distinguir a parte baixa, da alta da cidade.
O Vila Julieta Guesthouse, onde iria passar a noite, estava a pouco mais de 900 metros da Estação Rodoviária.
Enganei-me ao pensar que 900 metros era coisa pouca, tal como estava equivocado quando achei que os 200 metros que separam o Parque Manuel Braga da Mata do Jardim Botânico se percorriam em poucos minutos. Quem for a Coimbra já sabe: é sempre tudo a subir. Mas claro, o caminho inverso é sempre a descer, e mesmo se estiver a pé, por favor, trave com o motor.
Parque da Cidade Manuel Braga
Uma vez que o Vila Julieta Guesthouse está situado na parte alta da cidade, decidi visitar o centro histórico de baixo para cima. Comecei junto ao Mondego, no Parque da Cidade Manuel Braga.
No passado, o espaço foi várias vezes alvo de inundações. Agora, já não há conflito entre as águas do rio e as árvores do parque.
As crianças partilham momentos com os pais junto ao coreto. Nos bancos, há quem esteja na companhia de um livro ou simplesmente a ouvir partes de conversas de quem por ali passa, que se misturam com o som dos carros que percorrem a estrada que segue em direção ao Largo da Portagem.
Também eu sigo na mesma direção, mas o meu destino é a Praça do Comércio.
Praça do Comércio
Há uma Praça do Comércio em Lisboa, outra em Coimbra, e sendo elas distintas em praticamente todos os aspetos morfológicos, o tamanho talvez seja uma das principais diferenças. A Praça do Comércio em Coimbra é relativamente pequena.
Os artistas independentes, que lá se instalam para permitir que os turistas tenham uma experiência agradável na cidade, tornam o espaço ainda mais acolhedor. Num dos extremos da praça está a Igreja de São Bartolomeu.
No outro está a Igreja de S. Tiago.
À volta do espaço há várias lojas e restaurantes. Curioso é o facto de a Praça do Comércio ter sido construída fora das muralhas da cidade. Aqui, os comerciantes podiam vender sem pagar impostos.
Praça 8 de Maio
Ainda na Praça do Comércio, junto à Igreja de S. Tiago, subo as escadas para chegar à famosa Praça 8 de Maio.
No dia que lhe dá nome, em 1834, as tropas liberais do Duque da Terceira invadiram Coimbra e as ordens religiosas foram extintas.
Mosteiro de Santa Cruz
O Mosteiro de Santa Cruz ficou inativo após a extinção das ordens religiosas, mas o legado histórico perdura até aos dias de hoje. Foi fundado em 1131 e é lá que se encontram o túmulo de D. Afonso Henriques e do filho, D. Sancho I. O poeta, Luís de Camões, estudou neste mosteiro, que ficou reconhecido como um importante centro de estudos teológicos.
Tive ainda oportunidade de entrar na igreja, cujas obras se prolongaram por quase mais um século depois da fundação do Mosteiro de Santa Cruz.
Deixo agora a Praça 8 de Maio e sigo pela Rua Visconde da Luz e pela Rua Ferreira Borges até me deparar com o Arco de Almedina.
Arco e Torre de Almedina
O Arco de Almedina remete-nos para o tempo da ocupação islâmica. Esta é a porta de entrada na cidade muralhada. São muitos os que param para tirar uma fotografia com o arco e a torre como pano de fundo, mas são poucos os que sabem que aquilo que vemos atualmente resulta de uma reforma feita a pedido de D. Manuel I, no início do século XVI.
A Rua do Quebra-Costas faz a ligação entre a parte baixa e alta de Coimbra.
Depois de a subir, faço um desvio à esquerda para visitar a Torre do Anto.
Torre do Anto
No interior da Torre do Anto pode-se visitar o Núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra. O nome Anto vem de António, já que o poeta António Nobre morou nesta torre entre 1888 e 1890, no período em que frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Regresso à Rua do Quebra Costas porque, agora sim, estou a chegar à Sé Velha de Coimbra.
Sé Velha
A Sé Velha surpreende não só pela sua imponência, mas também por ter sobrevivido relativamente intacta até a atualidade. O claustro é conhecido por ser uma das primeiras obras góticas em Portugal. A Sé Velha foi também o palco da coroação de D. Sancho I.
Sé Nova
Depois da Sé Velha é obrigatório ir à Sé Nova, até porque a primeira perdeu o estatuto de Sede Episcopal para a segunda, em 1772. A Sé Nova foi casa dos jesuítas da Companhia de Jesus entre 1598 e 1759. Nesse ano, Marquês de Pombal extinguiu a Companhia de Jesus e a Sé Nova ficou também ela extinta.
Biblioteca Joanina
Apesar do cansaço acumulado nas pernas, não posso abdicar de entrar no Pátio da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra para espreitar o portal da Biblioteca Joanina.
A beleza da arte barroca surge desvalorizada pelo facto de o edifício estar em obras. No entanto, a biblioteca não deixa de ser uma das mais “ricas” da europa.
D. João V autorizou a sua construção e é por isso que no Piso Nobre podemos encontrar um retrato do rei, pintado por Domenico Duprã. Lá dentro estão à disposição mais de 200 mil livros, guardados por uma colónia de morcegos que impedem que as traças consumam as histórias que desejamos poderem ser lidas pelas gerações vindouras.
Jardim Botânico
O passeio por Coimbra está a chegar ao fim e resta-me agora visitar o Jardim Botânico.
Não percorri os seus 13, 5 hectares, mas à medida que fui avançando dei por mim a entrar na zona de mata e a entusiasmar-me com os caminhos que por ali ia encontrando.
Quando quis voltar para trás, estava de novo na zona baixa da cidade. Assim sendo, há que voltar a subir tudo para chegar ao Vila Julieta Guesthouse. É o que eu digo: Coimbra faz-se a pé, mas só para quem tem boa pedalada.
A estadia do Miguel foi oferecida pelo Vila Julieta Guesthouse.
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