Estive em Évora pela primeira vez algures em outubro do ano passado. Pensei que uma tarde chegava para visitar toda a cidade e a verdade é que consegui fazer tudo aquilo que tinha previsto. Da minha lista já tinha riscado a Igreja de São Francisco e a Capela dos Ossos, a Praça do Giraldo, o Templo Romano, o Jardim Público, a Universidade e o Palácio Cadaval.
Sabia que lá teria de voltar uma segunda vez, nem que fosse pelo facto de não ter ido ainda à Catedral e ao Museu de Évora, entre outros locais que os leitores vão descobrir que eu ainda não descobri. No entanto, só tive a certeza de que voltar a Évora tinha sido efetivamente a escolha certa já depois de ter comprado o bilhete de autocarro e de saber que a Silvia e a Mara me iriam acolher no Old Évora Hostel, para não cometer novamente o erro de passar apenas uma tarde na cidade.
É que dias antes, um amigo de seu nome Filipe e natural da vila alentejana dos famosos tapetes (Arraiolos) alertou-me para a existência de casas dentro das arcadas do Aqueduto Água de Prata.
Foi aí que percebi que em outubro tinha tido tempo para visitar alguns dos pontos de maior interesse, mas os pormenores que se veem apenas a passear tinham escapado. A segunda visita a Évora valeu a pena, mas terá de haver uma terceira porque, por cinco minutos, não consegui chegar a tempo da última entrada no Museu Frei Manuel do Cenáculo, também conhecido por Museu de Évora.
Igreja do Convento de Santa Clara
Assim que saí da Estação Rodoviária limitei-me a andar em frente. Entrei nas muralhas de Évora e sem saber encontrava-me na Rua Serpa Pinto, onde se situa o Convento de Santa Clara.
A porta da igreja estava aberta e descobri que lá dentro havia uma exposição fotográfica sobre os Cristãos Perseguidos, que despertou a minha curiosidade.
O convento e a igreja foram casa de freiras clarissas, tendo esta sido a última comunidade religiosa a encerrar em Évora. Estávamos no ano de 1903. A partir daí, o edifício do convento foi Quartel de Infantaria, Escola Industrial e Preparatória.
Deixo agora a Igreja e percorro o resto da rua até chegar à Praça do Giraldo.
Praça do Giraldo
À semelhança da Rua Serpa Pinto, as restantes sete estradas que desembocam na Praça do Giraldo estão representadas nas oito bicas que se podem ver na fonte de estilo barroco, o principal cartão de visita da praça.
Antigamente era conhecida como a Praça Grande de Évora. Não é que tenha deixado de ser grande, mas uma grande pessoa, Geraldo Geraldes – O Sem Pavor, mereceu ser ali homenageado por ter conquistado Évora aos mouros em 1167.
Como já se consegue perceber, quem estiver na Praça do Giraldo e quiser continuar a sua visita à cidade tem oito caminhos diferentes para escolher.
Eu virei logo à esquerda, para que pudesse riscar da minha lista o Aqueduto Água de Prata.
Aqueduto Água de Prata
Quando terminou de ser construído, em 1537, tinha cerca de 18 km de comprimento, estendendo-se desde a Herdade da Prata até à fonte com os leões de mármore, que se encontrava no lugar onde hoje está a fonte da Praça do Giraldo.
Quase no fim do seu curso, na Rua Nova, podemos encontrar também a Caixa de Água do aqueduto, um legado do renascimento em Portugal.
Sigo agora na direção da Sé de Évora, não sem antes apreciar o Templo Romano, algo que fiz mais do que uma vez ao longo deste dia.
Templo Romano
Na primeira vez que vim a Évora estranhei o facto de nas placas informativas referirem sempre Templo Romano, em vez de Templo de Diana.
O mistério ficou depois resolvido e desta vez já olhei para o monumento que é Património Mundial da Unesco com olhos de quem já sabe que foi construído no século I d.c em homenagem ao Imperador Augusto e não a Diana, deusa romana da caça.
Do Templo Romano passo para a Catedral.
Sé de Évora
Há quem lhe chame apenas Sé, mas o seu verdadeiro nome é Basílica Sé de Nossa Senhora da Assunção e é a maior catedral medieval de Portugal.
A sua construção remete-nos para o intervalo de tempo entre 1186 e 1250, pelo que não apresenta um estilo arquitetónico único. Há um pouco de tudo: românico, gótico, barroco e renascentista.
O claustro, a igreja e o Museu são pontos obrigatórios, mas a vista da Torre para a cidade é o que mais surpreende e eu corri o risco de não poder usufrui-la.
Tudo porque depois de se comprar o bilhete, a visita começa logo virando à direita em direção à Torre e eu limitei-me a ir em frente, começando assim pelo claustro.
Ao sair da Sé podia ir logo até à Universidade, já que fica ali perto, mas preferi ir primeiro à Igreja de São Francisco e à Capela dos Ossos.
Capela dos Ossos
Posso já dizer que não entrei na Igreja de São Francisco, uma vez que um aglomerado de pessoas estava à porta a aguardar o início de um casamento. O mesmo aconteceu mais tarde na Igreja do Espírito Santo, onde me deparei com a noiva já a entrar de braço dado com o seu pai.
Fico-me, portanto, pela Capela dos Ossos sem me queixar, dado que esta é uma das visitas obrigatórias para quem vem a Évora. O espaço é sinistro, mas a animação dos curiosos que ali se encontram a observar as mais de 5 mil caveiras que preenchem as paredes da sala tornam a experiência bastante leve.
As crianças questionam, os adultos tiram fotografias e todos saem da Capela dos Ossos a refletir sobre a brevidade da vida humana, nem que seja pela expressão que está escrita à entrada: “Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”.
Nos pisos superiores do edifício onde se ergue a Capela dos Ossos podemos visitar o Núcleo Museológico de Arte Sacra. Ainda assim, antes de subir as escadas há que parar para apreciar o presépio que representa o hipotético cenário de Jesus ter nascido em Évora.
Logo ali ao lado está o Jardim Público de Évora, pelo qual não poderia deixar de passar.
Jardim Público
O Jardim Público de Évora tem de tudo: bancos para sentar junto ao coreto, caminhos para passear, parque de merendas e lugares com história. Foi construído entre 1863 e 1867.
Ao percorrê-lo estamos a conhecer um espaço que outrora foi a horta do Palácio Dom Manuel.
O edifício permanece intacto e logo ali ao lado estão as Ruinas Fingidas de Cinatti, entre as quais não é preciso muita sorte para encontrar pavões.
O relógio aproxima-se das cinco da tarde e corro agora para o Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, que está mesmo quase a fechar. Ainda fui a tempo de entrar no museu, mas não passei da bilheteira. Passavam agora cinco minutos das cinco da tarde e já não era possível fazer a visita. As coleções de arte e arqueologia ficam para uma próxima.
Passo então para a última paragem do meu passeio: a Universidade de Évora.
Universidade de Évora
O portão está aberto e entro sem hesitar no edifício da Universidade de Évora.
Não está lá ninguém, não só por ser fim de semana, mas também porque as aulas já terminaram. Atrás de mim está apenas uma família que segue os meus passos, talvez por pensarem que conheço bem aquele sítio. Percorro a segunda universidade fundada em Portugal sem nenhum tipo de orientação.
O polo de Évora foi criado a pensar na necessidade de servir a população do sul do país em termos de ensino, uma vez que em 1537 tinha sido fundada a Universidade de Coimbra. A ideia foi de D. João III, mas foi o Cardeal D. Henrique quem a colocou em prática, ao fundar o Colégio do Espírito Santo, que mais tarde deu origem à universidade.
O meu passeio terminou ali e chegou a hora de voltar ao alojamento, não sem antes passar pelo jardim junto ao Templo Romano, onde pude observar o pôr do sol.
Quem estiver com carro pode sempre deslocar-se até ao Alto de São Bento, também conhecido como o Miradouro da Cidade. A sugestão não é minha, mas sim da Mafalda, que tão bem me recebeu no Old Évora Hostel, onde fiquei a dormir nesse fim de semana.
(A estadia em Évora foi oferecida pelo Old Évora Hostel. O roteiro conta ainda com o apoio da Diocese de Évora, Igreja de São Francisco e Museu de Évora, que me ofereceram as entradas na Catedral, Capela dos Ossos e Museu de Évora, respetivamente.)
O Miguel estuda jornalismo, pratica esgrima e nos tempos livres escreve sobre as viagens que faz no seu blog, Ponto de Fuga, onde uma versão deste artigo foi originalmente publicada.
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