O inverno pode não ser a época mais popular do ano para viajar e é verdade que as baixas temperaturas, a chuva e a neve podem desencorajar completamente os passeios, mas garanto-vos que o pequeno desconforto é rapidamente esquecido quando tens oportunidade de conhecer cidades como Vilnius, a capital da Lituânia, que, debaixo de um manto branco de neve, parece ainda mais encantadora.
Não há melhor momento para visitar o centro histórico de Vilnius, Património Mundial da UNESCO, do que pela manhã, quando o sol nascente rompe com os seus raios a neblina densa e faz brilhar os telhados cobertos de neve, dando a todo o cenário uma atmosfera indistinta, quase mágica. Podemos caminhar a pé, por ruas praticamente desertas, e descobrir com calma a beleza arquitetónica de Vilnius e as suas influências polacas e russas. A principio é um pouco melancólico, até triste, principalmente quando passamos por Vilna Ghetto: o gueto judeu, estabelecido pela Alemanha nazi onde mais de 200.000 judeus lituanos sofreram os horrores da Segunda Guerra Mundial.
É difícil de imaginar o horror e o nível de devastação que aconteceu naquele lugar, agora em silêncio e sob uma espessa manta de neve intocada…
Aos poucos, contudo, a cidade vai despertando e os cafés começam a abrir, chamando-te para uma chávena de café quente que promete aquecer a alma. De repente Vilnius ganha vida! Toda a gente parece sair à rua e convergir pela Rua Pilies para a Praça da Catedral. Eu também me dirijo para lá.
A Catedral Basílica de Santo Estanislau e Santo Ladislau é um importante símbolo da cristianização desta região. Chegou a ser um templo pagão de adoração a Perkūnas (deus báltico), mas hoje alberga esculturas e frescos que evocam a vida e as histórias dos santos cristãos.
A Lituânia foi um dos últimos países pagãos da Europa a converter-se e, reza a lenda, que para isso acontecer a igreja teve de oferecer ao povo lituano camisas grossas de lã. Como as camisas eram muito valiosas na época, alguns “empreendedores” decidiram batizar-se várias vezes, em diferentes aldeias da região, para adquirir mais roupas. Os batismos em massa também fizeram com que vilas inteiras recebessem o mesmo nome cristão, criando grande confusão na comunidade.
A catedral é belíssima e merece mesmo uma visita. Na sua fachada encontram-se três esculturas de Kazimierz Jelski: São Casimiro a sul, São Estanislau a norte e Santa Helena ao centro. Estas esculturas foram removidas em 1950 e repostas em 1997. A escultura de São Casimiro simboliza a Lituânia, a de São Estanislau a Polónia e a de Santa Helena a Rússia.
À esquerda da Catedral fica a Torre do Sino, construída no século XIII. Já fez parte da muralha defensiva de Vilnius, mas agora serve como campanário. É enorme e parece mais um foguetão prestes a levantar voo, do que um campanário de igreja.
Ali próximo fica o Palácio dos Grão-Duques, a Torre do Castelo de Gediminas e o Parque Kalnai, três das atrações da cidade.
Dentro do Parque, localizado no alto de uma colina, ergue-se como um protetor de Vilnius, o Monumento das Três Cruzes, construído para homenagear 14 mártires franciscanos que ali foram massacrados. Foi demolido pelo regime soviético, mas durante o Movimento de Reforma da Lituânia, foi reconstruido e hoje mantém-se como um símbolo da identidade do país e da sua resistência à opressão.
Outros destaques de Vilnius incluem a Rua Literatù, que presta homenagem aos escritores lituanos; a impressionante Igreja de Santa Ana, com a sua grandiosa arquitetura gótica, que segundo a lenda, impressionou tanto Napoleão que este quis levá-la consigo para Paris; o antiquíssimo Mosteiro da Santíssima Trindade e uma moderna e estranha atração chamada “A Barriga da Sorte”.
A Barriga da Sorte foi criada pelo escultor Romas Kviints e está localizada no centro da cidade, na rua Vilnius.
A escultura é baseada numa velha história sobre um presidente da câmara de Vilnius, que, no século XIX, se interessou por saber como, de uma família muito muito pobre, tinham saído dois filhos talentosos e de grande sucesso: um deles tornou-se um comerciante rico e o outro um famoso joalheiro. Intrigado, o presidente perguntou à mãe dos jovens o que ela tinha feito para eles serem tão bem sucedidos na vida. Ela respondeu-lhe : “aquilo que você acaricia, prospera, por isso todas as noites eu esfregava a barriguinha dos meus filhos”.
Hoje a tradição manda que para ter sorte devemos esfregar a barriga de Vilnius e eu não me fiz rogada, esfreguei bastante a barriguinha.
A barriga foi um momento divertido, mas o lugar que achei mais fascinante e extraordinário nesta cidade foi a boémia República de Užupis!
Užupis é um bairro de Vilnius conhecido por ser o lar de poetas, pintores, músicos e todo o tipo de artistas. Arte urbana, galerias de arte, workshops e cafés estão um pouco por todo o lado.
Não é um bairro grande e está separado da Cidade Velha pelo rio Vilnia. Temos de atravessar uma ponte para lá chegar e no caminho podemos ver a Sereia de Užupis, uma escultura em bronze que está pendurada num nicho da margem.
Quando chegamos a Užupis descobrimos que, em 1998, os moradores estabeleceram a República de Užupis, com bandeira, unidade monetária, presidente e constituição próprios, além de um exército (com aproximadamente 12 homens). Eles celebram esta independência anualmente, no dia 1 de abril.
Como podem ver, esta declaração de independência não é para levar demasiado a sério e basta ler os artigos da constituição de Užupis, que está pendurada numa das suas ruas para perceber isso. Pérolas como — “Todos têm o direito de ser amados, mas não necessariamente.”; "Os homens têm direito de viver ao lado do rio Vilnia, e o rio Vilnia tem o direito de correr ao lado dos homens"; "Todos têm o direito de comemorar ou não o seu aniversário" e "Um cão tem o direito de ser um cão”, — já vos dão uma ideia.
Depois de caminhar por Vilnius durante horas eu estava a congelar de frio, mas sentia-me feliz e totalmente conquistada pelo charme excêntrico da cidade onde até o "Galo do Porto" encontrei - vejam a galeria de fotos acima para descobrir do que estou a falar.
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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
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