1. Como/quando começou o “bichinho” das viagens?
Entre o ‘bichinho’ e a concretização dos sonhos mediou extenso espaço temporal. Com uns 10 anos de idade tinha um jogo de tabuleiro com as bandeiras de todos os países do Mundo: as minhas viagens começaram em fantasias e curiosidades sobre o simbolismo dos seus desenhos e nomes. Quirguistão, Tuvalu ou Barbados eram alguns dos que mais atenção me inspiravam, tal como a bandeira ‘recortada’ do Nepal. Depois fui querendo saber mais e mais sobre o Mundo…
Como a generalidade dos portugueses, só quando comecei a trabalhar pude iniciar a exploração do Mundo. Aos 20 e muitos calcorreei a Europa quase toda e aos 30 atirei-me para todas as latitudes.
Continuo a privilegiar saltar de Continente em Continente, sem repetir o mesmo duas viagens consecutivas, para estar mais desperto e sensível às nuances de cada um.
2. Além de viajar, gosta muito de…
Experimentar nova gastronomia, com vinho (tinto) na mão e uma mesa repleta de amigos… ou de estranhos.
Conversar com desconhecidos, ouvir as suas histórias, aprender com as suas experiências, normalmente mais ricas quanto mais velhos os interlocutores.
Escrever.
Música, sem a qual não existo. Fotografia. Ler.
Olhar para tudo (objetos e situações) em diferentes perspetivas.
Partilhar nas universidades e escolas secundárias a bagagem que as viagens nos dão, com o mote “Mundo, o teu melhor currículo”. Inspirar e ajudar os jovens a alargar os seus horizontes, fazer o que gostava que tivessem feito por mim.
3. Quantos países já visitou?
Por si só, o número é irrelevante, até porque, habitualmente, só temos o ensejo de visitar uma parte de um país, não a sua totalidade. Não coleciono carimbos, mas histórias, experiências… que no segundo semestre de 2020 estarão relatadas no meu primeiro livro de viagens no qual levarei os leitores a mais de 50 países, em crónicas diversificadas nos cinco Continentes.
A COVID-19 fez-me parar no país 113, a esmagadora maioria visitados várias vezes. O 114 seria o Equador em abril, incluindo Galápagos. A pandemia estragou-me o projeto, somente adiado para 2021.
Passei a contar mentalmente os países quando coloquei um mapa no site www.bornfreee.com e me disseram que já tinha ido a 97. Depois, foi fácil continuar atualizado…
4. Viagens mais marcantes e porquê?
TODAS me marcaram, sobretudo as mais desafiantes logisticamente, as que me tiram o chão e me atiram para um qualquer ‘vazio’, incerteza. Gosto das viagens que mexam (literalmente) com todos os meus sentidos e de destinos pouco ‘desejados’, menos convencionais, onde o turismo é bem limitado.
ADORO toda a América do Sul e Central, é a minha ‘cara’, essencialmente pelas pessoas fantásticas, cultura e paisagens únicas, contudo as jornadas mais impactantes poderão andar por África.
O Sudão pela genuinidade de um país altamente estimulante e com gente extremamente afável, a Etiópia pela riqueza da sua diversidade (a Depressão de Danakil é uma região única no planeta), o Senegal por ser um país com tantas pérolas que nos permitem para fazer um colar. A Argélia uma surpresa por explorar…
Não posso esquecer o Bangladesh, nomeadamente um projeto no maior campo de refugiados do Mundo, que alberga os Rohingya em Kutupalong.
Quem ama particularmente as pessoas - a cultura, arquitetura, gastronomia… - tem obrigatoriamente de mencionar o Irão. Sim, não há experiência igual à que nos proporcionam os nossos amigos persas.
5. Destino que quer regressar e porquê?
Por distintos motivos, a TODOS, até aqueles onde nunca fui ‘in loco’. Represento os meus inúmeros desejos na Nova Zelândia, Patagónia e Terra do Fogo (Argentina/Chile), por simbolizarem as mais incríveis paisagens na Terra. Na Depressão de Danakil (Etiópia) por ser o lugar mais incrível e desafiante que possamos imaginar, um esfoliar de alma e um teste à nossa essência e resistência. O Bangladesh porque quero saciar as saudades da singular velha de Daca e, principalmente, perceber o que mudou na vida dos refugiados Rohingya em Kutupalong. A Arábia Saudita ainda está pouco explorada e foi lá que me apaixonei perdidamente pela antiga Jeddah (Al Balad)... Já falei da inacreditável Sibéria?
Dito isto, qualquer destino ‘B’, menos óbvio e mais genuíno, tem bom potencial para me fazer querer regressar.
6. Próximos destinos e expectativas. Tendo em conta a atual conjuntura, como acha que vão ser as viagens durante e pós-COVID-19?
Por paixão - e convicção, pois temos todos a responsabilidade de ajudar o nosso país - creio que em 2020 é mesmo para cumprir o #EuFicoEmPortugal que lançámos na ABVP – Associação de Bloggers de Viagem Portugueses. Estou a AMAR redescobrir uma nação que a cada dia me surpreende com tudo o que tem feito de nós o melhor destino do Universo conhecido.
Ainda assim, não posso negar o ímpeto de querer ‘partir’ e, neste momento, a minha prioridade para o futuro é o Paquistão. Está na hora de obedecer ao desejo de me ‘perder’ na sua ruralidade…
Já todos percebemos que a COVID-19 vai durar e mudar o mundo tal como o conhecemos, impondo limitações e condicionando igualmente no nosso modo de viajar. O impacto da Humanidade no planeta não tem sido positivo, pelo que espero que, pelo menos, esta pandemia tenha a virtude de nos tornar ‘viajantes’ mais conscientes.
7. Dica de viagem mais valiosa que pode dar
Não resisto a dar várias, a começar pelo aconselhar os leitores a cultivar as virtudes do ‘imprevisto’ em detrimento do meticulosamente programado. A liberdade e a flexibilidade potenciam o deslumbramento, a surpresa, abrem espaço aos encantos do inesperado…
Praticar um crescente minimalismo em todos os aspetos da viagem, com a certeza de que cada ‘menos’ é sempre a oportunidade para muitos ‘mais’.
Choca-me a atitude, cada vez mais massificada, de ‘sugar’ a identidade dos lugares, sem respeitar as suas especificidades, a perniciosa preocupação de tudo colher sem nada plantar. Dar é bem mais importante do que receber. Partilhar enriquece-nos imensamente mais. Sem medos. Sobretudo, sem preconceitos.
De igual modo, as recompensas para quem viaja pelo ‘outro’ e não simplesmente por si são comparáveis às de quem coleciona experiências e em vez de simples imagens ou ‘pins’ em locais visitados. Dar significado às viagens, qualquer que seja o seu registo, destino, bolsa… Nada se compara à empatia com as pessoas. O que importante na vida não tem preço, tem VALOR.
A terminar, temos a obrigação moral de sermos cada vez mais ecológicos e tentar minimizar uma pegada que potencie a nefasta globalização, que está a matar a riqueza da diversidade dos povos, das culturas, das formas de pensar… De alguma forma, é essa a mensagem que tento passar no registo do meu instagram @_bornfreee_.
8. Lugar preferido em Portugal
Os meus favoritos estão na minha mente, sem ‘georreferenciação’, pois não quero contribuir para a massificação, que combato, e que leva geralmente à destruição do que me/nos é mais querido.
Mais genericamente, os Açores são incomparáveis. Trás-os-Montes guardam parte da minha alma, o Alentejo outro tanto dos meus sonhos. A minha Guimarães, as Aldeias Históricas e alguns segredos na Serra da Cabreira… Sou mais de serra do que de mar, mais dos pequenos lugares do que das grandes cidades.
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