O que fazer numa primeira vez em Tenerife? Esta pode ser a pergunta que passa pela cabeça de grande parte dos viajantes e a resposta não é fácil. Há muito para ver e fazer na maior ilha e capital das Canárias.
Podemos escolher ir à praia e relaxar, principalmente se a ideia for fugir do inverno europeu; mergulhar na natureza e percorrer os muitos trilhos da ilha ou realizar várias atividades ao ar livre, tanto em terra como no mar; podemos conhecer cidades históricas que guardam a herança colonial nas ruas pitorescas e belos edifícios; experimentar a gastronomia e os vinhos locais; podemos, até, ter a sensação de que estamos noutro planeta numa visita ao Teide e, finalmente, podemos tentar fazer de tudo um pouco, mas, garantimos que, no final, vai saber a pouco.
Um Carnaval para todos
Chegamos a Tenerife em plena celebração da sua festa mais conhecida e esperada. Considerado um dos melhores do mundo, o Carnaval de Santa Cruz atrai, todos os anos, milhares de pessoas às ruas da cidade, não só para ver os apoteóticos desfiles, mas também para participar nos muitos eventos que decorrem durante mais de um mês. A festa nas ruas, com palcos espalhados em vários pontos de Santa Cruz, é um dos momentos mais aguardados e a altura ideal para sentir a energia e a folia do Carnaval.
Os sorrisos são contagiantes numa celebração que reúne pessoas de todas as idades, tanto nos desfiles como no público. É possível ver crianças, famílias e grupos de amigos. Muita gente fantasiada pelas ruas num ambiente seguro e bem preparado para receber milhares de pessoas.
"É a festa mais esperada por todos os tenerifenhos porque, afinal, o que se vive é alegria, ilusão, cor e ritmo. É única. Os turistas vivem a festa como se fossem locais, disfarçam-se, participam do programa, e muitos voltam todos os anos", afirmou ao SAPO Viagens Dimple Melwani, CEO do Turismo de Tenerife. Na galeria de fotos abaixo, os sorrisos, as cores e um pouco dos desfiles principais da edição deste ano.
Anaga, La Laguna e Teide
Três lugares que devem fazer parte de qualquer roteiro por Tenerife são estes: Anaga, La Laguna e Teide. O primeiro, o Parque Rural de Anaga, é Reserva da Biosfera da UNESCO, sendo o lugar com o maior número de espécies endémicas da Europa. La Laguna e Teide são bem diferentes entre si, mas têm um título em comum: ambos são Património Mundial da UNESCO.
Mas vamos por partes. É fácil visitar Anaga a partir da capital Santa Cruz, uma vez que o parque está a uma curta distância da cidade. Assim, em cerca de meia hora, deixamos para trás o cenário urbano e mergulhamos no verde das florestas e na imponência do Maciço de Anaga, a cordilheira montanhosa que corta o noroeste da ilha.
Nas terras mais altas, podemos observar a Laurissilva, floresta característica das ilhas do Atlântico Norte, também chamadas de Macaronésia, grupo do qual fazem parte, além das Canárias, a Madeira, os Açores e Cabo Verde. A Laurissilva é considerada uma relíquia do período terciário, uma vez que se manteve intacta nestas ilhas, tendo sido extinta no sul da Europa e norte de África.
Um bom ponto de partida para explorar o Parque Rural de Anaga é o Centro de Visitantes de Cruz del Carmem, onde poderá encontrar as informações necessárias para partir à descoberta, além de um belo miradouro e o início para o trilho Sendero de Los Sentidos, ideal para ser percorrido com crianças e pessoas com mobilidade reduzida. Neste pequeno trilho, terá a oportunidade de apreciar a beleza da Floresta Laurissilva de uma forma descontraída. Anaga conta com outras opções de trilhos que revelam paisagens fora de série, mas que exigem um maior planeamento e preparação.
Para casar natureza e cultura no mesmo dia do roteiro, o próximo destino deverá ser a cidade de San Cristóbal de La Laguna, a primeira capital de Tenerife, fundada entre 1496 e 1497. O lugar ideal para ficar a saber mais sobre a colonização das Canárias pelos espanhóis que ali, a mais de 500 metros sobre o nível do mar, decidiram construir a primeira (e única) cidade colonial sem muralhas, característica que lhe valeu a distinção de Património Mundial pela UNESCO.
La Laguna, como é chamada, tem muitos atrativos para serem conhecidos. O seu centro histórico é um verdadeiro tesouro colonial, pontuado por vários edifícios bem conservados com fachadas coloridas que nos fazem viajar no tempo, enfeitado por muitas espécies de plantas, das quais se destacam os majestosos dragoeiros – árvore que já era considerada sagrada pelos aborígenes de Tenerife, os guanches, e que, hoje em dia, é um dos símbolos da ilha.
Se Anaga e La Laguna cabem bem no mesmo dia do roteiro, talvez seja melhor dedicar um dia completo ao lugar mais surreal de Tenerife: o Parque Nacional do Teide. Isto porque, além de ser um dos parques nacionais mais visitados da Europa e do mundo, é um lugar que pode (e deve) ser apreciado com calma, aproveitando cada momento do dia para absorver as suas singularidades.
No coração de Tenerife, ergue-se aquele que é considerado o “teto de Espanha”. Com uma altitude de 3718 metros, o Teide é o pico mais alto do país e das ilhas do Atlântico. Visitar o Teide é como ter “um livro de vulcanismo aberto”, caracterizou o guia Ancor Robaina que nos acompanhou nesta viagem por Tenerife.
Os dois vulcões, Teide e Pico Viejo, são os mais recentes na história vulcânica de Tenerife. Estima-se que os dois estratovulcões se formaram há cerca de 170 mil anos, dentro da caldeira de um vulcão mais antigo que colapsou, dando origem a Las Canãdas del Teide, um verdadeiro anfiteatro natural que conta com espetaculares formações rochosas.
Sem dúvida que os amantes de vulcanismo encontram aqui um lugar para conhecer a fundo, mas qualquer pessoa ficará completamente envolvida pela paisagem quase extraterrestre que conquista tanto pela vastidão, como pelos pormenores de cada rocha ou planta que a compõem.
O trilho de Roques de García é um excelente ponto de partida para explorar o Parque Nacional do Teide. Poderá percorrê-lo em pouco mais de três quilómetros, com facilidade, apreciando algumas das formações rochosas mais emblemáticas do parque, com destaque para o Roque Cinchado, além de ter o Teide sempre a acompanhar a caminhada, com a sua imponência e as suas cores fantásticas.
Como em qualquer viagem, caberá a cada viajante escolher mais atividades para fazer no parque nacional – do nascer ao pôr do sol e até ao cair da noite, já que o céu noturno do Teide é considerado um dos melhores para observar os astros. Não é à toa que ali está instalado o Observatório Astronómico do Teide, um dos mais importantes do mundo.
Contrastes entre norte e sul
Antes ou depois de conhecer estes três lugares icónicos de Tenerife, vale a pena continuar a explorar a ilha e descobrir os contrastes entre a costa norte e sul.
Do lado oposto de Anaga, encontrará a localidade de Buena Vista del Norte, lugar pacato que apresenta um belo trilho junto ao mar, Las Salinas. Ali, o Atlântico mostra a sua personalidade, e as ondas quebram com força nas rochas vulcânicas. Tudo emoldurado por altas e misteriosas montanhas que compõem o Parque Rural de Teno, mais um sítio a explorar, se procura natureza preservada e aldeias isoladas.
Se, por outro lado, quiser acrescentar mais cultura e história ao roteiro pode seguir para a cidade de Garachico, considerada uma das mais belas da ilha. Fundada no final do século XV, o seu antigo porto foi ponto de referência nas rotas comerciais entre a Europa e as colónias espanholas da América. Contudo, o porto foi destruído por uma erupção vulcânica em 1706.
Garachico conserva um centro histórico pitoresco e fácil de ser percorrido a pé, bem como boas opções de restaurantes. Se o tempo e o estado do mar permitirem, o dia fica perfeito com um mergulho nas piscinas naturais da cidade, formadas após a erupção de 1706, com vista para o antigo forte, o Castillo de San Miguel, e para o Roque de Garachico, uma ilhota rochosa que alberga uma rica vida marinha.
É possível afirmar que em Tenerife há mergulhos para todos os gostos: piscinas naturais entre as rochas vulcânicas, entradas diretas para o mar, praias de areia negra e areia dourada (trazida do deserto do Saara), praias selvagens e outras com infraestruturas. Mais uma vez, caberá a cada viajante decidir em qual destas vai estender a toalha. A garantia é que, onde quer que esteja, terá sempre a opção de um mergulho nas águas amenas e transparentes do Atlântico a uma curta distância.
Além dos mergulhos, a viagem fica mais completa com um passeio de barco para observar golfinhos e baleias ou com uma ida à costa oeste para apreciar, a partir de um caiaque, os Acantilados de los Gigantes, falésias com mais de 500 metros que se precipitam sobre o mar, criando um dos cenários mais dramáticos da ilha.
A costa sul é o lugar de eleição para quem procura umas férias de sol e mar, num resort tudo incluído, onde a única preocupação é saber se vamos escolher piscina ou praia. Los Cristianos, Playa de Las Américas e Costa Adeje reúnem os grandes resorts, hotéis e apart-hotéis de Tenerife, sendo a região onde o turismo começou a desenvolver-se com força a partir da década de 1980.
Atualmente, o destino insular recebe cerca de 5 milhões de visitantes por ano. Uma das estratégias do Turismo de Tenerife é "atrair um perfil de visitante que conheça a autenticidade da ilha, que venha desfrutar de experiências que não existam noutros destinos", referiu a CEO do Turismo de Tenerife. Para Dimple Melwani, é importante atrair aquele viajante que quer saber "como se vive na ilha, o que a torna diferente, que venha provar os nossos restaurantes e produtos locais, que desfrute das nossas paisagens e praias".
A eterna primavera
De facto, para quem visita Tenerife em fevereiro, como foi o nosso caso, é uma agradável surpresa ser presenteado com bom tempo, em contraste com muitos países da Europa que ainda vivem dias rigorosos de inverno.
O sol é praticamente constante, bem como as temperaturas amenas que nos envolvem naquela sensação de "ilha da eterna primavera", alcunha que assenta muito bem a Tenerife e que é dividida com a sua "prima" portuguesa, a Madeira.
Essa "eterna primavera" sente-se não só pelas temperaturas amenas durante todo o ano, permitindo andar de calções e t-shirt e ir a banhos no mar, mas também pela exuberância da flora que vemos pela ilha. Desde o início da colonização, os espanhóis fizeram de Tenerife um "laboratório" para experimentar o plantio e o cultivo de espécies que vinham de outras partes do mundo. Por exemplo, foi o primeiro lugar da Europa em que se plantou batatas (vindas do Peru).
Por falar em batatas, estas continuam a ser protagonistas da gastronomia de Tenerife. Aliás, as papas arrugadas com mojo picón são um dos pratos mais tradicionais. Pequenas batatas cozidas, servidas com a pele e com um toque de sal, acompanhadas com um molho de pimentos. Simples e delicioso. O gofio é outra iguaria que estará sempre presente numa mesa tradicional, uma massa feita com várias farinhas que pode ser acompanhamento para várias refeições. Por fim, não poderá deixar Tenerife sem provar a famosa banana que é cultivada em vários pontos da ilha.
Comer bem não é difícil. Quer seja nos tradicionais guachinches, os restaurantes locais que servem gastronomia boa e barata, quer seja estabelecimentos com estrelas Michelin, não faltam opções para todos os gostos e carteiras.
Os amantes de vinho têm de provar os néctares produzidos em vinhas que, ao contrário do continente, não sofreram com a filoxera, conservando, por isso, castas que já foram extintas em Espanha e Portugal.
A melhor forma de ficar a conhecer mais sobre o vinho de Tenerife é através de uma experiência de enoturismo. Na Bodega El Lomo, fizemos uma viagem incrível pelos brancos e tintos ali produzidos que ficou concluída com um belo almoço no restaurante da quinta. É um dos principais projetos de enoturismo de Tenerife que pretende dar aos visitantes "uma experiência exclusiva e personalizada", explicou ao SAPO Viagens Borja de Mesa, diretor da Bodega El Lomo.
O enoturismo é mais uma experiência a adicionar ao rol das muitas que podemos vivenciar, o que nos leva de volta à pergunta inicial desta reportagem: o que fazer numa primeira vez em Tenerife? Tentamos dar a resposta, mas podemos afirmar que uma viagem não é o suficiente para descortinar todas as camadas desta ilha versátil e encantadora.
O SAPO Viagens visitou o destino a convite do Turismo de Tenerife
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