"Desde os seus anos de formação na França, a história inspirou Napoleão", explica à AFP Massimiliano Munzi, curador da exposição "Napoleão e o Mito de Roma", inaugurada no monumental Mercado de Trajano, no coração de Roma.
"Os pontos de referência sempre foram as personagens da Roma Antiga (...) os grandes imperadores, mas também os grandes estrategas e os engenheiros militares da antiguidade", afirma diante da estátua do jovem Napoleão Bonaparte (1769-1821) carregando uma cópia do livro "Vidas paralelas" de Plutarco.
"Na juventude era fascinado pelos heróis republicanos (...) depois identificou-se com os grandes imperadores", diz com um sorriso cheio de ironia.
Obviamente, admirava Augusto, o primeiro imperador romano, bem como aqueles que mais marcaram a história, como Trajano, Diocleciano, Constantino, Justiniano, porque "sentia que os estava a imitar e ao mesmo tempo que era seu herdeiro", explica.
Apesar deste fascínio, Napoleão, que costumava ser representado como um imperador romano e que chegou a dar a seu único filho e herdeiro o título de "Rei de Roma", nunca visitou a Cidade Eterna, embora as suas tropas tenham-na ocupado de 1809 a 1814.
"Napoleão não teve tempo de viajar até Roma, estava muito ocupado com as suas campanhas militares e a construir o Estado imperial francês", assegura Massimiliano Munzi.
"Mas esperavam-no em Roma, no Palácio do Quirinal (atual sede da Presidência da República e residência dos pontífices), onde prepararam elegantes aposentos para a sua chegada", conta.
Roma foi considerada a "segunda capital do Império, portanto era um lugar muito importante, e também considerada um modelo para a criação do grande Estado imperial francês", reitera o especialista.
"Napoleão como César"
"Com Napoleão, que foi primeiro cônsul e depois imperador (...) a França tornou-se na herdeira direta do Império Romano", explica Munzi.
Para confirmar a sua linhagem, Napoleão ordenou o restauro de monumentos emblemáticos do Império Romano. Entre os beneficiados, a famosa coluna de Trajano, a poucos passos do atual Fórum Imperial, construída para glorificar a conquista da Dácia, a atual Romênia, por esse imperador que reinou de 98 a 117.
"As obras em torno da coluna de Trajano foram as primeiras encomendadas pelo governo de Napoleão", destaca Nicoletta Bernacchio, outra curadora da exposição.
Aos olhos dos franceses, parecia que estava num poço fedorento cheio de lixo, não digno de um monumento tão importante.
"Com as obras, toda a área foi desobstruída para criar uma grande praça (...) As obras continuaram até 1814, quando os franceses tiveram que deixar Roma, e continuaram com o retorno do papa Pio VII, que as terminou", explicou.
Napoleão não só apreciava a herança deixada pelos imperadores de Roma, mas também saqueou o enorme património artístico, levando inúmeras obras de arte para Paris, capital do império, em particular para o Museu do Louvre.
O imperador até estudou a possibilidade de transportar a coluna de Trajano para Paris, mas encontrou uma solução muito mais simples: fazer uma cópia em bronze!
"A coluna da Place Vendôme, que Napoleão ergueu após a vitória de Austerlitz em 1805 e que foi inaugurada em 1810, é uma cópia da de Trajano", frisa Nicoletta Bernacchio.
Ao contrário da coluna de Trajano, que perdeu a estátua de bronze dourado do imperador que a coroava, a da Place Vendôme é coroada por uma estátua de Napoleão vestido como um general romano.
"Napoleão sentia-se um César", com toga, espada e coroa de louros.
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