Acordamos de madrugada para estacionar a caravana dentro do recinto do parque, algo não permitido durante a noite em toda a vila de Zion, e voltamos para a cama para descansar mais duas horas.

Ainda não restabelecidos do jet lag, e com muitas peripécias pelo caminho (que envolveram um voo cancelado São Francisco - Las Vegas no próprio dia, alugar um carro no aeroporto e conduzir 10 horas para evitar mais prejuízos no tempo, um resto de noite passado dentro de um carro alugado e algumas horas de atraso na entrega da autocaravana), os primeiros dois dias nos Estados Unidos foram fisicamente difíceis de ultrapassar e recuperar.

Encontro em Zion uma vila cuidada, elegante, de madeira e pequenos espaços relvados que em nada chocam com a paisagem em que se inserem. É, verdadeiramente, um deleite para os olhos, fugindo da excentricidade que encontramos em Vegas e em alguns outros pontos do Nevada que atravessámos durante a noite. Inserida no meio das montanhas rochosas de tons avermelhados, a vila é o ponto de entrada no Zion National Park, um dos mais belos e mais visitados parques dos Estados Unidos, que contabilizou só em 2021 cerca de 5 milhões de visitantes.

Para esta viagem de autocaravana de oito dias pelos Parques Naturais do Utah e Arizona optámos por comprar o America The Beautiful pass, um cartão de apenas 80 dólares (cerca de 74 euros) que permite a uma viatura e a todos os seus ocupantes a entrada em todos os parques e monumentos nacionais pela duração de um ano. Uma pechincha que na minha cabeça faz logo soar alarmes em como vale a pena voltar e aproveitar ao máximo.

Recolhido o mapa e pedidas algumas informações sobre os melhores trilhos a fazer num dia, é tempo de apertar as botas, correr o fecho do casaco e iniciar a caminhada. No Visitor's Center vários turistas alugam equipamento de trekking, destacando-se os fatos impermeáveis com que poderão entrar nas gélidas águas de The Narrows.

A praticamente todo o momento, autocarros brancos devidamente identificados com o termo "Zion" levam-nos até aos pontos de entrada dos vários trilhos. Começamos o dia com o Riverside Walk, um trilho de dificuldade ligeira junto ao rio onde várias famílias passeiam descontraidamente, fazendo uma pausa para descansar ou para tirar fotografias. A vegetação não é envergonhada nem mesmo no meio do Canyon, tornando-se este percurso fresco e equilibrado com a dureza dos enormes rochedos. O trilho termina com a entrada para The Narrows, onde as paredes se estreitam, o nível da água sobe, e visitantes munidos de fatos e bastões se aventuram pelas águas e busca de paisagens de cortar a respiração.

Voltando para trás, com paragens para descansar, continuo em direção ao segundo trilho do dia, um dos mais árduos, mas também com as vistas mais compensadoras – o Angels' Landing. O percurso é sempre a subir, com inclinação moderada, mas que obriga a abrandar a marcha ocasionalmente. Da montanha escavava em ziguezague, a paisagem é absolutamente deslumbrante –  um enorme vale pintado de verde, sem vestígio de mão humana, remete-nos imediatamente para os tempos pré-históricos.

O dia termina com um último trilho, mais plano, de nome Emerald Pools, um caminho muito bonito, adornado pelo rio que serpenteia ao longe mas que não deixa de ser pequena desilusão – muito provavelmente provocada pela época do ano, pois as tão esperadas "pools" estavam praticamente vazias e as cascatas que jorram em andares múltiplos quase inexistentes.

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