No dia 19 de agosto de 2021 o meu mundo mudou. Nesse dia, às 16h16, nascia o meu primeiro e único filho, o Noah, o ser que viria a mudar tudo na minha vida: desde as minhas prioridades, às minhas rotinas e, principalmente, a forma como passaria a viajar daí por diante.
Enquanto grávida, sonhei várias vezes com a ideia de lhe poder mostrar o mundo tal e qual como eu o via. Sonhei com o momento em que, pela primeira vez, lhe daria a conhecer paisagens, sons, cheiros e pessoas diferentes das que teriam feito parte da sua curta vida até então, e analisei todos os possíveis impactos das viagens na sua vida, presente e futura.
Em outubro desse mesmo ano, dois meses após o seu nascimento, fizemo-nos à estrada em família. Destino: Paris. Não consegui esperar mais. Não só estava eu já desesperada por uma viagem (uma pandemia e uma gravidez significaram poucas ou nenhumas aventuras para além-fronteiras durante dois anos), como também ansiosa pela experiência de poder finalmente viajar com o meu filho.
Em vez de uma viagem de avião que nos colocaria em Paris em cerca de 2h30, optámos por fazer uma viagem de carro, com a duração total de cerca de duas semanas, dando assim mais prioridade à experiência em si do que ao destino final. Um pouco insano? Talvez. Mas sou da opinião que se é para fazer, que seja memorável, e o desconhecido sempre foi algo de enorme fascínio para mim.
O planeamento exigiu uma atenção redobrada. Uma Maria João sem filhos far-se-ia à estrada com pouco ou nenhum planeamento. A Maria João “mãe” estudou cada detalhe da viagem, desde os destinos intermédios em Portugal, Espanha e França, até às horas de chegada e partida, e reservas antecipadas de alojamentos.
No dia da partida, reinava um misto de entusiasmo com ansiedade e nervosismo. Não conseguia deixar de pensar em tudo o que poderia correr mal com o bebé. O facto de ser mãe de primeira viagem não ajudava. Na bagageira do carro já estava tudo o que julgávamos que seria essencial, ou seja, umas seis malas no total, para além do ovinho, da alcofa e do carrinho. Conseguimos, no entanto, ter o bom senso de deixar a banheira dele em casa, vá lá.
Não tinham passado nem sequer 10 minutos desde que tínhamos saído de casa e o Noah já tinha entrado num pranto descontrolado. Pensei que não passaríamos do supermercado local. Pronto, tinham sido uns 10 minutos de viagem interessantes, voltamos a tentar outro dia. Ânimos acalmados e continuámos viagem.
Pelo caminho, várias paragens para dar de mamar, mudar a fralda e esticar a coluna, aproveitando sempre que possível para o retirar do ovinho e o deitar na alcofa por alguns minutos. Durante o dia, tentava ao máximo manter a rotina a nível de horas de mamar, de tomar banho e de dormir, o que não deu nenhuma hipótese a jantares fora de casa. Se nos apetecia ir jantar ou tomar um copo de vinho num dos belíssimos restaurantes ou cafés da cidade de Bordeaux? Sim, claro, e era precisamente isso que faríamos se a viagem fosse a dois, ou mesmo a solo. Mas a presença do Noah exigia algumas adaptações.
Ao final de poucos dias de viagem, começava a perceber que os bebés são de facto seres bastante mais flexíveis e com uma maior capacidade de adaptação do que eu imaginava. Percebi que, quando não há um berço disponível, uma cama ou uma mesa repletas de almofadas, a que se pode juntar uma manta enrolada para fazer um ninho, se transformam em alternativas perfeitamente aceitáveis; que quando não há banheira de bebé, há um duche onde podemos entrar com eles ao colo e não só dar banho, como reforçar laços; e que na ausência de um muda-fraldas standard, há sempre o capot ou a bagageira de um carro ou até um banco de jardim para mudar uma fralda suja. Garanto que eles não se chateiam nem um pouco, especialmente nestas idades em que o movimento ainda está bastante limitado.
Houve noites em que o Noah dormiu sem acordar e outras em que não nos deu uma hora seguida de descanso. Dias em que nos presenteou com a sua melhor disposição e outros em que parecia que preferia voltar para dentro da barriga da mãe. Se houve momentos em que me arrependi? Sim, claro, mas rapidamente me apercebia que era só o nervosismo e a inexperiência a falarem.
Entre dias bons e dias não tão bons, expus o meu filho a estímulos que estou certa que contribuíram para a sua evolução. A subida ao topo da Torre Eiffel, as esplanadas parisienses, os passeios pelas ruas da encantadora San Sebastián, o cheiro das tapas em Burgos e a brisa marítima em Biarritz desencadearam os seus primeiros sorrisos e balbucios, assim como um encantador olhar curioso sobre tudo o que o rodeia.
Não me arrependo nem por um segundo de ter feito esta viagem com um bebé de dois meses. Foi cansativo? Sim, muito. Mas as memórias que trouxe para casa e a certeza de que a experiência foi mais um tijolo para a construção de um ser humano mais aberto, tolerante e flexível, são a melhor recompensa que poderia ter.
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