Mas de entre os chamados “Grandes Viajantes” internacionais, sabia que quatro são portugueses? Já agora pode ‘vistoriar’ as pessoas mais viajadas aqui: https://mtp.travel/. Aliás este site tornou-se tão acedido e importante para quem quer realmente conhecer destinos e as suas caraterísticas (o bom e o mau!) que já pode aceder no Google Play.

Precisamente tive a honra de poder entrevistar e sentar-me, literalmente, à mesa algures num estabelecimento no Restelo, com um desses quatro viajantes do mundo: Luís Filipe Gaspar (www.luisfilipegaspar.com).

Hoje vou contar-vos algo que me marcou quando ouvia este arquiteto e jornalista, sobretudo o viajante. Entre as perguntas que lhe fui colocando, surge algo imprevisto tal como, de facto, foi a experiência que ele contou. Anotei com a capacidade que os meus dedos puderam, pois esta história vale tudo: à boleia de barco Luís Filipe Gaspar ‘aporta’ na fronteira entre o Suriname e a Guiana (inglesa) e encontra um português e que já conhecia, mas nunca pensaria reencontrá-lo ali e continuar viagem com ele atravessando uma fronteira entre países que eu considero ‘temerosos’ e perigosos. Fiquei ávida por os conhecer, todavia.

Como ainda não se conheciam propriamente bem, surge o convite do outro português para que Luís subisse o jipe de José Megre. José era, naquele momento, um viajante muito experiente e Luís estava ainda a acumular as milhas na ‘contagem’ dos passeios pela Terra. Ora começara a segunda boleia de Luís naquele dia. O jipe continha um frigorífico que, naquelas bandas, dava um jeito e um aconchego fresco à alma de viajante. Mas não era coisa de se obter para qualquer um, era algo que só viajantes experientes poderiam conseguir. Os dois começaram uma nova fase daquela viagem e em português iam trocando ideias e captando fotografias às casas do Suriname que constituem Património Mundial da Unesco. Já conhece? Ora encante-se com as imagens.

De ‘bandeira’ comum, chegaram à capital do Suriname e cada um foi para o seu hotel. José Megre já conhecia plenamente o planeta e tinha tantas histórias que Luís compreendeu que eram uma aprendizagem como uma dádiva. Também eles se sentaram numa mesa e começaram a contar países desbravados. Senti que eu, na mesa com Luís F. Gaspar aqui no Restelo, estava a fazer o mesmo. Eu, a aprendiz. E este artigo insurge-se como uma homenagem a José Megre pois ele faleceu há poucos anos e foi o viajante que orientou o Luís sobre como se tornar Grande Viajante.

Em breve vou reservar um artigo sobre este tópico: o que é ser Grande Viajante! Sim há critérios e há uma lista. Eu estou nessa meta e foi um prazer receber dicas valiosas para perceber como entrar nos clubes ecléticos dos viajantes do mundo. Curiosamente não há ainda Grandes Viajantes portuguesas… vamos lá mudar isto? Eu vou!

E de forma que parecia impossível, nas caminhadas pelo mundo, Luís F. Gaspar reencontra o mesmo português noutra viagem, num local inusitado e que tem mesmo de conhecer: a cratera de Ngorongoro. Nesta zona vulcânica antiquíssima e que fica na Tanzânia, ele recorda assim: “vejo uma matrícula portuguesa”. Não lhe era estranha aquela placa, a memória avivou-se e avistou José Megre. José Megre sempre fez muitas das suas viagens de carro, aliás foi incrível saber que fez Lisboa-Macau de carro! E também este foi mais um dos casos. Luís disse-me “perto dos leões” procurou-o, mesmo assim “perto dos leões”, e reencontraram-se. Qual era a probabilidade de terem cruzado, de novo, caminho e ali naquela cratera? Coisas que só acontecem uma vez na vida… ou duas, como neste caso. E em sítios especiais.

Luís Filipe Gaspar (www.luisfilipegaspar.com) é imparável e continua sempre a entrar e sair de aviões, a ver agora maior aposta nos comboios por causa da COVID-19, aliás foi difícil eu conseguir encontrá-lo aqui em Portugal. E estou-lhe tão grata pela forma como recebeu o meu convite de entrevista e como me ensinou tanto igualmente. Senti-me quase ‘ele’ quando encontrou José Megre na tal fronteira há muito tempo, o primeiro reencontro. José já fez a sua última “viagem” e agradecemos pelos passos que o português marcou pelo globo e pelo que ensinou sobre o que é ser português intrépido (afinal sempre nos esteve no sangue desde o século XV).