Provavelmente, este episódio não fazia parte dos planos de Dean quando, em 2018, partiu de Dunbar, na Escócia, para viajar pelo mundo de bicicleta. Uma viagem que começou acompanhada por um grande amigo, mas que, depois, passou a ser feita de forma solitária. O que pode ter sido fundamental para que Dean tenha reparado na gatinha abandonada que resgatou na Bósnia, numa região isolada entre montanhas.
O momento, que se deu no início do ano passado, ficou registado na conta de Instagram 1bike1world, onde Dean vai mostrando as suas aventuras pelo mundo. Para o viajante, foi o “destino” que colocou Nala no seu caminho. “Como eu digo no livro, o que tem de acontecer, tem muita força. Houve uma série de acontecimentos que me levaram a estar naquelas montanhas naquela manhã. Só pode ter sido o destino”, conta Dean ao SAPO Viagens.
No livro, agora editado em Portugal pela Ideias de Ler, ficamos a saber detalhes deste encontro que teve um papel decisivo na forma como o viajante passou a olhar para a vida. “O encontro com Nala foi o momento mais marcante desta viagem porque mudou tudo para mim e para ela”. Dean conta que começou "a apreciar mais a vida e a desacelerar".
Desde as primeiras peripécias de ter de passar fronteiras com a gata escondida, levá-la ao veterinário, a escolha do nome, a procura por uma forma segura de transportá-la, as preocupações com o seu estado de saúde após apanhar chuva, até Nala transformar-se numa viajante “profissional”. Dean conta no livro as aventuras por vários países da Europa, como Montenegro, Albânia, Grécia ou Geórgia. Os amigos que encontraram pelo caminho e o próprio estilo de viagem de Dean: com a "casa" numa bicicleta, opta por ficar mais tempos e lugares, conseguindo trabalhar e integrar-se em projetos locais.
A ideia de escrever o livro surgiu quando estava em Santorini, no verão do ano passado, numa altura em que recebia muitas questões dos seguidores sobre a viagem. “Senti que não conseguia contar tudo no Instagram. Queria explicar as coisas com mais profundidade”, refere. Dean queria também mostrar a sua história anterior ao encontro com Nala e porque é que decidiu largar tudo e partir nesta longa viagem.
Uma gata na bicicleta
Através das imagens e do relato de Dean, é possível constatar que Nala se transformou na companheira ideal para esta viagem. A gata aparece, muitas vezes, sentada na transportadora à frente da bicicleta, e gosta também de empoleirar-se nos ombros de Dean quando não estão a pedalar.
“Ela é a melhor companheira que qualquer um poderia ter”. “É divertida, é uma ótima distração quando estou a sentir-me cansado ou em baixo. Ela também consegue sentir quando não estou bem. Costumo chamar-lhe de enfermeira Nala”, descreve.
Poder sentir como a gata explora o mundo, a forma como os seus olhos observam as paisagens, sentada à frente da bicicleta, é algo que enriquece a viagem. Além disso, Nala atrai muita atenção e faz com que “as pessoas falem comigo de uma forma que, provavelmente, não iria acontecer, se eu estivesse sozinho”.
O facto de estar a viajar com uma companheira de quatro patas fez também com que Dean ficasse mais atento para a causa do abandono animal, mas não só. O viajante tem como objetivo chamar atenção para várias causas e, através das redes sociais, apoiar organizações não governamentais em vários pontos do mundo. Quer também dar visibilidade aos problemas ambientais que estamos a enfrentar. “Se não lutarmos pelo nosso planeta, vamos perdê-lo – em breve”.
Viajar em tempos de pandemia
A pandemia de COVID-19 apanhou Dean e Nala na estrada e fez com que tivessem de mudar os planos, mas a viagem continuou. “Passamos o período de confinamento numa casa numa área rural da Hungria, acerca de uma hora de Budapeste”.
“Foi um alívio poder voltar a pedalar em junho”. Dean e Nala passaram por Eslováquia, Suíça, Áustria e Alemanha. Mas, na Áustria, Dean partiu o tornozelo e teve de “encostar” a bicicleta por algumas semanas. Aproveitou para viajar de autocaravana pela Holanda e Dinamarca até regressar à Áustria, onde estão agora.
Para os planos futuros, um dos objetivos é chegar à Rússia e pedalar pela Sibéria, até Vladivostok, para de lá apanhar um ferry para Coreia do Sul ou Japão. Mas, face à situação da pandemia, é impossível traçar planos concretos, uma vez que tudo é muito volátil e ainda não se sabe quando vai acabar. No entanto, isso não preocupa Dean: “enquanto Nala e eu estivermos juntos, pouco importa o resto”.
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