Há uma noite no ano em que a lua se enche e pelos canais, rios e lagos da cidade flutuam velas acesas que lembram Buda. Nós entrámos por essa cidade – Bangkok –, por essa noite, e, nas águas do Queen sirikit park, uma das velas que iluminou a noite foi nossa, três dos desejos pedidos também. Estamos no Loy Krathong.
Loy Krathong, é o nome da festividade que, ano após ano, junta os tailandeses nas ruas e os liga às suas águas. Este ano juntou-nos também a nós: caminhámos lado a lado com os arranha céus que acabariam por compor as nossas imagens e ao nosso lado caminhavam os locais, as meninas-moças traziam roupas especiais e uma maquilhagem cuidada, que lembrava o quão especial é aquele dia, de todos os dias do ano.
O nome diz as flores, as velas, o deixar ir dos males, a aproximação a Buda. Loy significa flutuar e Krathong é o nome dado ao arranjo: na base talo da bananeira, em volta folhas da mesma planta – cuidadosa e minuciosamente trabalhadas – às quais se vêm juntar as flores e no centro, a vela e os paus de incenso.
Os rituais oscilam entre as tradições antigas e a vontade de inovar. Hoje, neste dia, há competições para o melhor krathong, concursos de beleza – ‘Rainha Nopphamat’ – e fogos de artifício. Mas, dizem os antigos, não é disso que trata o Loy Krathong, há um simbolismo associado a este deixar ir: por águas; por céus.
– ‘Devemos libertar-nos dos males, juntar ressentimentos e emoções negativas e deixá-los ir’ . – Dizem.
Por isso, muitos, no seu Krathong enviam partes de si, em unhas ou cabelos acabados de cortar. E nós achamos que é uma bela forma de exorcizar os males, afastá-los do coração, afastá-los para as pontas do ser: em unhas e cabelos e depois… deixá-los ir, como dizem os sábios anciãos thai. Deixá-los ir porque – dizemos nós – guardar o mal nunca nos trará nada de bom.
Se sairmos de Bangkok e nos dirigirmos ao norte da Tailândia, Chiang Mai, junta-se ao Loy Krathong o Yi Peng (festival Lanna), juntam-se os céus às águas e aos krathongs os Khom Loi – lanternas feitas de papel tão fino quanto as folhas de arroz (muito semelhante ao papel vegetal dos nossos balões de São João) e seguras por uma estrutura de arame ou bambu. Uma acendalha é suficiente para as elevar no ar, depois é olhar para cima e vê-las flutuar nas ondas que o céu – com a ajuda do vento – desenha. E às luzes das águas e céus juntam-se as luzes que os locais espalham pelas árvores, pelas casas, pelos templos.
E nós, como havíamos feito no Full Moon Lantern Festival, no Vietname, enchemos os olhos de luz, até fugirmos com a chuva que a noite trouxe e, acredito, tenha vindo para abençoar cada desejo pedido.
- A saber:
Por uma questão de ecologia, quando assistir ao Loy Krathong, opte por um krathong feito do talo da banana, por ser biodegradável, ou pelos que são feitos de pão, que se desintegram após algum tempo e (muito provavelmente) os restos são comidos pelos peixes. O importante é não comprar os são feitos de esferovite, levam anos a decompor-se, acabando por poluir as águas.
O lançamento das lanternas aos céus tem de ser delimitado no tempo, por razões de segurança, nomeadamente do tráfego aéreo, estando o desrespeito previsto no código penal e punido com penas severas.
Este artigo foi originalmente publicado em Menina Mundo.
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