Com portas abertas para uma das mais emblemáticas artérias da capital, o Áurea surpreende logo à entrada. Apesar da localização central, o ambiente é intimista, contrastando com o bulício urbano do exterior. Outrora território dos ourives – daí o nome –, a Rua do Ouro é uma das vias mais simbólicas da Lisboa reconstruída após o terramoto de 1755. Ao ligar o Rossio à Praça do Comércio, é hoje ponto de passagem de lisboetas e visitantes do mundo inteiro.
Neste contexto, não é de estranhar que muitos portugueses desconfiem da restauração local, por vezes associada a propostas exclusivamente pensadas para turistas. Felizmente, há cada vez mais espaços – mesmo os que se inserem em unidades hoteleiras – que procuram atrair tanto locais como viajantes. O Áurea, integrado no elegante Art Legacy Hotel, é um desses casos.
A partir de uma cozinha aberta, liderada pelo jovem chef André Serra, o restaurante apresenta uma carta que combina sabores portugueses com técnicas internacionais. Exemplo disso são os pani puri inspirados no bacalhau à Brás (e com todos os seus elementos), ou a versão reinventada da tradicional Sopa da Pedra, que, embora inclua todos os ingredientes clássicos, chega à mesa de forma surpreendente: com um pedaço de leitão crocante, feijão, chouriço de porco preto e de cebola, a já célebre "batata áurea" presente em várias criações do chef, e um creme de feijão finalizado à mesa, enriquecido com farinheira e chouriço.
"Casar sabores familiares de forma inesperada" parece ser a linha orientadora da cozinha deste chef de apenas 27 anos, que sucedeu a Pedro Mendes, anteriormente responsável por um menu de degustação centrado nas algas. Desde o passado mês de abril, o restaurante abraçou uma nova direção, assumindo-se como um bistrô português contemporâneo, com menus à mesa e ao balcão.
"Deram-me a oportunidade de agarrar o projeto e decidir o que é que podia fazer ou não", partilha o chef. "Pela rua em si, que é também um pouco histórica, decidi recriar e trazer um pouco do ouro português, que é a nossa cozinha", acrescenta.
"Eu gosto de agarrar nos pratos portugueses, no que é tradicional e transmiti-los de forma diferente e um pouco mais jovem", comenta ainda, adicionando que o seu espírito competitivo, cultivado ao longo do percurso, também se reflete na sua cozinha.
Com passagens pelo restaurante Sala de Corte e pelo Hotel Memmo Príncipe Real, André conquistou recentemente o segundo lugar do Global Chefs Challenge 2025, que se realizou em Rimini, Itália, estando agora apurado para a final, que terá lugar no País de Gales, em maio de 2026.
Da tradição à inovação
Com uma menu que vai sendo ajustando em função da sazonalidade dos produtos, objetivo do chef é claro: posicionar o Áurea como o bistrô gastronómico da Baixa Pombalina, onde os sabores fazem os portugueses sentirem-se em casa e os viajantes adescobrirem a essência gastronomia portuguesa.
Entre as sugestões do menu, além dos referidos pani puri e da versão reinventada da Sopa da Pedra, há Pastel de Massa Tenra de Cabidela ou Rosbife com Molho Pica-Pau nas entradas. Nos principais, sobressaem o Leitão com Ervilhas Guisadas, Enchidos, Ovo BT e Molho de Pimentas – uma combinação de dois pratos tradicionais raramente servidos juntos – ou o Carabineiro com Raviolo e Sabores de Caldeirada Portuguesa, onde se fundem técnicas italianas e sabores genuinamente nacionais.
Num cenário marcado pela criatividade da reconhecida marca de design Moooi, o Áurea espera ser um espelho da gastronomia nacional contemporânea: enraizada, mas aberta ao mundo.
Durante os dias úteis, o restaurante propõe um Menu Executivo (25€) que muda todos os dias — de Polvo à Lagareiro a Açorda de Marisco — ideal para quem trabalha na zona ou quer almoçar com qualidade em plena Baixa. À noite, o ambiente transforma-se: às quintas-feiras, há música ao vivo (Sounds of Áurea); às sextas e sábados, DJs animam os Áurea Beat Sessions, reforçando o espírito descontraído e urbano do espaço.
O SAPO Viagens visitou o Áurea a convite do restaurante
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