
"Esta é a casa da mãe de Amadeo de Souza‑Cardoso e do tio", diz-nos Miguel Cardoso, sobrinho-bisneto de Amadeo e chef do Pena Cozinha-Rural-História, o restaurante erguido nos antigos lagares e alambiques da Quinta da Pena, onde se produziam aguardentes com o mosto resultante da produção de vinho verdes. Desses tempos, permanecem alguns elementos no interior que são complementados com obras de novos artistas que celebram a vida e a obra do pintor amarantino.
No exterior do espaço, existe uma esplanada charmosa que convida a almoços demorados e relaxados em harmonia com a natureza. Foi onde almoçámos e conversámos com Miguel que, até à pandemia da COVID-19, se dedicava apenas a part-time ao restaurante, tendo como atividade principal o desporto de alto rendimento. "Treinava atletas", partilha.
Talvez por influência do rigor do desporto de alto rendimento, o responsável do Pena, então com 40 anos, decide pedir um estágio ao chef Vitor Matos, atualmente o mais estrelado em Portugal, no Antiqvvm, que hoje conta com duas estrelas Michelin. "Queria perceber como era a orgânica de um restaurante de topo, em termos de comunicação, liderança… Também consultei muita literatura".
"A partir daí comecei a tentar influenciar a equipa para darmos um passo de qualidade", explica, acrescentando que o Pena existe há 14 anos, porém, nem sempre celebrou a vida e a obra do pintor de Manhufe. Na verdade, durante a primeira década, o espaço chamava-se Pena Restaurante Bar, visto que o proprietário e a esposa, Joana, estavam reticentes em usar o nome do artista como inspiração. "Nos primeiros 10 anos, nunca assumimos a relação familiar. Tínhamos pudor ou medo de que os clientes ou outros achassem que nos estávamos a aproveitar do nome dele".
A vontade de valorizar mais o empreendimento e a reconexão com as raízes fizeram o casal mudar de ideias e abraçar o legado de Amadeo. O restaurante passou a chamar-se Pena – Cozinha Rural e História, e ganhou uma nova vida. "Começámos a pôr mais quadros e obras de arte feitas pela minha prima Inês Souza Cardoso, que também é artista plástica e pintora", explica, adicionando que, com isto, começaram a dar "mais destaque à influência de Amadeu".
"A partir daí é que percebemos que não nos estávamos a servir dele. Iríamos servi-lo e fazer dele a nossa bandeira", conta. "Efetivamente, as pessoas vêm ao restaurante para terem uma boa refeição e um bom momento, mas se saírem daqui a conhecer um pouco mais da vida e obra de Amadeu, estamos a servi-lo. Não nos estamos a servir dele", constata. "Começámos a fazer disto um restaurante dentro de uma quinta portuguesa que também acaba por ser uma galeria".
Além da decoração, a ligação ao pintor manifesta-se também em experiências artísticas. No Pena é possível participar em workshops de pintura inspirados nas técnicas do pintor modernista, orientados por Inês, com direito a tapas e bebidas.
Um menu que dialoga com arte e história
O coração do conceito é um menu de degustação, a "Vida e obra de Amadeo de Souza‑Cardoso", com seis a oito momentos inspirados em quadros emblemáticos do pintor, como "Sem título (paisagem com pássaros), 1911" ou "A chalupa, 1914‑15".
Já o menu à la carte conta com pratos como bife Wellington, magret de pato, risotto de cogumelos e o petit gâteau de abóbora com gelado de queijo de cabra, por a cozinha do Pena inspirar-se nos "pratos clássicos e intemporais dos lugares por onde Amadeo de Souza Cardoso passou". Para além disto, todos os pratos chegam à mesa envolvidos por um ingrediente especial, a "generosidade", que o chef destaca como "um valor nortenho".
"Nós ainda gostamos muito de receber as pessoas. A nossa equipa transmite essa cultura e é feita de pessoas cujos pais e avós ainda tinham a tradição de guardar o melhor para as visitas", menciona. "São pessoas que ainda trazem esse ADN e acho que é aí que está a nossa identidade portuguesa", conclui.
O SAPO Viagens visitou o PENA Cozinha-Rural-História a convite do restaurante e do MIMO Festival
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