Os mercados de Natal afirmam-se como uma tendência que veio para ficar, tornando-se (mais) um atrativo das capitais e cidades europeias nesta época do ano. Budapeste pode ser o destino perfeito para quem quer entrar no espírito da época, mas também para encontrar história, cultura e relaxamento. Com a mais-valia de poder ficar num hotel icónico a dois passos de uma das principais atrações da cidade, o Parlamento, e dos mercados de Natal mais famosos.

Tomar o pequeno-almoço no salão de baile de Sissi

Assim que cruzámos a porta giratória do Áurea Ana Palace, somos tomados pela imponência do edifício de estilo historicista, mandado construir pelo imperador austro-húngaro Francisco José I, em 1894, para ser sede da delegação austríaca em Budapeste.

Muita história aconteceu desde então, entre a queda do império, duas guerras mundiais e a ocupação soviética, mas o edifício conseguiu resistir e, após um cuidadoso trabalho de restauro, voltou a brilhar, agora em forma de hotel cinco estrelas que apresenta a união de dois edifícios, o mais antigo, residencial de 1847 e, o outro, concebido para albergar a sede da delegação austríaca, inaugurado em 1895.

Sob a chancela Áurea Hotels, marca do grupo Eurostars Hotel Company dedicada a recuperar edifícios históricos, o Ana Palace é um hotel ideal para quem quer mergulhar (em alguns lugares, de forma literal) na história de Budapeste.

Basta entrarmos no nosso quarto para perceber quem é a figura central da decoração dos espaços interiores: Elisabeth Amelia Eugenie de Wittelsbach, a imperatriz da Áustria e rainha da Hungria que ficou conhecida como Sissi. Pelos corredores do edifício, encontramos vários apontamentos informativos sobre a vida desta mulher à frente do seu tempo que conquistou um lugar na história e foi imortalizada através de vários livros, filmes e séries.

Áurea Ana Palace
Áurea Ana Palace O Salão Sissi no Áurea Ana Palace em Budapeste créditos: Alice Barcellos

Imagens de Sissi pontuam os interiores do hotel, mas é no restaurante que a imperatriz ganha maior destaque com a reprodução de um dos seus retratos mais famosos que assenta como uma luva no antigo salão de baile do edifício, onde, no teto, se conservaram os brasões dos membros do Império Austro-Húngaro.

Enquanto tomamos o pequeno-almoço ou jantamos no Salão Sissi, a imaginação encontra terreno fértil para especular sobre como seria o ambiente de glamour e poder vivido naquele espaço que também conserva o camarote no segundo andar, onde a realeza assistia aos concertos.

Mesmo com a cidade lá fora à nossa espera, apetece ficar um pouco mais a saborear um cappuccino e as muitas iguarias servidas na primeira refeição do dia, que conta também com um menu à la carte, enquanto imaginamos como seria a vida ali noutras épocas.

O hotel apresenta muitos argumentos para passar mais tempo dentro de portas, além do Salão Sissi, há um bar, um ginásio e um spa – este último é ideal para relaxar depois dos passeios pela cidade ou para começar o dia revigorado, após seguir o ritual de banho, como muitos budapestinos fazem. Não é à toa que Budapeste é conhecida como a “Capital dos Balneários”, como nos explica Peter Szogi, diretor-geral do Áurea Ana Palace, durante uma visita pelo hotel.

Szogi refere também que o trabalho de reabilitação do edifício “não foi fácil”. Primeiro porque grande parte dos detalhes interiores foram danificados ou eliminados durante o tempo em que funcionou como sede dos partidos Comunista e Socialista. Segundo, porque existem bunkers e túneis secretos naquele quarteirão que, atualmente, estão desativados.

Após ser adquirido pelo grupo em 2006, o hotel foi inaugurado em 2021, continuando a receber líderes políticos de todo o mundo devido à sua proximidade com o edifício mais emblemático da cidade, a sede do governo da Hungria. Portanto, esta será a primeira paragem durante a nossa visita de dois dias, mas, como iríamos comprovar mais tarde, vale sempre a pena regressar a diferentes horas do dia para apreciar a beleza e a envolvência deste marco arquitetónico.

Parlamento de Budapeste
Parlamento de Budapeste O Parlamento de Budapeste visto a partir da rua do hotel créditos: Alice Barcellos

Parlamento e sapatos à margem do Danúbio

O Parlamento de Budapeste é impressionante e detém muitos superlativos. É o maior edifício da Hungria, o segundo maior parlamento da Europa e o terceiro maior do mundo. Conquista-nos pela simetria e, apesar do tamanho, impõe-se de forma leve na paisagem, quase como a flutuar, quando observado a partir do Danúbio.

A sua construção começou em 1885, como forma de representar a soberania da nação húngara, país com uma história marcada por ocupações e conflitos. A própria cidade de Budapeste surgiu da união de três cidades distintas, Buda, Óbuda e Peste, em 1873.

Foi, então, durante este agitado século XIX, em que a cidade de Peste crescia na margem direita do Danúbio entre largas avenidas – a Andrássy tornou-se na mais icónica – que o concurso público foi lançado para a construção do Parlamento. Obra em estilo neogótico, da autoria do arquiteto Imre Steindl, o edifício presta homenagem à história da Hungria, elevando a arte e o artesanato do país nas suas salas majestosas, escadarias monumentais e corredores dourados.

Parlamento de Budapeste
Parlamento de Budapeste Parlamento de Budapeste créditos: Alice Barcellos

Inaugurado em 1986, estima-se que mais de 100 mil pessoas participaram nos trabalhos de construção que ficou concluída, definitivamente, em 1904. 40 milhões de tijolos, meio milhão de pedras preciosas e 40 quilos de ouro foram utilizados no edifício que guarda também uma das maiores relíquias do país: a Coroa de Santo Estêvão, usada nas coroações dos reis da Hungria desde o século XII.

Para quem quer visitar, as melhores dicas são: comprar os bilhetes online com antecedência e chegar alguns minutos antes da hora marcada da visita para passar pelo controlo de segurança. Há audioguias em português.

Elétrico em Budapeste
Elétrico em Budapeste Elétrico em Budapeste. Existe uma paragem em frente ao Parlamento créditos: Alice Barcellos

Saindo do Parlamento, é impossível não querer apanhar com os olhos e com a câmara a passagem dos elétricos amarelos que são um bom meio de transporte para conhecer o centro histórico. Contudo, os pés querem caminhar e é fácil parar junto a uma das atrações mais concorridas da cidade.

Entre os muitos sapatos dos que procuram a melhor fotografia, há pares de ferro e bronze cravados ao chão, mesmo à margem do rio. Estão ali em memória das vítimas mortas a tiro por milicianos da Cruz de Ferro, o partido húngaro de extrema-direita que seguia a ideologia do Partido Nazi da Alemanha. Entre dezembro de 1944 a janeiro de 1945, cerca de 20 mil judeus foram ali assassinados, depois de retirados do gueto de Budapeste, mas, antes, eram obrigados a descalçarem-se. Estes Shoes on the Danube Bank, da autoria do realizador Can Togay e do escultor Gyula Pauer, erguidos em abril de 2005, não deixam esquecer este capítulo sombrio da história.

Shoes on the Danube Bank
Shoes on the Danube Bank Shoes on the Danube Bank créditos: Alice Barcellos

Vá aos mercados de Natal, mas não se esqueça do Mercado Central

Se durante uma visita a Budapeste podemos conhecer períodos mais pesados da história, também conseguimos usufruir de momentos de descontração e nada melhor do que o espírito de Natal para fazer-nos olhar com mais esperança para o futuro da humanidade.

Assim que ao entrar na Praça da Basílica de Santo Estêvão, a uma curta caminhada do Áurea Ana Palace, somos envolvidos pelas luzes brilhantes, os aromas do vinho quente e dos doces típicos, enquanto a vista tenta abarcar todos os pormenores natalícios que compõem a decoração deste mercado de Natal aconchegante.

Eleito várias vezes como um dos melhores da Europa, de facto, sente-se uma envolvência única criada pela basílica integrada na zona do centro histórico classificada como Património Mundial da UNESCO.

Basílica de Santo Estêvão
Basílica de Santo Estêvão Mercado de Natal da Basílica de Santo Estêvão em Budapeste créditos: Alice Barcellos
Mercado Central de Budapeste
Mercado Central de Budapeste Mercado Central de Budapeste créditos: Alice Barcellos

Dali até à Praça Vörösmarty é um “saltinho” e poderá visitar outro mercado natalício popular na cidade. Pelas barraquinhas é possível encontrar gastronomia e artesanato da Hungria por um preço mais inflacionado, como nos revelaram muitos locais durante a nossa estadia.

Portanto, vale a pena passear pelos mercados de Natal da cidade para sentir o espírito da época, todavia, se quer encontrar variedade de produtos e opções gastronómicas a preços mais acessíveis, o destino deve ser o Mercado Central, cuja visita vale muito a pena também pelo belo edifício de ferro que alberga este centro de comércio. Se procura uma experiência gastronómica mais requintada, atravesse para o lado de Buda e reserve uma mesa no Ida Bistro.

Para aproveitar o período noturno que começa cedo por estas bandas durante o outono e o inverno, é possível contemplar os edifícios e as pontes de Buda e Peste através de um passeio de barco e é aí que vai encontrar um verdadeiro globo de Natal em ponto grande: o Parlamento iluminado parece flutuar nas águas do Danúbio. Há um toque de magia nesta visão.

Parlamento visto a partir do Danúbio num passeio de barco
Parlamento visto a partir do Danúbio num passeio de barco Parlamento visto a partir do Danúbio num passeio de barco créditos: Alice Barcellos

Termas, um mergulho na essência de Budapeste

Da lista dos pontos obrigatórios de Budapeste, há muitos lugares que não podem ficar de fora, como o Bairro do Castelo, do lado de Buda, onde podemos ficar a conhecer a parte mais antiga da cidade, com destaque para o Bastião dos Pescadores e a Igreja de São Matias. O majestoso New York Café e os alternativos ruin bars também devem fazer parte do roteiro, bem como a Ilha Margarida e o Bairro Judeu. Contudo, se não tem muito tempo e quer mesmo mergulhar na essência da cidade, deve priorizar uma ida às termas.

Para começar, por ser algo difícil de encontrar numa grande cidade. Sabia que Budapeste é a única capital do mundo que tem águas termais? Foram os romanos os primeiros a descobrir o potencial termal dos territórios a oeste do Danúbio, tendo sido este um fator essencial para estabelecerem lá uma cidade. Chamava-se Aquincum e chegou a ter 30 mil habitantes no final do século II. Assim, se gosta de ruínas romanas, saiba que também pode visitá-las em Budapeste.

Durante a ocupação otomana, foram construídos novos balneários, seguindo a tradição dos famosos banhos turcos. Os Banhos de Király e de Rudas são heranças deste período e ainda hoje estão em funcionamento, do lado de Buda, onde também se encontra o luxuoso spa de Gellért que se destaca pelo estilo Art Nouveau.

Banhos de termais de Rudas, do lado de Buda
Banhos de termais de Rudas, do lado de Buda Banhos de termais de Rudas, do lado de Buda créditos: Visit Budapest

Do lado de Peste, as Termas de Széchenyi são as mais grandiosas da cidade e uma das maiores da Europa. Ao entrar no edifício, o pescoço torce para contemplar a riqueza de mosaicos do teto abobadado que retratam divindades e seres aquáticos. “É o fator wow que este lugar tem sobre as pessoas”, reconhece Bernadett Katus Borosné, diretora de marketing das Termas de Széchenyi.

Apaixonada pelo que faz, Bernadett conduz-nos numa visita guiada pelos vários espaços do complexo termal inaugurado em 1913 como o primeiro balneário termal do lado de Peste e com o objetivo de ser usado pela classe trabalhadora da cidade, uma vez que os mais abastados e nobres viviam do lado de Buda.

Termas de Széchenyi
Termas de Széchenyi Uma das piscinas exteriores das Termas de Széchenyi créditos: Visit Budapest

Misturando os estilos neobarroco e neorrenascentista, o complexo conta, atualmente, com 15 piscinas interiores e três piscinas exteriores, várias salas de tratamentos, saunas e até um spa dedicado à cerveja, onde podemos tirar a nossa própria “imperial” enquanto estamos numa jacuzzi.

A imagem mais cliché das Termas de Széchenyi são senhores húngaros a jogar xadrez numa das piscinas exteriores e a verdade é que o complexo continua a conseguir manter o equilíbrio entre a utilização por locais e turistas.

A experiência de ficar “de molho” nas águas acima dos 34 graus, enquanto lá fora os termómetros estão mais perto do zero, a observar o vapor de água dançando sob o céu noturno é, sem dúvida, imperdível para quem visita a cidade nas épocas mais frias.

O tempo passa rápido quando estamos a viver um bom momento e, quando damos por ela, está perto da hora de fecho e ainda não havíamos experimentado as piscinas interiores. Bernadett tinha-nos avisado que o melhor estava cá fora. Agora, já temos mais um pretexto para regressar a Budapeste.

O SAPO Viagens visitou Budapeste a convite do Áurea Hotels