Tudo começa num lugar "mágico e misterioso", com um "vasto deserto dourado", um país distante em que as pessoas "acreditam num outro Deus e vestem de maneira diferente".
Maria, uma menina de nove anos, é a narradora da história e vai contar momentos da viagem que realizou pela Arábia Saudita com os pais. Das aldeias pitorescas ao "fim do mundo", muitos lugares do país entram na narrativa, mas são as relações pessoais que ganham destaque durante a leitura. Afinal, esta é, acima de tudo, uma história sobre "amizade e tolerância entre povos diferentes", conta Catarina Leonardo, autora do livro, mãe de Maria, que acabou esta viagem com uma nova amiga, a personagem que dá nome ao livro.
Como surgiu a ideia para escrever este livro?
Foi um percurso de alguns anos até chegar ao livro. Quando era pequena, gostava de inventar histórias ou escrever alguns textos sobre o que via e sentia. Nesse caminho, tive a sorte de ter tido uma professora de português, também escritora, que me incentivou e motivou a escrever mais e melhor. Viu em mim algo que não entendi na altura. Quando terminei a faculdade e entrei no mercado de trabalho, a escrita por lazer, criativa, ficou um bocado de lado. Mas ela não tinha “morrido”, apenas ficou um pouco adormecida. Assim permaneceu por vários anos.
Depois de 14 anos de consultoria e da decisão de me despedir, percebi que o meu caminho profissional teria de andar à volta das viagens, da escrita e da fotografia. Criei um blogue de viagens, fundei a ABVP - Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, comecei a ser oradora em vários eventos e júri de Festivais de Cinema de Turismo.
Todas estas experiências ajudaram-me a perceber, pouco a pouco, que o mundo digital também me interessa, mas o livro em papel, muito mais. Por outro lado, também sentia que fazia falta no mercado português literatura de viagens direcionada a crianças. E não só. Que esses livros não fossem apenas uma descrição do que foi feito em viagem, mas sim que tivessem uma mensagem “maior”. Nos primeiros dias em que andámos na Arábia Saudita, sozinhos, com total liberdade de decisão, percebi que tinha de falar deste país, das suas características e de valores como amizade e tolerância entre povos diferentes, muito pelas pessoas com que me cruzei por lá.
Porque é que decidiu escrever na perspetiva de uma criança?
Queria que o livro tivesse uma linguagem leve, simples, descomplicada, para conseguir chegar a todos. E para relembrar que devemos ver o mundo como as crianças, ou seja, com curiosidade, abertura e sem preconceitos.
Como tem sido o retorno em relação ao livro?
O livro tem sido muito bem recebido. Em quatro meses de existência de “A amiga saudita” já tive oportunidade de fazer dez apresentações. E sou sempre recebida com grande entusiasmo e interesse. Há uma certa unanimidade em sugerir que o meu livro é uma boa ferramenta para abordar temas importantes para todos, tais como a tolerância e a amizade.
Devemos ver o mundo como as crianças, ou seja, com curiosidade, abertura e sem preconceitos
Nota-se que a Arábia Saudita foi um destino marcante. Como caracteriza o país?
Foi! Eu gosto cada vez mais de destinos que sejam muito diferentes de Portugal, onde eu vivo. Ter um mês pela frente e estar sem guia nem nada marcado, num país como a Arábia Saudita, é estar fora da minha zona de conforto. O que eu adoro…
É preciso ter alguma confiança e tranquilidade, principalmente quando somos responsáveis pela estabilidade emocional de uma criança. Mas, como tudo na vida, vale a experiência. Tenho já 26 anos de viagem, 10 deles com a Maria, que anda comigo e com o Ricardo pelo mundo desde os seus dois meses de vida. Vamos ganhando “calo”.
O país é super conservador. Na capital já se sente uma certa brisa de modernidade, mas no resto do país é outra história.
O livro é também um guia de viagem. Considera que a Arábia Saudita é ainda uma "joia desconhecida"?
Totalmente. Estive lá um mês e cruzei-me com meia dúzia de ocidentais, em Riade e em Jeddah, apenas. Fora dessas cidades maiores, não vi ninguém. Uma questão que levantava sempre grande curiosidade nos habitantes locais era perceber o que estávamos ali a fazer, nas terras mais pequenas. Dá para perceber que não vêm muitos viajantes por lá.
Face à situação atual em que há cada vez mais intolerância, as viagens podem ter um papel importante numa mudança positiva?
Penso que depende da mentalidade e abertura do viajante e da forma como viaja. Se alguém viaja para um destino e já tem todas as certezas do mundo sobre a cultura e os habitantes e não se atreve a sair da sua “bolha” corre o risco de não tomar contacto com a cultura local. Chega a casa exatamente na mesma. Mas se se atrever a andar nos transportes com os locais, conversar com eles, almoçar ou jantar nos sítios que eles frequentam vai ter uma experiência totalmente diferente. Quando há tempo para respirar, sentir o local e as pessoas, assim, sim. A mudança, a expansão da consciência, acontece.
Tem planos em escrever mais livros sobre viagens?
Tenho. Desde o início, a minha intenção foi sempre escrever uma coleção, por isso lhe dei o nome de “Uma aventura em família”. Em fevereiro, irei começar a escrever o segundo, que irá ser sobre um destino que me marcou muito e que também terá uma mensagem forte, tal como “A amiga saudita”.
Ainda mantém o contacto com a "amiga saudita"?
Mantive contacto durante algum tempo depois de regressar da Arábia Saudita. Por um enorme azar, roubaram-me o telemóvel e por isso fiquei sem o contacto dela. Espero que um dia me mande uma mensagem para retomarmos contacto...
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