O Centro Interpretativo do Mosteiro do Lorvão é inaugurado na segunda-feira, após ter sido concluído o projeto de musealização do sobreclaustro daquele monumento, que conta a história do espaço, as suas diferentes ocupações e que expõe vários dos artefactos que por lá se guardavam, nem sempre nas melhores condições.

“Esta era uma aspiração de décadas, das pessoas relacionadas com o Lorvão, que viam o espólio degradar-se ano após ano, em salas sem condições. Com este projeto de musealização, também restaurámos quatro dezenas de peças. Agora, revelamos este tesouro do Lorvão, que estava um pouco esquecido”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Penacova, Álvaro Coimbra, que assumiu o cargo em 2021.

As obras de requalificação dos claustros do Mosteiro do Lorvão com o objetivo de criar ali um museu terminaram em 2014, após um investimento do Estado de mais de 1,5 milhões de euros, com projeto de arquitetura assinado por João Mendes Ribeiro.

No entanto, a musealização acabou por não avançar.

“Entre 2015 e agora, não aconteceu nada. As paredes começaram a degradar-se e houve infiltrações. Foi celebrado um protocolo com a Direção Regional da Cultura do Centro para passar o espaço para a tutela municipal, a Câmara tratou do projeto, mas quando o nosso executivo entrou em funções encontrou o projeto bloqueado”, contou Álvaro Coimbra.

O seu executivo conseguiu resolver um conflito que se mantinha e assegurou financiamento de fundos comunitários na ordem de 650 mil euros para, finalmente, avançar com a criação do centro interpretativo.

No sobreclaustro do Mosteiro do Lorvão é agora contada a história daquele monumento milenar cuja origem se estima ser do século VI e que foi ocupado por monges beneditinos, antes de se converter, no século XIII, num mosteiro feminino.

Com o fim das ordens religiosas, o edifício chegou a servir de habitação (foi construído nos anos 1960 um bairro social na vila para acomodar os seus ‘moradores’), de uma espécie de “pedreira” (a população foi-se servindo ao longo dos anos de pedras retiradas do monumento) e foi hospital psiquiátrico, explicou à Lusa o arquiteto Fábio Nogueira, responsável pela museografia.

No espaço, é possível perceber a forma como eram produzidos manuscritos no Lorvão, mosteiro tido como um núcleo muito importante na época medieval, de onde saíram o “Livro das Aves” e “Apocalipse do Lorvão”, dois manuscritos guardados na Torre do Tombo, estando o último inscrito no registo da Memória do Mundo, da UNESCO.

Réplicas das suas iluminuras e um painel interativo permitem perceber e compreender melhor a importância desses mesmos manuscritos.

Naquele espaço, há uma sala dedicada a peças das cerimónias litúrgicas, com destaque para uma custódia do século XVIII e um livro-baldaquino que é propriedade do Museu Nacional Machado de Castro (entidade que cede algumas peças originárias do mosteiro), assim como uma secção focada na vida do monumento após se converter num mosteiro feminino, de onde se ouve a voz da especialista em canto gregoriano Filipa Taipina a interpretar uma parte da obra “Gradual de Lorvão”, música que acaba por ecoar por todo o centro interpretativo.

São abordados temas como o boticário e a música, havendo uma sala dedicada a D. Catarina de Eça (a abadessa que mais tempo esteve à frente do mosteiro, entre 1472 e 1521), com seis peças de um retábulo que mandou construir.

O centro interpretativo conta ainda com uma sala dedicada aos cultos praticados no Lorvão (onde se encontra uma estátua de uma cabeça degolada de São João Baptista, peça pouco comum em Portugal), assim como a ligação do espaço à comunidade, seja através da comida e dos doces que ali eram confecionados, seja através da produção de palitos, que terá começado no mosteiro e que acabou por se tornar numa atividade económica relevante da vila, aclarou Fábio Nogueira.

Para além do centro interpretativo, a visita segue depois para a Igreja do Lorvão, onde se pode contemplar o cadeiral e o órgão de tubos do mosteiro.

“Este circuito expositivo, que acompanha os novos tempos, será um fator de atratividade do Lorvão, para que o mosteiro, enquanto monumento nacional que está relacionado com a nossa nacionalidade, tenha outra visibilidade em termos nacionais”, vincou Álvaro Coimbra.

Para o futuro, a Câmara de Penacova pretende dinamizar exposições temporárias com peças que eram originalmente do Mosteiro do Lorvão, sonhando com a possibilidade de ter expostos naquele espaço, “ainda que temporariamente”, o “Livro das Aves” e o “Apocalipse do Lorvão”.

Além do centro interpretativo, o município espera que, face ao parecer favorável já emitido pela Direção Regional da Cultura do Centro, possa avançar a reconversão de uma parte do monumento num hotel de cinco estrelas, no âmbito do programa Revive.

O centro interpretativo poderá ser visitado, no horário de verão, entre as 09:00 e as 13:00 e as 14:00 e as 18:00, tendo um custo de entrada de 4,5 euros.