Sediados na delegação de Setúbal do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, ambos fazem parte da equipa de nove vigilantes da natureza responsável pela proteção de uma das reservas naturais mais importantes do país, que contempla ainda um Parque Marinho contíguo à área terrestre classificada, abrangendo os concelhos de Setúbal, Palmela e Sesimbra.
Na viatura de primeira intervenção, equipada com 500 litros de água e material sapador, os dois guardiões arrancam para mais uma incursão ao coração do PNArr, composto por várias serras e banhado a sul pelo Oceano Atlântico.
À medida que sobem a encosta e a vista se expande, o verde da montanha dá lugar ao azul do mar. O silêncio é apenas quebrado pelos motores dos automóveis ou pela passagem dos ciclistas.
“Esta área de 12.300 hectares tem cerca de 300 hectares que são propriedade do Estado e a restante área é propriedade privada. O nosso trabalho diário é de fiscalização e vigilância. Nesta altura do ano, na primavera, é mais de educação ambiental: acompanhamento de visitas guiadas, de escolas, de universidades que visitam a Arrábida. Fazemos o acompanhamento e damos a explicação sobre esta área protegida”, conta João Pernão, de 53 anos.
Munido de binóculos enquanto Augusto Correia transporta um rádio portátil, os dois vigilantes da natureza percorrem áreas previamente definidas e trilhos programados em busca de ilícitos e de infratores. Ao longo do percurso, há várias paragens obrigatórias e atividades para verificar.
“Fazemos a fiscalização das construções na área do parque, que têm de ter parecer favorável; a verificação das podas dos sobreiros, da apanha da pinha ou do corte dos pinheiros; controlamos as atividades de ar livre, como os passeios pedestres em grupos organizados, as provas desportivas, com bicicletas ou corridas, e também fazemos a fiscalização da pesca”, relata Augusto Correia no alto do Jaspe, de onde é possível admirar o Portinho da Arrábida.
Os vigilantes da natureza têm o poder de atuar e de punir, levantando autos de notícia sempre que detetem alguma violação do plano de ordenamento dos 12.300 hectares do Parque Natural da Arrábida, ou da legislação específica que envolve as florestas e a conservação da natureza.
O dia de primavera está soalheiro e a temperatura alta. Com chapéu na cabeça, polo verde e calças castanhas, João Pernão e Augusto Correia efetuam mais uma paragem programada para verificar a existência de possíveis focos de incêndio ou a presença de barcos ou de pescadores a pescar na zona do Parque Marinho.
A transmissão via rádio para a central, em Setúbal, dá conta de que “não há nada a registar”. Com o verão, chega a época que ocupa a maior parte do tempo destes profissionais.
“Desde maio até final de setembro fazemos a vigilância de incêndios. Mas mesmo durante esse período, também fazemos a fiscalização das atividades e das normas do plano de ordenamento que rege aqui a área protegida”, frisa João Pernão.
O Parque Natural da Arrábida está integrado no dispositivo do Comando Distrital de Operações e Socorro de Setúbal, que conta com outras forças interligadas.
“No verão, o nosso patrulhamento incide mais na zona sul da Arrábida, que é menos vigiada pelas torres de vigia e é aqui onde nos mantemos e damos o alerta. Estamos ligados com a GNR e toda a ação é feita em conjunto com as restantes entidades”, explica Augusto Correia, de 48 anos.
Além da paisagem única, o Parque Natural da Arrábida permite aos moradores da zona a produção e vinho, ou dedicarem-se à pastorícia, ao artesanato e à cerâmica, entre outras atividades.
Portugal tem 121 vigilantes da natureza, número que devia duplicar, segundo os sindicatos.
O Governo lançou em fevereiro um concurso para a contratação de 20 novos destes profissionais.
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