Fundada a 1 de abril de 1919 e expulsa da Alemanha pelos nazistas nos anos 1930, a Bauhaus terá a partir de sábado o seu templo em Weimar, onde nasceu esta corrente artística e que deu o seu nome à breve democracia alemã de entre guerras.

"Não vão poder ver esta inauguração separada do seu contexto político", afirmou à AFP Wolfgang Holler, diretor dos museus de Weimar.

A cidade fica no estado regional de Turingia, na ex-Alemanha Oriental, que se tornou reduto do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Este último aspira a ter resultados de dois dígitos tanto nas eleições europeias de maio como nas regionais previstas para o outono.

"A Bauhaus era, desde o início, muito política. E é então uma ocasião perfeita para iniciar uma conversa, em particular com os jovens", acrescenta Holler, que espera 100.000 visitantes por ano.

Justaposições fascinantes

O museu foi construído no seu contexto histórico, e o arquiteto Heike Hanada desenhou-o num espaço que data da República de Weimar, entre um edifício nazista e edifícios construídos durante a era comunista.

"Atingi o meu objetivo principal, que era que o museu pudesse enfrentar a arquitetura nazista", disse Hanada ao jornal local Thüringer Allgemeine.

"Estas justaposições fascinantes falam muito da forma como o país se vê", ressaltou Wolgang Holler.

Uma janela foi colocada especialmente no último andar do museu para que se possa ver o memorial do campo de concentração nazista de Buchenwald.

Gigantescos retratos contemporâneos de sobreviventes desse campo foram colocados esta semana sobre os edifícios na avenida que vai da estação de Weimar até ao museu.

O fotógrafo Thomas Müller explicou a uma rádio alemã que as fotos procuravam desafiar o AfD, cujas figuras principais fazem declarações controversas sobre o nazismo e o holocausto.

"De olho nas eleições (regionais) em Turingia, devemos enfrentar nossa história de forma responsável", apontou, quando as pesquisas dão à extrema direita 20% dos votos.

A perseguição da Bauhaus está em muito boa posição no museu, que conta como a escola e o fundador Walter Gropius fugiram de Weimar a Dessau (centro) em 1925, depois a Berlim em 1930, antes do movimento ser proibido pelo regime nazista em 1933.

"Aprende-se o quão difícil pode ser para os que estão à frente do seu tempo", lembra o diretor dos museus de Weimar.

Bunker

Mas este exílio forçado facilitou que o movimento conquistasse o mundo com a ideia de fazer coisas práticas, simples e belas, e as suas ideias estão presentes nos iPhones e nos móveis Ikea contemporâneos.

Obras icónicas do design estão expostas no novo museu, como as cadeiras revolucionárias de Marcel Breuer ou o bule de Marianne Brandt.

Alguns críticos ressaltam, no entanto, que o edifício do museu de Weimar, um cubo cinzento muito sóbrio que custou 27 milhões de euros, tem mais aspecto de bunker militar que de grande lugar arquitetónico.

"Alguns o compararam inclusive com a Wolfsschanze", o nome do quartel-general de Hitler na Polónia durante a Segunda Guerra Mundial, admite Holler.

"Mas queremos algo que diga: 'Não nos escondemos'", aponta Holler.

Fonte: AFP