Foto: Hugo Delgado|Lusa

O ano de 2017 vai ficar para a história como o “ano da avalanche” em que tudo aconteceu a Sistelo. Tornou-se na primeira aldeia do país a deter a classificação de monumento nacional de paisagem cultural, e foi eleita como uma das 7 Maravilhas de Portugal.

Bastaram seis anos e “muito trabalho” para que a aldeia de Sistelo, considerada o pequeno Tibete português, passasse do anonimato para a ribalta, “com 100 mil visitantes por ano e mais de dois milhões de investimento privado executado e em curso”.

O presidente da Junta de Freguesia compara a transformação a uma “explosão”. Abriram restaurantes, recuperaram-se de casas, outras foram compradas para se criar alojamento local”.

Para Sérgio Rodrigues, em meia dúzia de anos, a aldeia conseguiu o que se vinha perdendo há décadas.

“Estamos a falar de fixar população e de criar postos de trabalho. Já foram criados 10 novos empregos. Para uma aldeia com 199 habitantes é expressivo. Nas últimas décadas perdemos população e não se criaram postos de trabalho”, apontou.

Não foi “milagre”, por saber o “trabalho imenso” que exigiu dar resposta à nova realidade, “sempre feito em equipa” com a Câmara Municipal, e que já permitiu um investimento público de mais um milhão de euros na aldeia.

Faltam dados reais para dar expressão numérica aos turistas que visitam a aldeia situada no Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), bem junto à nascente do rio Vez. A sua paisagem estende-se por cerca de 2.683 hectares, a cerca de 20 quilómetros da sede do concelho.

A estimativa dos 100 mil visitantes por ano, avançada pelo presidente da Junta de Freguesia, assenta no sistema de contagem de pessoas, instalado na ecovia do Vez e, também, pelos turistas que se dirigem ao castelo da aldeia, onde foi criado um interpretativo, com posto de turismo.

Desde o início de 2022, “o número de visitantes, por semana, oscila entre as 300 a 400 pessoas” e Sérgio Rodrigues estima que aquela “afluência vai começar a aumentar a partir de agora, com o tempo a permitir passeios, e as pessoas desejosas por rumar a novas paragens”.

“Há vários segmentos de visitantes. Os vêm para almoçar e dar uma volta. Outros, que percorrem a ecovia do rio Vez, os passadiços, mas também temos muita gente e procurar os trilhos. Temos cerca de 70 quilómetros de trilhos pela freguesia e, em alta montanha”.

O impacto inicial deste “fenómeno turístico” causou “estranheza” aos habitantes habituados a sossego e tranquilidade, mas rapidamente entranharam os “benefícios imediatos que a “avalanche” e a “sustentabilidade futura” que a nova dinâmica vai garantir a Sistelo.

“Passámos de uma aldeia sem futuro, onde não se vislumbravam grandes saídas, para uma sustentabilidade garantida”, destacou, adiantando que o turismo “vai ser uma alavanca muito forte para reinventar a agricultura de subsistência praticada nos socalcos da aldeia.

“Temos um projeto já aprovado pelo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020 para criar um mercado local de Sistelo para apoiar os produtores locais”.

A construção dos verdes socalcos, um dos principais pontos de atração de Sistelo, “teve a sua origem na necessidade de produzir milho e feijão tarreste”, este último um dos principais ingredientes do prático típico da aldeia. Numa posta de carne cachena não pode faltar o arroz de feijão tarreste.

“Os socalcos foram construídos, não exclusivamente, mas com o propósito de produzir milho e feijão tarreste, para obter um melhor sistema de regadio”, reforça o autarca.

Com a “avalanche” de visitantes, “neste momento já há dificuldade em encontrar feijão tarreste suficiente para a procura”.

Em formato de rim, é miúdo e tem pele fina, apresentando uma grande variedade de padrões e cores, com predominância para o bege.

Depois confecionado, mantém o grão inteiro, com interior creme e aveludado de sabor intenso.

A sua colheita ocorre normalmente de agosto a setembro, após o que se segue a secagem, debulha e crivagem.

Depois de limpo, o feijão é armazenado em caixas de madeira, misturado com folhas de loureiro e de eucalipto. Para uma conservação mais longa, o feijão é colocado em sacos de plástico que são armazenados em arcas frigoríficas.

O feijão tarreste cultiva-se, sobretudo, nas freguesias das serras da Peneda e Soajo.

Em 2009, foi incluído na Arca do Gosto do "Slow Food", um catálogo mundial de produtos da terra considerados "especiais", pelo seu valor nutritivo, mas ameaçados de extinção.

Por: Andrea Cruz, da agência Lusa