Por Alexandros Kottis

Atenas, uma das capitais mais quentes da Europa, é particularmente vulnerável a ondas de calor devido à sua alta densidade populacional, à presença massiva de concreto e à falta de espaços verdes, segundo especialistas.

Há mais de uma semana, o calor avassalador tem dominado a maior parte das conversas enquanto, à tarde, os seus habitantes desfrutam de um relativo frescor nas varandas dos cafés.

Espera-se que o termómetro volte a ultrapassar os 40 ºC neste fim de semana, obrigando as autoridades a fechar o acesso à Acrópole ao meio-dia.

A onda de calor continuará até ao final do mês, com "temperaturas acima de 40 ºC por seis ou sete dias", anunciou nesta sexta-feira (21) o meteorologista Panagiotis Giannopoulos.

Em 2007, Atenas, com mais de 3 milhões de habitantes, já havia registado um recorde de 44,8 ºC.

"Com o concreto e o asfalto, as cidades transformam-se em fornos. Em Atenas, há muito poucos espaços verdes que permitem reduzir a temperatura", explica à AFP Kostas Lagouvardos, diretor do instituto de pesquisa ambiental e desenvolvimento sustentável do Observatório Nacional de Atenas.

"Além disso, as florestas ao redor da cidade estão desaparecendo devido aos incêndios", lamenta.

Atenas, geralmente com um clima mais moderado graças aos seus rios e colinas, é vítima das construções de concreto. Do topo da Acrópole, a cidade estende-se até onde os olhos alcançam com um emaranhado de prédios e casas, mas poucos espaços verdes.

O seu centro é o segundo mais densamente povoado da Europa, depois de Paris, de acordo com o Eurostat.

"Na Grécia, constrói-se o tempo todo e em todos os lugares", resume o urbanista Aris Kalandides.

Projetos contrários a prioridades ambientais

Segundo os números da ONG WWF, em Atenas há 0,96 m2 de espaço verde por habitante, enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 9 metros por quadrado.

Com apenas 11% da sua superfície coberta de árvores, a cidade é a menos verde de todas as capitais europeias, aponta a Agência Europeia de Meio Ambiente.

A falta de estratégia e de vontade política parecem ser os principais obstáculos para reverter esta tendência, de acordo com os especialistas.

Em 2021, Atenas nomeou o seu primeiro responsável climático, encarregado de tomar decisões com o objetivo de adaptar infraestruturas e comportamentos às mudanças climáticas.

A nomeação foi acompanhada de um empréstimo de 5 milhões de euros do Banco Europeu de Investimento (BEI).

“O tecido urbano de Atenas é constituído por construções densas que cobrem 80% da sua superfície. Todo este asfalto e concreto retém o calor” durante as épocas de altas temperaturas, indica o BEI num relatório.

Entre os projetos lançados desde então figuram a criação de três “corredores verdes” e uma melhor gestão da água na colina mais alta, o Monte Licabeto.

No entanto, outros vão contra as prioridades ambientais. Foram cortadas dezenas de árvores para a construção de novas estações de metro e, no terreno do antigo aeroporto de Elliniko, será construído um enorme complexo imobiliário.

Por sua vez, o “grande passeio” - previsto no centro de Atenas, com árvores e bancos - está em construção há três anos.

“Falta planificação política e um compromisso do conjunto da população”, lamenta Iris Lykourioti, professora associada do departamento de Arquitetura da Universidade de Tesalia.

“Estamos num período em que as políticas de investimento prevalecem sobre a proteção do meio ambiente”, diz, destacando a falta de informação, educação e sensibilização sobre temas que são cruciais para o futuro da cidade.