Este novo espaço verde é o primeiro "microbosque" de Atenas, idealizado pelo presidente da câmara da cidade, Haris Doukas, que pretende plantar 5.000 arbustos e árvores por ano.

Nesta cidade mediterrânica, coberta de betão, são raros os espaços verdes, enquanto as temperaturas regularmente passam dos 40°C durante vários dias em pleno verão.

Reflorestar as cidades é um tema crucial para os cientistas, numa altura em que as alterações climáticas causam ondas de calor mais intensas e o efeito "ilha de calor urbana" eleva ainda mais as temperaturas.

As pequenas árvores do parque Alepotrypa, em Kypseli, vão precisar de cerca de uma década para crescer.

"Muito pouco, muito pouco", lamenta Katerina Christoforaki, arquiteta e urbanista da Universidade Técnica de Atenas, em entrevista à AFP.

A última tentativa de reordenamento de Atenas foi há 20 anos, antes dos Jogos Olímpicos de 2004. Mas, na época, a construção de estádios e infraestruturas de transporte foi favorecida em detrimento dos espaços verdes.

Atenas planta mais árvores para lutar contra ondas de calor, mas iniciativa já vem tarde
Atenas planta mais árvores para lutar contra ondas de calor, mas iniciativa já vem tarde Atenas, Grécia créditos: AFP

Oportunidade perdida

"Não se deu importância à redução do tráfego automobilístico, nem à modernização dos edifícios", acrescenta Katerina Christoforaki.

A maioria dos prédios e das ruas de Atenas foi construída com materiais de mais de 40 anos atrás, que absorvem o calor no verão e no inverno têm um isolamento deficiente, assinala.

Para o presidente-adjunto encarregado do clima, Nikos Chrysogelos, ex-eurodeputado dos Verdes, Atenas "perdeu uma oportunidade" para desenvolver um dispositivo anticalor durante os trabalhos para os Jogos Olímpicos de 2004.

"Desde 2000, tínhamos a possibilidade de fazer muito, pois conhecíamos a magnitude do problema", acrescenta.

Com mais de quatro milhões de habitantes, a região metropolitana de Atenas desenvolveu-se desordenadamente, ao mesmo tempo que perdeu 60% dos bosques nos arredores devido aos repetidos incêndios dos últimos verões, assinala.

A construção de edifícios altos no balneário suburbano também impede que a brisa do mar refresque a cidade.

"Caldeira fervente"

Segundo a Eurostat, o centro de Atenas é a segunda área mais densamente povoada da Europa, depois de Paris.

A capital grega tem apenas 0,96 metro quadrado de espaço verde por habitante, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), o que está muito longe do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de pelo menos nove metros quadrados por habitante.

Para Ivvona Kujda, uma moradora de Atenas de 54 anos, as ondas de calor dos últimos anos são "alarmantes".

"Atenas é uma bacia cercada por três montanhas, estamos dentro de uma caldeira fervente", diz esta polaca radicada na Grécia há décadas.

Em 2021, Atenas registou a pior onda de calor dos últimos 30 anos, com temperaturas de 45°C. Nos dois últimos verões, também sofreu com ondas de calor prolongadas.

Para Achilleas Plitharas, ex-encarregado da secção grega do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), a cidade precisa de uma solução mais drástica do que os microbosques.

"Não é que Atenas tenha perdido o comboio. É que nunca foram construídas as vias para ele", ironiza.

25 mil árvores até 2028

"Seria necessária uma intervenção em larga escala", assegura. Isso poderia levar, inclusive, à demolição "de blocos [habitacionais] inteiros para criar corredores verdes".

"Mas isso requer vontade política e decisões difíceis de cooperação das quais carecemos", acrescenta.

Autarca de Atenas desde janeiro de 2024, Haris Doukas comprometeu-se a plantar 25 mil árvores até 2028 para tentar reduzir a temperatura sentida no verão de três a cinco graus.

Novos sensores fornecerão dados de temperatura em tempo real, bairro por bairro, durante os dias mais quentes para planear uma resposta urgente, se for necessário.

Enquanto isso, a cada verão, os atenienses lutam como podem para se protegerem-se do calor sufocante.

Ivvona Kujda trabalha apenas pela manhã e ao final da tarde. Nas horas mais quentes, refugia-se em casa. "Não há quase espaços verdes, nem oxigénio suficiente", lamenta. "Acho que isso vai agravar-se porque o clima muda".