Bilhete-postal por Matilde
Veneza é uma das minhas cidades preferidas. Já lá fui várias vezes e saio sempre maravilhada como se estivesse pela primeira vez a ver aqueles canais e ruas magníficas.
A primeira vez que visitei Veneza levava comigo grandes expectativas - o que pode ser, muitas vezes, a chave para a desilusão. Contudo, essas expectativas corresponderam à realidade. Na verdade, saí de lá mais maravilhada do que achava possível. A cidade é diferente de todas as outras, há uma loja a vender massa fresca em cada esquina, as casas coloridas chamam a atenção para todos os detalhes, e todas as ruas e ruelas dão-nos vontade de partir à descoberta.
Como muitas outras cidades de Itália, também Veneza está cheia de arte. As vistas naturais e arquitetónicas são bonitas é certo, mas vale também muito a pena visitar o interior dos edifícios e apreciar todas as salas, escadarias, esculturas e frescos.
Em Novembro do ano passado fui, pela terceira vez, visitar a cidade que flutua. Uma amiga minha veio de Portugal visitar-me e decidimos encontrar-nos, primeiro, em Veneza.
Nesse dia, quando saí da estação de comboios de Santa Lucia, decidi que ia, sem mapa, ter com a minha amiga que me esperava, com o telemóvel quase sem bateria, na Piazza San Marcus. Já sabia que a cidade estava cheia de dois tipos de placas, umas a indicar a direção da tão famosa praça, e outras que apontavam o caminho até à Ponte Di Rialto. Ainda tinha uma caminhada de 40 minutos pela frente, e certamente demorei mais tempo, mas não há melhor sítio para nos perdermos do que as ruas tão bonitas de Veneza.
Como o sol já se tinha posto, quando nos encontramos decidimos que íamos só vaguear pela cidade, sem destino. Comemos uma massa fresca deliciosa sentadas nas escadas de uma ponte, a absorver toda a magia daquele sítio e a falar do quão felizes estávamos por estar ali.
Todas as ruas são uma descoberta.
No dia seguinte tinhamos pensado em ir visitar a Scola Grande S. Rocco logo pela manhã. Para mergulhar completamente na cidade, vimos a direção do nosso destino no GPS, desligámos o telemóvel e começamos a caminhar. Não conhecíamos aquelas ruas, simplesmente seguiamos pelo percurso que mais agradável nos parecia. Todas as ruas são uma descoberta. Encontra-se um canal diferente e uma nova ponte com uma facilidade enorme, e todas nos maravilham da mesma maneira.
Nesse dia almoçamos, novamente, massa fresca num restaurante que encontramos por mero acaso numa das nossas deambulações pela ruas da cidade.
À tarde, compramos o passe dos Museus e visitamos o Palazzo Ducale e o Museo Correr. Numa das lojas de recordações, abri um livro sobre a cidade numa página aleatória e li a seguinte frase, de Tiziano Scarpa:
"Um sítio onde nos podemos perder é o único sítio que vale a pena ir"
(A place where you can get lost is the only place worth going to.)
Foi bonito ler o que alguém, já há uns anos, pôs por escrito o que eu tinha estado a sentir nas últimas 24 horas.
Durante a minha experiência em ERASMUS documentei tudo num diário. Estas são as páginas que fiz desses dois dias em Veneza, a cidade onde vale a pena não usar um mapa:
3 vezes em Veneza já me parecem vezes suficientes, porque há tantos outros sítios a visitar e tantos outros sítios onde, certamente, valerá também a pena perdermo-nos. Apesar de não pensar voltar tão cedo, vou sempre guardar comigo a cidade onde o melhor se encontra sem um roteiro, e onde os sentidos são o mapa perfeito para determinar a próxima paragem.
Podem ler mais da Matilde, e da sua experiência de Erasmus na Eslovénia, no seu blog Designing my Dream Life.
Comentários