Bilhete-postal enviado por Maria Lopes Costa

Primeiro destino imaginado? Madrid.

Ups, não tenho orçamento para tanto, deixa cá ver uma cidade mais económica e sempre dá para estar três dias fora.

Segunda opção? Valência.

Até parece interessante e possível de ser vista em 3 dias, perfeito é mesmo isto!

Pesquisa ora de voos, ora de hotéis, ora de roteiros, ora de descobrir aqueles locais emblemáticos não tão turísticos e em instantes tudo marcado e o orçamento no limite.

Isto tinha mais encanto se fosse uma surpresa ao género de filmes e ao estilo de “faz as malas porque vamos de viagem mas não digo para onde”. Está decidido e se é para ser surpresa que seja em grande!

Dia antes da partida, em monólogo para manter a surpresa: "bem, se o voo é as 9.00h, chegamos ao aeroporto pelas 7.00h para evitar as correrias. Malas feitas, tudo preparado para 3 dias… inesquecíveis (e diferentes)".

Dia da partida: Madrugada, 06.30h, um táxi, “é para o aeroporto por favor”. Tudo dentro dos timings, destino ainda não revelado, mãe e filha a tomar um pequeno-almoço ibérico para entrar no espírito, lenta caminhada para o balcão de check-in e… “O voo para Valência minhas senhoras? Então mas o voo já fechou, a partida foi agora às 7.00h…”, disse uma simpática senhora.

Como? Não pode ser! Não é possível…

Mãe e filha já não tão animadas, filha perdida entre soluços mas em busca de soluções.

“Pois outro voo só logo à noite ou amanhã pela mesma hora do que já partiu…”, ouvimos no balcão.

Alternativas? “Temos daqui a nada um voo para Madrid e lá terão mais alternativas para seguir até Valência, seja de avião ou comboio”. Momento de aflição, pesquisas rápidas pela internet, contas ao orçamento e em uníssono “Sim, queremos então dois bilhetes para Madrid e seguimos por TGV e logo à noite estamos em Valência”.

Descolagem em choro contínuo, repetições vezes sem conta de “Mãe, era suposto ser uma surpresa e estraguei tudo, agora nem Valência vamos conseguir conhecer e ainda ficamos perdidas em Madrid”, voo tranquilo mas com turbulência interna entre lenços e lágrimas, acalmando à medida do momento de aterragem. Vendo bem e para animar o espírito, a ideia era oferecer à Mãe uma viagem a Valência, com todos estes percalços, no fim de contas ia conseguir um fim-de-semana, vulgo, dois em um.

Chegadas a Madrid, fomos directas à estação de comboios, escolhida a partida de TGV mais tardia para aproveitar bem o dia pela cidade, bagagem guardada e hora de pegar num mapa e maximizar todos os minutos. Tivemos 8 horas por Madrid, 8 horas a caminhar sem parar, 8 horas onde conseguimos passar por todos os locais emblemáticos recomendados e apreciar a (nossa) felicidade nesta visita rápida.

Tomamos café nas esplanadas da Plaza Mayor, “almoçamos” churros com chocolate, “tapeamos” pelo mercado de San Miguel, fizemos compras (muito rápidas) na Gran Via, conseguimos entrar nos dois museus principais (com a esperança de voltar para realmente apreciar tudo), assistimos a celebrações oficiais na Puerta del Sol, percorremos um sem fim de ruas aleatórias a descobrir tantos outros recantos de cortar a respiração e acabámos a descansar uns minutos no Parque del Retiro com uma saqueta do típico “jamon”. Nova correria e partida para o destino inicial.

Uma viagem tranquila e a recuperar forças para os dois próximos dias em Valência. Chegámos já com a madrugada a cair e qual era o nosso desejo para este primeiro jantar? Tapas, muitas tapas! O que jantámos? Um hambúrguer de uma cadeia de fast food. Está visto de seguir tudo à risca não é com esta dupla.

Daqui para a frente: dois dias agitados para tentar recuperar o dia “perdido” e acreditem, estes dois rápidos e completos não poderiam ter sido melhores. Conseguimos levar ao fim todo o roteiro que tínhamos traçado e fomos tão, mas tão felizes que esta aventura foi, definitivamente, o quilómetro zero das viagens entre mãe e filha.