![Passadiços do Mondego: uma caminhada deslumbrante que é (quase) obrigatório começar de carro](/assets/img/blank.png)
Bilhete-postal por Pedro Neves
Sou apaixonado por caminhadas na Natureza, mas reconheço a conveniência e segurança de um percurso realizado em passadiços, onde não é preciso prestar atenção a sinais em pedras e árvores ou consultar mapas em cada encruzilhada.
Os Passadiços do Mondego estavam na minha lista de locais a visitar desde a sua abertura em novembro de 2022. Além do desafio colocado pelos seus 12 quilómetros de extensão, representa uma oportunidade de ouro para qualquer caminhante com vontade de realizar um passeio relativamente descontraído por esta parte do Parque Natural da Serra da Estrela.
08h15: Partida do centro da Guarda
Já sabia que os passadiços distam sensivelmente sete quilómetros da cidade da Guarda, mas tinha esperança que não fosse preciso usar automóvel para os visitar. A página oficial do equipamento inclui uma área intitulada Como chegar, só que, algo paradoxalmente, apenas fornece indicações rodoviárias. Para um dos maiores projetos de turismo ambiental do género no país, é surpreendente a inexistência de qualquer dica dirigida a visitantes que prefiram chegar a pé (o meu caso) ou de transporte público.
Não me deixei demover pela caminhada adicional e pernoitei no centro da Guarda, de modo a assegurar que alcançava os passadiços o mais cedo possível e completava o seu percurso dentro do horário de abertura (no inverno, das 9h às 17h).
![Sé da Guarda Sé da Guarda](/assets/img/blank.png)
O meu dia começou a poucos passos da imponente Sé da Guarda, situada a cerca de sete quilómetros da Barragem do Caldeirão, onde fica a entrada dos Passadiços do Mondego mais perto da cidade.
09h12: Pela berma da estrada
![Estrada até aos Passadiços do Mondego Estrada até aos Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
Os dois primeiros quilómetros são feitos dentro dos limites da cidade e quase sempre pela calçada. Depois, quem estiver a pé precisa de seguir com cautela pela berma, muito estreita, de estradas secundárias. Ainda assim, num dia de semana em novembro, o tráfego rodoviário era bastante escasso. A parte mais assustadora para mim foram mesmo os cães "nervosos" que me ladraram do interior das casas situadas ao longo do trajeto.
09h50: Porta do Caldeirão
![Passadiços do Mondego Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
Quando cheguei à Barragem do Caldeirão a sensação já era de superação, apesar de ainda me esperarem 12 quilómetros com um desnível acumulado de 600 metros. À entrada dos Passadiços encontrei dois simpáticos assistentes que "leram" o código QR do meu bilhete no telemóvel (comprado de véspera, por 2,5€, e válido apenas para esse dia). A leitura do bilhete permite saber, em tempo real, quantas pessoas estão a percorrer os passadiços.
Os horários dos passadiços variam de acordo com a estação do ano, mas é recomendável iniciar o percurso o mais cedo possível, para garantir que podem aproveitar a paisagem com tempo e pausas para descansar.
10h16: Uma monumental escadaria
![Passadiços do Mondego Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
O primeiro desafio dos Passadiços do Mondego é a monumental escadaria com 600 degraus instalada junto à Barragem do Caldeirão. Vista de cima ou de baixo é uma estrutura que impressiona pela sua dimensão e desnível (quase 500 metros!). Não se deixe desencorajar quem não consiga mesmo superar esta parte do percurso. Em alternativa, podem começar/terminar a caminhada junto à povoação da Mizarela (fica suficientemente perto da escadaria para que a possam ir espreitar a partir de baixo).
10h27: O outono nos passadiços
![Passadiços do Mondego Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
Optei por percorrer os Passadiços do Mondego no outono, de modo a evitar o calor e a não ter de os partilhar com outros visitantes. Só consegui evitar mesmo as pessoas, porque num dia solarengo de novembro, perante o ritmo da caminhada, vi-me rapidamente na necessidade de trocar a camisola por uma t-shirt. Levem casaco, mas apostem em roupa desportiva confortável, leve e respirável.
11h31: Pausa à beira do rio
![Passadiços do Mondego Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
Um dos locais mais bonitos que encontrei ao longo dos passadiços fica perto da Porta de Vila Soeiro, onde também é possível iniciar ou terminar o trajeto sem precisar de ousar a monumental escadaria da Barragem do Caldeirão. É aqui que contactamos pela primeira vez, e de perto, com o Mondego, neste ponto ainda mais regato do que rio, dada a proximidade da sua nascente. Ao fim de poucos quilómetros (mais sete, para quem partiu da Guarda a pé), é o sítio ideal para fazer uma pausa (há WC no local) e descansar ao som do Mondego a serpentear o vale.
13h40: Uma levada na Serra da Estrela?
![Passadiços do Mondego Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
Uma levada é algo que nos habituámos a associar à ilha da Madeira, mas também faz parte da história e paisagem da Serra da Estrela, como nos mostra este canal de irrigação construído outrora para desviar as águas do Mondego para a produção de eletricidade.
14h20: Paisagens que desafiam a nossa presença
![Passadiços do Mondego Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
Há qualquer coisa de irreal em percorrer algumas destas paisagens confortavelmente num passadiço de madeira, sem qualquer complicação ou grau de incerteza. Mentalmente, a sensação não é muito diferente daquela que podemos ter ao caminhar despreocupadamente pelo corredor de um grande centro comercial na cidade. Para tornar tudo ainda mais incongruente, até Wi-Fi há aqui (assegurado por alguns pontos de ligação instalados ao longo do caminho).
14h37: Tons outonais
![Passadiços do Mondego Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
Esta ponte em particular impressionou-me pelo cenário outonal que a rodeava, no qual a luz do entardecer iluminava as folhas amarelas dos castanheiros. Neste ponto da caminhada já começava a mostrar sinais de cansaço, muito por culpa do peso da minha mochila.
14h56: Curiosos à beira do caminho
![Passadiços do Mondego Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
Apesar de ser uma segunda-feira, não fui o único a querer espreitar as cores outonais ao longo dos passadiços. Cruzei-me com cerca de três dezenas de visitantes, a maioria a seguir, curiosamente, no sentido contrário ao meu. Quem deixou a maior impressão em mim, todavia, foi esta dupla de burros numa propriedade à beira do caminho.
16h01: Na reta (ou escadaria) final
![Passadiços do Mondego Passadiços do Mondego](/assets/img/blank.png)
A escalada que nos aguarda no lado de Videmonte não é tão repentina quanto na outra ponta dos passadiços, mas não deixa, mesmo assim, de envolver várias centenas de degraus. Para quem já levava mais de 15 quilómetros nas pernas, não é a visão mais animadora. Olhar para trás, para o vale do Mondego parcialmente iluminado por um sol cada vez mais baixo no horizonte, proporcionou algum do alento necessário para terminar o desafio do dia.
À saída, dois assistentes da Câmara Municipal da Guarda esperavam para voltar a ler o código do meu bilhete. Não resisti a perguntar por quantas pessoas ainda se encontravam no "sistema" e foi assim que fiquei a saber que cinco caminhantes ainda se encontravam algures a percorrer o vale do Mondego. Depois de uma caminhada essencialmente solitária, este reencontro com a tecnologia voltou a evidenciar a singularidade deste género de equipamento.
Regresso à Guarda
Mesmo depois de 19 quilómetros a andar (12km dos Passadiços mais os 7 quilómetros por pura teimosia desde a Guarda), não me quis dar por derrotado e chamar um táxi de regresso à cidade. A solução, planeada de antemão, foi pernoitar na pequena, mas carismática, aldeia de Videmonte, conhecida pela sua hospitalidade (que não tive oportunidade, infelizmente, de pôr à prova, por ter chegado a uma segunda-feira, dia de descanso de praticamente todo o comércio local). Na manhã seguinte, apanhei o primeiro serviço rodoviário da Transdev até ao centro da Guarda.
Como chegar (a pé) aos Passadiços do Mondego
Partindo do centro da Guarda, descer até aos Bombeiros Voluntários da Guarda. Contornar o quartel e seguir na direção de Maçainhas na primeira rotunda. Pouco depois, cortar à direita e seguir pela Estrada do Vale do Cubo até voltar a encontrar a N16. Virar à esquerda e, depois de alguns quilómetros pela estrada nacional, já com a albufeira da Barragem do Caldeirão visível, cortar na direção de Pêro Soares.
Se usarem o Google Maps, ignorem a indicação para seguir em frente pela Estrada de Maçainhas. À data da minha viagem, o atalho proposto pela aplicação de mapas estava encerrado à passagem de pessoas e carros.
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