Viajar pelo país de comboio implica estar disposto a fazer escolhas. Fazê-lo durante um mês de greves no setor obriga, por seu turno, a aceitar as escolhas dos outros. No meu caso, significou uma visita-relâmpago a Vila Praia de Âncora, praticamente no extremo norte da rede ferroviária nacional.
Não levava nenhuma imagem mental do meu destino, mas a recomendação “obrigatória” de uma amiga natural da zona e a sua acessibilidade por comboio foram suficientes para me suscitar a curiosidade sobre esta paragem na Linha do Minho.
Na sua aproximação pelo sul, o comboio descreve uma curva que revela subitamente a paisagem que dá o nome a esta vila piscatória no município de Caminha. Não somos os únicos a chegar: abrindo caminho pelo areal, também o rio Âncora encontra ali o mar.
À saída do apeadeiro, literalmente ao virar da esquina, damos de caras com o segundo bilhete-postal de Âncora: a fachada da Capela de Nossa Senhora da Bonança, decorada por estes dias por uma faixa colorida de flores.
Será que lhe podemos chamar um jardim vertical? Seja o que for, é um dos arranjos florais mais espetaculares que me lembro de ver ao vivo. As petúnias não passam despercebidas a nenhum olhar na Praça da República, incluindo a partir do espaço. A ombreira cor-de-rosa chega a ser visível nas imagens de satélite do Google Maps.
As petúnias são um vestígio, ainda vicejante (e perfumado), da Vila Praia em Flor, uma iniciativa anual da Câmara Municipal de Caminha que anima a vila no final de abril com exposições, feira de artesanato, desfiles e concertos.
Depois do obrigatório passeio pela frente marítima da vila, fomos recompensados por um almoço com vista para o mar no restaurante Fortaleza, onde nos divertimos com a saudação brincalhona que o proprietário reservava aos clientes habituais e tentámos estar à altura da posta de carne que chegou à nossa mesa.
A seguir, fomos experimentar os originais bancos-baloiço que esperam os caminhantes cansados na ponta sul da vila, com vista para as águas do Âncora e a Duna dos Caldeirões. Apetecia ficar ali mais algum tempo a descansar, mas o regresso impunha-se, devido à supressão de vários comboios nesse dia.
À passagem pelo centro da vila, tivemos mais uma oportunidade para apreciar as petúnias da República, agora debaixo do sol abrasador da tarde. Os poucos turistas que ali passavam, a pé ou de carro, não resistiam, como eu, a tirar mais algumas fotografias. Ao virar a esquina, em direção ao apeadeiro, ocorreu-me apenas uma pergunta: o que pensarão as abelhas?
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