Bilhete-postal por Inês Rodrigues

Na verdade, não tínhamos planeado ir ver golfinhos e baleias em São Miguel. Em parte, porque não sabia como estaria o mar e, já tendo tido uma experiência em que fui ver baleias na África do sul (e fiquei extremamente enjoada), não tinha muita vontade de repetir a experiência. Mas, logo no dia em que chegámos, estava um calor de ananases e o mar estava calmíssimo.

Felizmente, ainda havia vagas para o catamarã de uma empresa chamada Futurismo. Já os seguia há muito tempo nas redes sociais e sei que são uma empresa ética e, para mim, isso é fundamental. Têm sempre biólogos a bordo, fazem a aproximação aos animais de lado ou de costas, mas nunca de frente, ficam pouco tempo com o mesmo grupo de animais e têm sempre atenção ao número de barcos que rodeia um ou mais animais.

Eles têm semirrígidos e catamarãs. Os primeiros são barcos pequeninos, onde têm de usar colete salva-vidas e a probabilidade de enjoarem é bem maior. Ou seja, não foi difícil escolher a segunda opção.

Cauda de uma baleia ao largo de São Miguel
Cauda de uma baleia ao largo de São Miguel A barbatana do Sr. Liable, o cachalote macho mais frequentemente avistado ao largo de São Miguel créditos: Inês Rodrigues
Golfinhos ao largo de São Miguel
Golfinhos ao largo de São Miguel Golfinhos ao largo de São Miguel créditos: Inês Rodrigues

É claro que estamos a falar de animais selvagens, por isso, há sempre o risco de não conseguirem ver nada. Nesse caso, podem voltar a marcar uma excursão com a empresa para outro dia, sem pagar mais por isso. Eles têm observadores em terra com binóculos que estão sempre à procura de sinais da presença de grupos de golfinhos ou baleias.

No dia da nossa saída, tivemos muita sorte.

Primeiro, começámos por avistar um grupo de golfinhos comuns que são uma das espécies residentes dos Açores. São lindos e tão, mas tão rápidos que são difíceis de fotografar. Reconhecem-se pela coloração amarelada nas zonas laterais.

Depois disso, tivemos um encontro inesperado com o Sr. Liable, que é um cachalote macho com quase quinze metros de comprimento. Foi fotografado pela primeira vez na ilha de São Miguel em 2004 e, desde então, já foi avistado mais de 100 vezes, tornando-se o cachalote mais "célebre" na ilha. Além disso, tem cerca de 30 a 40 anos, o que significa que já estava vivo na altura em que a caça era permitida nos Açores. E pronto, agora vocês vão ter de acreditar em mim quando vos digo que, em cima, é uma fotografia da barbatana caudal deste cachalote a preparar-se para um mergulho que pode durar quarenta minutos.

Por fim, veio a parte melhor. Avistámos um grupo muito curioso e brincalhão (e com uma cria!) de golfinhos pintados do Atlântico, uma espécie sazonal na ilha que só fica durante as águas quentes de Junho a Setembro.

Foi absolutamente incrível ver estes animais na natureza, em grupos de 30 a 40 golfinhos, em família, a aproveitarem as ondas do barco para ganharem balanço, a brincarem, a interagirem e comunicarem uns com os outros. Não podia recomendar mais a experiência, mas escolham sempre empresas éticas porque, infelizmente, nem todas o são.

A Inês é a autora do blog Mar de Maio, onde este artigo foi publicado originalmente.