O nome dado ao pão pode parecer estranho, mas no Diário da República foi institucionalizado e até certificado.

Caralhotas de Almeirim
Caralhotas numa padaria em Almeirim créditos: andarilho.pt

A denominação Caralhotas de Almeirim está protegida pela Comissão Europeia com indicação geográfica no concelho, como também a famosa Sopa da Pedra. Foi em particular a restauração que deu fama a este pão redondo, com côdea estaladiça e o miolo rústico.

Caralhotas de Almeirim
Dona Emilia créditos: andarilho.pt

“O verdadeiro pão de Almeirim não é amassado com máquinas. É com braços. Os antigos comiam este pão. Estavam uma semana inteira com este pão tapado, abafado, naquele tempo era muita a fome. O meu pão, por exemplo, continua à antiga. É amassado à mão, fica todo cheio por dentro, sem buracos. Continuo à antiga enquanto puder.” Diz dona Emília que já tem mais de 70 anos.

Caralhotas de Almeirim
Caralhotas numa padaria em Almeirim créditos: andarilho.pt

O principal ingrediente é farinha de trigo e o pão é cozido em forno de lenha.

A origem deste tipo de pão remonta ao final do século XIX, num ambiente rural, pobre, onde cada família fazia o seu pão.

Caralhotas de Almeirim
créditos: andarilho.pt

A confeção e a designação está muito associada à tradição oral e dona Emília conta uma das muitas versões da história: “à volta do alguidar ficam os borbotos da massa. Havia uma senhora com 14 filhos. A mãe estava de costas e as meninas com as mãos rasparam os borbotos da massa e depois mandaram para dentro do forno. A mãe perguntou à menina o que ela tinha metido no forno,  e ela respondeu: uma caralhota. Ficou o nome”.

Caralhotas de Almeirim
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Por ano são vendidas cerca de 3 mil caralhotas em Almeirim e dona Emília é uma das padeiras mais conhecidas.

Caralhotas de Almeirim
créditos: andarilho.pt

“Eu vivia com muita dificuldade. Ia buscar lenha com um reboque e uma mota. Comecei a cozer pão, a entregar na rua a senhoras, começaram a gostar e hoje sou muito conhecida pelas caralhotas.”

O seu estabelecimento chama-se Caralhotas da Caldeira, fica numa rua estreita, próximo da praça de touros e é onde também faz o pão.

Caralhotas de Almeirim
créditos: andarilho.pt

A loja está repleta de memórias, antigos instrumentos para a confeção do pão, fotografias, recortes de jornais e muitos sacos de pão, como antes se guardava o alimento.

A escassez de produtos do passado foi ultrapassada pela diversidade de caralhotas que produz agora, muito a pensar nos turistas que têm sido a sua principal clientela.

Caralhotas de Almeirim
créditos: andarilho.pt

“As pessoas diziam-me que eu sabia fazer várias coisas e comecei a fazer a caralhota doce que é recheada com canela, maçã e noz, é muito boa. Faço ainda de torresmos, outra versão é de azeitona, orégão, azeite e alho, e também só com alho, farinheira, chouriça e temos a caralhota da pedra. É a última e é muito boa.”

Caralhotas de Almeirim
créditos: andarilho.pt

Dona Emília vai inovando, mas na altura em que falei com ela tinha um problema. A continuidade do negócio. “Eu tenho muitos filhos só que cada um tem o seu emprego e estão com pouca vontade. É uma pena. Eles falam para eu continuar a cozer pão. Mas tenho uma neta que está muito perto disto. Sabe vender, não tem problemas quando eu vou vender para as festas, sabe os preços, sabe tudo. Já me disse, um dia quem pega nisto sou eu.”

Caralhotas de Almeirim
créditos: andarilho.pt

Devido à idade dona Emília já não coze o pão de madrugada. Mas, todos os dias, ainda põe as mãos na massa para fazer três fornadas de pão.

Caralhotas de Almeirim
créditos: andarilho.pt

Caralhotas de Almeirim para saborear com a D. Emilia faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.

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