Estamos em 1985. Portugal acaba de aderir à CEE e começa a receber dinheiro para tentar recuperar o atraso de anos face aos restantes países europeus. Em Lisboa, a principal atração torna-se andar nas escadas rolantes do Amoreiras, o primeiro centro comercial a abrir portas no nosso país. Os pequenos aparelhos portáteis que servem para telefonar e tirar fotografias ainda não existem. É neste contexto que a Madame Liz Bonne convida os seus amigos mais chegados para um “dinner-show”, um espetáculo cómico que é uma verdadeira homenagem aos cabarets e à revista portuguesa.
Esta hilariante viagem ao passado, servida com muito humor, música, dança, magia e a comida “finesse” do chef Luca Bordino, serve para celebrar a reabertura, sete anos depois, do icónico Maxime. O lugar é o mesmo desde 1949, quando inaugurava o Maxime Dancing, um luxuoso cabaret de inspiração parisiense. Estamos no nº 58 da praça da Alegria, bem perto da Avenida da Liberdade, em Lisboa.
O ambiente burlesco está lá, em todos os recantos, em cada detalhe da decoração. Também lá está, revigorado, o palco que, nos anos 50, serviu de cenário a grandiosos espetáculos, com nomes como Raúl Solnado, Simone de Oliveira, Tony de Matos, Alfredo Marceneiro e até Julio Iglesias, no início de carreira. A artista Alexandra Prieto inspirou-se na história rica deste lugar para criar um mural que dá ainda mais personalidade ao restaurante-bar. E, por falar em bar, houve o cuidado de manter o balcão original, inaugurado em 1949.
A sensualidade do preto e do vermelho, que dominam as cores do espaço, envolve-nos e prepara-nos para uma experiência irreverente e excêntrica, mas as palavras e a arte de bem receber da Lady Maxime, a nossa anfitriã, que, afinal, é uma personagem fictícia, transporta-nos para outro nível. É como se nos falasse ao ouvido e dançasse para nós, é como se nos tirasse o casaco à entrada e nos servisse de imediato uma bebida no bar.
São 20.30 horas, hora marcada para irmos ao encontro da Madame Liz Bonne. Esta extravagante personagem, interpretada por Francisco Beatriz, está decidida a pôr novamente o Maxime no mapa da noite glamourosa da capital. E, para tal, conta com a ajuda de Marialva ou Zé do Pito, interpretado por João Batista, um empresário que procura conter a ostentação exuberante de Liz Bonne. Enquanto a Madame não chega ao bar, onde combinou connosco, somos recebidos pela simpática Venus, cantora, bailarina e o braço direito do casal, a atriz Catarina Brou Félix.
Servido o champanhe e as ostras, gastos que irritam o somítico Marialva, eis que surge a esplêndida Madame Liz Bonne. Feliz por estar entre amigos, acaba por revelar que pretende ir para Paris, em busca do seu sonho de brilhar no Moulin Rouge. Para isso, precisa de uma artista que a substitua no palco do Maxime. Segue-se um divertido e surpreendente casting em busca da melhor performance e somos nós, os convidados amigos, que vamos ajudar Liz Bonne a tomar essa decisão.
São duas horas e meia de pura animação e divertimento, enquanto saciamos o estômago com apaixonantes iguarias (entrada, sopa, dois pratos, sobremesa e bebidas). Será que esta história vai acabar bem? Uma coisa é certa: a Lady Maxime tinha razão. Este espectáculo e jantar (65€ por pessoa), que sacia todos os sentidos, não é “recomendável a sisudos que não queiram estragar a sua reputação”.
Escrito e encenado por Roger Mor, este show, que está em cena todas as sextas e sábados, até ao dia 22 de Dezembro, “leva-nos numa viagem divertida e satírica ao que foi a noite lisboeta da revista e dos cabarets”, lembrando que “muitos artistas, depois de terminarem o espetáculo de revista, vinham para o Maxime atuar”.
As cortinas fecham-se e é hora de conhecer o hotel pertencente ao grupo Hotéis Real. Com 70 quartos deluxe (preços a partir de 100€ com pequeno-almoço) e outros cinco superiores temáticos, há histórias e personagens nos corredores e por trás de cada porta. Cada um dos cinco pisos é inspirado nos temas burlesque, bondage, bar, dressing room e stage e são estes os nomes dos cinco quartos mais especiais deste “quatro estrelas”. Neles, a decoração é ainda mais especial com algemas, chicotes, penas, veludos, espartilhos, fichas e cartas de póquer. Há até uma cama redonda com luzes, como se fosse um palco.
Além do tema de cada andar, há ainda personagens femininas inspiradas na história do Maxime. Este espaço respira história, recria o glamour do passado, mas volta-se para o presente com todas as comodidades: máquina de café da Nespresso, uma coluna Marshall, smart TV e produtos de higiene Portus Cale.
O futuro promete ser criativo e descontraído neste boutique hotel, que tem ainda um pátio, uma espécie de refúgio romântico e tranquilo para beber um copo e recarregar energias até ao próximo espetáculo. Porque “se a vida é um cabaret, ela passa por aqui”.
Percorra a galeria de fotos e conheça alguns dos espaços do Maxime.
Por Helena Simão, blogger do Starting Today
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