Tudo começou pelas mãos de uma francesa, Isabel Baufumé (1944-2019), que, em 1987, criou uma oficina informal de carpintaria com um pequeno grupo de jovens que viviam nas ruas. O projeto evoluiu e, face à realidade de vários jovens em Cusco, nasceu, em 1990, o dormitório e a associação Qosqo Maki.
Desde então, várias foram as crianças e adolescentes a passar pela associação que, para além de oferecer abrigo, ajuda-as a desenvolverem as suas capacidades, fornecendo também orientação para que, mais tarde, consigam viver de forma digna e autónoma e conscientes dos seus direitos civis.
Atualmente, e desde 2014, a Qosqo Maki conta também com um programa de turismo solidário que lhe permite angariar fundos (para além dos que recebe de doadores) e garantir a sustentabilidade das suas ações educativas. Através deste programa, o projeto também promove um intercâmbio intercultural entre viajantes, a equipa e os jovens em situação vulnerável.
"Quando os turistas efetuam uma reserva, acabam por apoiar a associação", explica Flora, que trabalha na área de turismo da associação. "Funciona como uma doação direta", acrescenta.
Com diferentes espaços, uma biblioteca (aberta para o público em geral) e um pátio interior amplo, típico das casas coloniais, a Qosqo Maki promove workshops, dá aulas de educação sexual e organiza atividades quer para as crianças do espaço, como para as da vizinhança. "Também damos aulas de inglês, a um preço bastante económico, para a população do bairro", refere ainda Flora. "Queremos que as crianças e os jovens ganhem autonomia e lutem pelos seus direitos. Queremos que conheçam os seus direitos laborais e de saúde".
Os viajantes interessados também podem dar formações, cozinhar ou oferecer entretenimento. Para ficarem no alojamento, têm como opções quartos com casa de banho privada ou partilhada e dormitórios com dez camas. A cozinha está disponível para todos e ainda há uma sala de estar.
"Adoramos apoiar este projeto porque nos mostra o impacto positivo que o turismo pode ter", comenta Manuel Gil Ferreira, gestor de parcerias da TUI Care Foundation, parceira do projeto.
Para além do abrigo, a Qosqo Maki conta com uma padaria e carpintaria onde os jovens da casa podem trabalhar.
Atualmente, a Qosqo Maki abriga 10 menores, duas raparigas e oito rapazes, com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos. Estes jovens frequentam programas de capacitação, tanto na Qosqo Maki como em organizações externas. "A ideia é abrir-lhes os horizontes para as suas possibilidades económicas que não têm ao estarem numa situação vulnerável".
Tecnicamente, a organização tem capacidade para albergar 30 jovens, contudo, os colaboradores acreditam que 10 é o número ideal para conseguirem acompanhá-los de forma mais personalizada, visto que existe apenas um educador.
A instituição rege-se por uma política de portas abertas. Assim, os jovens são livres de ficar ou partir sempre que quiserem.
Em 2023, a Qosqo Maki recebeu 84 crianças. Grande parte dos beneficiários descobre a associação através do boca-a-boca. No entanto, a maioria acaba por ficar poucos dias, visto que, conforme nos explicam, ao serem notificadas acabam por ser enviadas para instituições governamentais por questões burocráticas. No fundo, a associação funciona como um last resort.
Para já, o alojamento funciona como projeto piloto estando a ser apenas promovido na plataforma SocialBNB, focada em turismo solidário.
Estima-se que, no Peru, mais de um milhão de crianças e adolescentes trabalhem ao invés de estudar e que 80% desse universo venha de famílias de zonas rurais.
De acordo com a TUI Care Foundation, para conseguirem sobreviver, os menores arranjam trabalhos informais como vendedores de rua ou refugiam-se no álcool e em drogas. Infelizmente, revela a fundação, enfrentam situações de abuso sexual e profissional e de discriminação social.
Pode ficar a conhecer mais sobre o trabalho da Qosqo Maqui no site da associação e acompanhá-lo no Instagram.
O SAPO Viagens visitou o Peru a convite da TUI Care Foundation
Comentários