Bruno Costa é um criador de conteúdos já muito conhecido na internet portuguesa pela forma como aborda desconhecidos na rua para os fotografar ou filmar. Em novembro passado, voltou a sair da sua zona de conforto e foi viajar, sozinho, pelas Aldeias Históricas, à procura de novas paisagens e temas. Encontrou a Dona Maria da Conceição, uma das mais carismáticas habitantes de Castelo Mendo, que partilhou consigo, e os seus 320 mil seguidores no Instagram, um pouco da sua história de vida e alegria por viver num meio pequeno. O público do Bruno não resistiu à sua autenticidade e o volume de reações confirmou, uma vez mais, como são as pessoas que fazem os lugares. Colocámos-lhe algumas perguntas por escrito sobre as reações ao vídeo de fevereiro e a direção que espera dar aos seus projetos em vídeo.
Saí de Castelo Mendo com a sensação que não tinha conhecido verdadeiramente aquela aldeia se não tivesse tido oportunidade de conhecer e conversar com esta senhora
Podes dizer-nos como surgiu este projeto de visitar aldeias isoladas e entrevistar alguns dos seus habitantes?
Bruno: Esta série de vídeos a fotografar e conhecer pessoas nas Aldeias Históricas de Portugal, vem no seguimento do meu projeto e série de vídeos a fotografar pessoas que não conheço na rua, onde registo em vídeo e fotografia o encontro com cada pessoa.
Comecei esta série a fotografar desconhecidos em 2020, no YouTube, e a principal motivação é o registo fotográfico que se torna um grande desafio por ser com pessoas que não conheço, em situações espontâneas, onde acabo por aproveitar, sempre que possível, para conhecer um pouco sobre a pessoa que estou a retratar e dar a conhecer a quem assiste os vídeos.
A maior parte dos vídeos que tinha realizado até novembro do ano passado, foram registados em zonas próximas de Azeitão, local onde vivo, Lisboa e vários locais ao longo do país, mas em viagens de trabalho ou férias.
No início de 2023 decidi começar a planear uma viagem dedicada apenas ao projeto e a minha vontade era de andar durante uma ou duas semanas ao longo do país pelas aldeias mais antigas de Portugal para conseguir registar momentos em locais calmos e ligados à natureza.
Durante a minha pesquisa encontrei o roteiro das Aldeias Históricas de Portugal, um conjunto de 12 aldeias e vilas, relativamente próximas umas das outras e com bastante informação pela Internet, nomeadamente fotografias muito bonitas das casas e paisagens. Então foi assim que comecei a planear a viagem para ir até estas 12 aldeias nos distritos da Guarda, Castelo Branco e, uma delas, no distrito de Coimbra. Desta forma já tinha um objetivo específico e a escolha das aldeias feita.
Esta viagem, para além de ter sido a primeira grande viagem dedicada ao projeto, foi também o realizar de um desejo que eu tinha há muito tempo e ainda não tinha realizado, de viajar sozinho durante alguns dias para fazer caminhadas em zonas de natureza.
Acabei por conhecer todas as aldeias ao pormenor, ao fazer vários quilómetros a pé por praticamente todas as ruas e caminhos que encontrava. Comecei a viagem no dia 1 de novembro e terminei uma semana depois, a 8 de novembro. Em alguns dias visitei duas aldeias, uma de manhã e outra à tarde, e noutros dias visitei apenas uma aldeia durante todo o dia. Registei um vídeo em cada uma das aldeias, comecei a partilhar nas redes sociais estes vídeos no dia 2 de dezembro e fui editando e partilhando um a um semanalmente durante mais ou menos 3 meses.
Em fevereiro, deste-nos a conhecer a Dona Maria da Conceição, e o teu público no Instagram, pelo menos, parece ter derretido com a sua simpatia e humildade, a avaliar pela quantidade de comentários. Quando partiste para aquele vídeo, já a conhecias ou foi algo que surgiu espontaneamente durante a viagem? O que se destacou aos teus olhos nesta senhora?
Quando cheguei a Castelo Mendo, a aldeia onde conheci a Dona Maria da Conceição, estava a chover muito e andei a conhecer e fotografar a aldeia durante 1h30 com chuva. Ou seja, não via ninguém na rua, estava frio e desagradável.
Já tinha andado por todas as ruas da aldeia e numa altura em que começou a chover mais, fui-me abrigar no único local em que tinha visto gente, o Posto de Turismo de Castelo Mendo que também é museu. Conheci aqui o Ricardo que trabalha no Posto de Turismo com quem tive a conversar durante algum tempo e aproveitei para perguntar se existia alguém ali na aldeia que ele me sugeria para eu ir conversar e convidar a tirar uns retratos. Foi aí que o Ricardo me sugeriu ir conversar com a Dona Maria da Conceição, que tem uma lojinha em Castelo Mendo que estava fechada, pois, para além da chuva e frio que se fazia sentir, não estava ninguém por esta altura a visitar a aldeia, eu era o único.
O Ricardo acompanhou-me até à porta da loja e lá estava a Dona Maria da Conceição, que nos abriu a porta. A partir daí, foi o momento que pode ser visto, resumido no vídeo, pois estive à conversa durante mais de 1h com a Dona Maria.
Adorei sentir que a Dona Maria da Conceição tem muito amor por aquele lugar e, mesmo com alguma dificuldade em deslocar-se, adora dar a conhecer e ir mostrar um pouco da aldeia a quem por lá passa. Saí de Castelo Mendo com a sensação que não tinha conhecido verdadeiramente aquela aldeia se não tivesse tido oportunidade de conhecer e conversar com esta senhora, pela partilha das histórias que ela, com muito entusiasmo, contou-me. Ficarei sempre grato ao Ricardo por me apresentar a Dona Maria da Conceição.
O que achaste da reação das pessoas, expressa em comentários e visualizações?
Fico sempre muito feliz quando as pessoas que acompanham o meu trabalho, sentem empatia com as pessoas que retrato. Embora isso aconteça na maioria das vezes que dou a conhecer pessoas nos meus vídeos, existe sempre alguém que, pelas mais variadas razões, chegam ainda mais próximo dos corações de quem assiste aos vídeos e fotografias. A Dona Maria da Conceição foi uma dessas pessoas, talvez pela forma genuína como fala da sua aldeia, da maneira como me recebeu e da sua forma gentil e alegre de conversar.
Contas voltas a visitar Castelo Mendo?
Ainda não tinha terminado a viagem, estava a meio, com 6/7 aldeias visitadas e decidi que daqui a 2 ou 3 anos quero voltar a todas as aldeias. Talvez com a minha família, para lhes dar a conhecer os locais por onde andei e também para tentar reencontrar as pessoas que conheci e registei nesta viagem.
O projeto das aldeias históricas é mais recente, mas já tens um historial de abordar desconhecidos na rua. Esse ingrediente da espontaneidade alicia-te ou é mais uma necessidade para produzir conteúdos? E, já agora, como desenvolveste essa desenvoltura? É algo que te "sai" facilmente?
Quando comecei a série a fotografar desconhecidos, este género de conteúdo com pessoas desconhecidas na rua ainda não estava muito presente em Portugal.
Na altura eu estava a realizar conteúdos mais direcionados a aprendizagens na área da fotografia (tutoriais no youtube) e a realizar vídeos "por detrás das câmaras" de trabalhos que realizava ou vídeos em que ia fotografar paisagens e natureza que é outro género de fotografia que adoro.
Com a intenção de fazer algo diferente e ideias que me surgiam, juntando a inspirações do que eu via noutros países, surgiu esta ideia de começar a fotografar desconhecidos na rua. No início foi um enorme desafio, principalmente porque, desde criança, sempre fui muito introvertido e envergonhado e tive de superar muitos receios que tinha até então e também porque quando comecei a gravar este conteúdo, estávamos em pandemia, numa fase em que muitas pessoas ainda tinham receio de se aproximar de outras pessoas.
Após ultrapassar estas primeiras dificuldades, meses depois, as coisas começaram a acontecer mais naturalmente e, curiosamente, continua a ser o desafio de comunicar e conhecer pessoas que mais me empolga nesta série.
A espontaneidade ligada ao facto de as pessoas não estarem à espera, acaba por ser um "bónus" que permite que todo o conteúdo desta série seja diferente e crie mais interesse para quem acompanha.
Por fim, que espaço é que estes projetos em vídeo ocupam na tua vida? Isto é, neste momento, são um escape criativo ou gostarias de levá-los mais longe (TV, por exemplo)?
A criação do meu próprio conteúdo, como costumo dizer, é aquilo que mais gosto de fazer. Comecei a criar conteúdos para as redes sociais há 7 anos como forma de realizar projetos de vídeo totalmente feitos por mim.
Embora seja formado na área do vídeo e trabalhe nesta área, onde é fundamental trabalhar em equipa, sempre adorei criar vídeos sozinho, desde a captação até ao resultado final.
Quando comecei a trabalhar nesta área, fazia apenas uma função específica em pós-produção de vídeo e senti desde o início a necessidade de continuar a realizar outros conteúdos totalmente meus. Aos poucos, esta paixão pela criação dos meus próprios conteúdos, que começou como um escape criativo, tem vindo a fazer parte do meu trabalho profissional, aliado ao trabalho como videógrafo e fotógrafo "freelancer" e, para já, pretendo que continue nos mesmos moldes que tem vindo a ser desenvolvido na internet.
Comentários