Apenas uma pequenissima parte dos 25 hectares foi pesquisada: 2%. Conforme conta Bento Mota, que recebe os visitantes, “ainda estamos numa fase inicial. Os trabalhos arqueológicos são sazonais e estão sob a gestão científica da Universidade de Lisboa. São feitos por estudantes de várias universidades e funcionam como uma escola de verão.”
O que significa que ainda vamos ter de esperar muito para conhecer mais segredos de Ammaia, que terá dois mil anos. Está num vale em São Salvador de Aramenha e tem uma excelente vista para o castelo de Marvão.
As duas localidades terão partilhado vivências no período da romanização, mas Ammaia acentuou o seu declínio a partir do século V. Na ocupação árabe já estaria em ruínas. A partir daí pouco mais se sabe.
Pensava-se que estaria localizada no centro histórico de Portalegre, mas tudo não passou de um equívoco provocado por uma inscrição numa pedra que teria sido levada de Ammaia.
Foi o nosso Indiana Jones, José Leite Vasconcellos, que há quase um século identificou Ammaia. 15 anos depois foi classificada Monumento Nacional. De pouco lhe serviu. Esteve ao abandono até há pouco mais de duas décadas, quando começaram as primeiras escavações.
Hoje, o resultado já é perceptivel para os visitantes. Além do museu, há três sítios arqueológicos. Um deles é a porta sul.
“Pensamos que era a entrada principal da cidade. Outro ponto são as termas, o banho público da Ammaia. Essa zona foi parcialmente destruída por causa da construção de uma estrada nacional que atravessa a antiga cidade. Há ainda o Fórum que fica no centro de Ammaia e era um dos principais edifícios públicos.”
De todas as áreas de escavação a que mais me impressionou foi o Fórum. A estrutura retangular eleva-se do solo e chega a ter 2,5 metros de altura no que seria o pódio de um templo.
Na porta Sul destacam-se as bases de duas torres muito largas formadas por pequenas pedras. É aqui que começa uma calçada de quatro metros de largura e serve de cenário à nossa imaginação sobre como seria entrar em Ammaia.
Alguns dos achados arqueológicos estão no museu. Há uma grande variedade de objetos e os que mais me surpreenderam foi o conjunto de vidros. No local está referido que a coleção será a mais notável encontrada em Portugal, devido essencialmente à diversidade de formas e ao excelente estado de conservação. Algumas destas peças faziam parte do espólio funerário.
Há ainda um laboratório onde se faz a conservação e o restauro das peças arqueológicas. O projeto envolve ainda uma componente científica e parcerias com universidades. Uma das iniciativas mais interessantes foi um levantamento com meios tecnológicos desenvolvidos das estruturas soterradas nos 25 hectares. O trabalho permitiu fazer uma “radiografia” do local.
A propriedade e gestão desta área é da Fundação Cidade Ammaia. “É de cariz privado e foi criada para se iniciarem as escavações. Na altura os terrenos foram adquiridos e mais tarde doados à Fundação por Carlos Melancia, a qual preside até hoje. A Fundação é proprietária de 85% dos terrenos onde está localizada a cidade de Ammaia”, explica Bento Mota.
A Fundação Cidade de Ammaia já recebeu vários prémios pelo trabalho arqueológico que está a ser desenvolvido.
As ruínas estão a poucos quilómetros de Marvão e de Castelo de Vide. Toda a área faz parte do Parque Natural da Serra de S. Mamede e está delimitada entre a ribeira dos Alvarrões e o rio Sever.
Temos muito para escavar e descobrir na cidade romana de Ammaia! faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
Comentários