José Saramago deslocava-se habitualmente no horário pós-laboral à biblioteca municipal no Campo Pequeno, em Lisboa.
Hoje a Biblioteca do Palácio Galveias continua com o horário mais alargado na rede das 18 bibliotecas municipais.
Numa situação de rotina, antes da pandemia, recebia a média de 600 visitantes por dia.
Para além da consulta entre um acervo de 60 mil documentos, a biblioteca desenvolve um conjunto vasto de iniciativas. Salienta a sua coordenadora, Fernanda Bandeira, que “para além da consulta presencial ou por empréstimo domiciliário, temos um vasto serviço de atividades para todas as faixas etárias. Desde contar histórias para crianças, workshops, apresentações de livros, festivais no jardim, palestras conferências”.
Já assisti a algumas destas iniciativas na sala dedicada a José Saramago. É um espaço amplo que ainda preserva as estantes da biblioteca original, a Biblioteca Central, inaugurada em 1931. No entanto, o edifício é mais antigo. É dos finais do século XVII e resistiu ao terramoto de 1755.
Era uma casa de férias da rica e poderosa família dos Távora que acabou por ter um final trágico, após uma tentativa de assassínio do rei D. José. O edifício ainda preserva alguns vestígios dessa época.
Todo este património pode ser descoberto porque esta é também uma biblioteca para ser visitada. “É uma biblioteca com história. É um exemplo de uma casa real setecentista. O palácio foi propriedade dos Távora e da família Galveias. Daí o seu nome. Ainda temos elementos no interior do palácio que evocam essa época. O pátio da entrada será muito semelhante ao original, o teto da abóbada falsa que corresponde ao que hoje chamamos lounge, os mármores do salão nobre, hoje sala Agustina Bessa-Luís, como também as pinturas que foram restauradas.”
Fernanda Bandeira salienta também um dos elementos que se destaca na decoração interior do edifício: “os azulejos de Leopoldo Battistini que se podem ver nos pisos 0 e 1. Foram encomendados propositadamente para a biblioteca."
"Quando a Câmara de Lisboa adquiriu o imóvel em 1928 foi perspetivado fazer aqui a biblioteca e um museu. Foi logo pensada como seria a decoração do palácio e, na altura, já se considerava que este seria um espaço de cultura e tinha de ser emblemático nesse sentido.”
Quem entra na sala Agustina Bessa-Luís imagina o ambiente do palácio, com a luz natural das janelas a dar vida às pinturas em tons suaves que estão no teto do antigo salão nobre. O efeito é ainda maior porque “a pintura foi recuperada. Consegue-se observar que havia outra pintura que desapareceu com o incêndio. Há ainda o emolduramento dos mármores rosa que se pensa serem os originais.”
Um dos segredos, a que podemos aceder, é a uma varanda com vista para o jardim. Para ler ou contemplar o espaço verde. Tem vista para o jardim “que é muito simpático, acolhedor. O jardim é muito visitado, em particular ao fim de semana por famílias.”
O jardim tem quase sempre visitantes. Inverno ou verão. No meio está uma área relvada e, além de uma esplanada, há cadeiras e mesas espalhadas pelo espaço ao ar livre. Como o edifício tem a forma de um U, o jardim fica isolado e é um pequeno oásis nesta zona de Lisboa.
Há três séculos era bem diferente, “era uma quinta de férias da família Távora. A dimensão era 14 vezes maior ao atual edifício e jardim.”
Hoje o acervo de conhecimento e cultura atinge uma dimensão muito superior. Desde uma edição antiga e ilustrada dos Lusíadas até à documentação de Herberto Hélder que também vai ter uma sala na Biblioteca.
Para consulta de documentos de livros ou outros documentos, ou só para visita, a biblioteca tem as portas abertas das 10 às 19h.
Palácio Galveias em Lisboa: a biblioteca que para Saramago “era o mundo” e que podemos visitar faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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