Dois dias pode ser pouco para descobrir os seus segredos, mas com certeza é o suficiente para nos deixar com vontade de regressar.

Perto do nosso hotel, próximo da Plaça d'Espanya, a caminhada para explorar a cidade mal tinha começado quando paramos no Mercat l'Olivar atraídos primeiro pelo barulho, depois pelas cores e sabores das bancas de mercado.

Os mercados são ótimos lugares para sentir a vibração local. São um deleite para os olhos (e não só), funcionam com uma espécie de micro cosmos da cidade. Eu gosto de ver o que as pessoas põem no saco para levar para casa, imaginar o que vão cozinhar, ouvir as conversas que têm uns com os outros e com os feirantes, os comentários sobre as notícias, os programas de televisão, o último jogo de futebol... Gosto de ver o que provam, o que bebem, o que os anima… Como se diz em bom português: gosto de cuscar!

Era cedo para experimentar umas tapas e uma taça de vinho, por isso concordamos em voltar mais tarde e continuamos o nosso caminho até a Calle Sant Miquel que abriga uma infinidade de capelas, igrejas, edifícios históricos, lojas originais, cafés e restaurantes.

Calle Sant Miquel
Calle Sant Miquel Calle Sant Miquel créditos: Travellight

A Calle Sant Miquel é uma das ruas mais movimentadas de Palma. Tem 650 metros de extensão e vai da Avenida Joan March até à Plaça Mayor. No seu extremo norte fica o Centro de Historia y Cultura Militar, um edifício do século XIII que alberga atualmente um importante e extenso legado documental e bibliográfico. A exposição ocupa parcialmente a primeira das três alas que rodeiam o outrora Convento de Santa Margalida e entre as suas curiosidades destaca-se uma farmácia de 1857, doada pela Rainha Isabel II de Espanha.

Um pouco mais longe do museu, a estrada asfaltada passa a ser apenas para pedestres. Seguindo em frente passamos pela Plaça Porta Pintada que conecta a Calle Sant Miquel à Plaça d'Espanya — o principal centro de transporte público de Palma.

É na Plaça d'Espanya que podemos apanhar o Ferrocarril de Sóller, um comboio tradicional de madeira que desde 1912 percorre a distância entre Palma e Sóller com paragem em Bunyola.

Foi o sucesso do comércio de laranjas de Sóller no início do século XX que levou à necessidade de uma rota acessível para Palma. A viagem de comboio leva-nos por uma rota espetacularmente panorâmica pela Serra de Tramuntana e atravessa um túnel de 2.856 metros na Serra de Alfábia que levou quatro anos para ser construído.

A antiga estação do Ferrocarril, agora fechada e convertida num café com esplanada, está localizada a apenas 75 metros da estação ferroviária e rodoviária Intermodal da Plaça d'Espanya. Vale a pena conhecer a charmosa estação e tomar um café na esplanada antes de regressar para a Calle Sant Miguel e foi exatamente isso que fizemos antes de seguir até à Basílica de Sant Miquel.

Pensa-se que foi nesta basílica que a primeira missa após a conquista cristã de 1229 foi celebrada.

Basílica de Sant Miquel
Basílica de Sant Miquel Basílica de Sant Miquel créditos: Travellight

Continuando ao longo da Calle Sant Miquel, encontramos o Museo Fundación Joan March. A entrada é gratuita e exibe obras de arte de alguns dos mais proeminentes artistas espanhóis do século XX. Picasso, Dalí e Joan Miró, estão entre os artistas apresentados.

A Calle Sant Miquel termina na Plaça Mayor, que já foi a sede da inquisição e agora é um centro movimentado usado para feiras e apresentações de artistas de rua. É a praça central da cidade, onde se misturam locais e turistas… claramente, é o lugar onde todos vem para ver e serem vistos.

Plaça Mayor
Plaça Mayor Plaça Mayor créditos: Travellight

Sinto sempre um arrepio ao imaginar um tribunal da Inquisição ali onde hoje se tiram fotografias, se namora ou se bebe sangria. Será que a alegria do presente consegue apagar o terror de outrora? Para quem tem uma imaginação ativa como eu, às vezes, é difícil, por isso, desprezando a sugestão para almoçar numa das esplanadas, preferi contornar a Plaza Mayor e na Plaça del Marques del Palmer admirar a fachada de azulejos coloridos e a varanda peculiar do Edificio Can Forteza Rey.

A obra idealizada por José Forteza Rey Aguiló, joalheiro maiorquino, parece ter sido inspirada no estilo Modernista de Gaudí.

Edificio Can Forteza Rey
Edificio Can Forteza Rey Edificio Can Forteza Rey créditos: Travellight

Seguimos em direção à Plaça Cort, onde está situado o Ajuntament (câmara municipal) um edifício de estilo barroco do século XVII, e um dos ícones mais populares de Palma — uma oliveira com mais de 600 anos!

Esta velha e enorme árvore, conhecida como Olivera de Cort, foi trazida de uma quinta de Pollensa, na Serra de Tramuntana, para ser plantada em 1989 na Plaça de Cort como um símbolo de paz e da ilha de Maiorca.

Olivera de Cort
Olivera de Cort Olivera de Cort créditos: Travellight

Existem alguns restaurantes e cafés em redor da praça e a sorveteria Giovanni's destaca-se porque é conhecida por fazer entregas na Casa Real Espanhola. Acabamos por almoçar na esplanada do restaurante do Hotel Mamá e ficamos virados para a oliveira, divertindo-nos a procurar rostos no seu tronco nodoso, incluindo uma orelha, a que chamam “Orella de Mallorca” (que não conseguimos encontrar).

Hora e meia depois (que gostamos de almoços demorados), voltamos à rua e na Calle Palau Reial, admiramos o impressionante edifício neogótico Consell Insular.

Consell Insular
Consell Insular Consell Insular créditos: Travellight

Entre aqui e a Catedral de La Seu estão vários museus e palácios fascinantes, como a Marcha Fundacio Bartomeu (que apresenta interessantes exposições e concertos de música clássica) e o Palau de la Almudaina, um palácio medieval deslumbrante que atualmente é a residência oficial da família Real Espanhola quando visita Mallorca.

Passamos ainda por um grande arco gótico chamado Arc de la Drassana Reial, que já foi a porta de entrada para as docas reais e por fim avistamos a Catedral La Seu.

Para quem gosta de arquitetura, história e arte, a magnífica catedral do século XIV é, sem dúvida, o destaque de qualquer visita a Palma.

Catedral La Seu
Catedral La Seu Catedral La Seu créditos: Travellight

É uma das estruturas góticas mais altas da Europa. Fica situada acima do Parc de la Mar e oferece uma vista soberba a quem chega por mar. Demorou quase quatro séculos a concluir e a sua fachada neo-gótica é realmente maravilhosa.

Por dentro, a luz quase etérea, o espaço imponente e toda a arte sacra são simplesmente de tirar o fôlego.

A história de La Seu começou com a chegada de Jaime I a Maiorca. Conta-se que, lutando contra o mar agitado, com a sua frota de navios e homens a enfrentar grande perigo, o jovem rei jurou que se tivesse sucesso na sua missão de livrar a ilha dos mouros, ele construiria uma enorme catedral. Foi o que acabou por acontecer e a La Seu (que significa cátedra ou a cadeira do bispo), foi construída no local da mesquita que ficava em frente ao Palácio Real de La Almudaina durante a ocupação mourisca de Maiorca.

Entrando na Catedral conseguimos facilmente entender por que muitos a chamam de "Catedral da Luz". No total, são 61 vitrais em La Seu — o mais espetacular é a rosácea central, que aproveita o sol da manhã e inunda o edifício de feixes de luz colorida.

Catedral La Seu
Catedral La Seu Catedral La Seu créditos: Travellight

Muitos desconhecem este facto, mas no início do século XX, La Seu sofreu algumas mudanças pelas mãos do arquiteto modernista catalão Antoni Gaudí. Uma das adições mais dramáticas foi a enorme coroa de espinhos que paira sobre o altar, no entanto, embora o trabalho seja atribuído a Gaudí, ele foi efetivamente concluído por um dos seus alunos e por um colega.

No século XXI, aconteceu mais uma mudança: a reforma da Capela do Santíssimo Sacramento pelas mãos do artista maiorquino Miquel Barceló. O seu design moderno não agrada a todos, mas definitivamente provoca uma reação. Os claustros e o museu adjacente também merecem uma visita.

Saindo de La Seu fomos até ao Parc de la Mar — um parque e lagoa (projetado para refletir a Catedral iluminada à noite) e que tem como destaque um mural gigante de Juan Miró.

Passamos o Museu de Maiorca, a Lonja de Maiorca (um edifício do século XVI com belos pilares e abóbadas) e acabamos na Plaça de la Reina, a praça que marca o início do Passeig des Born, uma das principais avenidas de Palma.

Voltamos para baixo em direção à marina, continuamos em zigue-zague pelas ruas antigas entre Carrer Mar e Carrer Sant Joan e como já estava na hora de jantar e este bairro é perfeito para uma deliciosa refeição maiorquina, escolhemos um restaurante típico — o La Boveda. Jantamos muito bem e regressamos felizes para o hotel.

No dia seguinte retomamos o passeio, quase do ponto onde paramos no sábado, caminhando ao longo da Avenida Maritim, mas não sem antes pararmos numa das muitas padarias locais para comprar uma ensaïmada.

Passeamos ao lado das enormes paredes fortificadas do Museu D’es Baluard e fomos ver de perto os moinhos de vento de Maiorca.

Moinhos de vento de Maiorca
Moinhos de vento de Maiorca Moinhos de vento de Maiorca créditos: Travellight

Seguimos depois para o Castelo de Bellver que fica no topo de uma colina próxima. Este é considerado um dos poucos castelos circulares da Europa, data do século XIV e é um ótimo local para uma inesquecível vista panorâmica de Palma e do seu porto.

Originalmente foi residência real (e um refúgio da peste) e depois uma prisão. Agora está aberto aos turistas, com um museu completo dedicado à história de Maiorca. Concertos clássicos e outros eventos acontecem no pátio central durante o verão.

Castelo de Bellver
Castelo de Bellver Vista do Castelo de Bellver créditos: Travellight

Existem parques de estacionamento à volta do castelo, mas também é uma caminhada agradável para lá chegar através do pinhal (embora possa ser um pouco cansativo no calor do verão). Recompensamos o esforço com uma cerveja gelada e uma fatia de tortilla na esplanada com vista do café que fica no topo.

Descemos novamente para a orla marítima e depois de um agradável passeio de cerca de meia hora pelo calçadão chegamos a Portixol.

Portixol
Portixol Portixol créditos: Travellight

Portixol que foi outrora uma vila de pescadores pitoresca, mas decadente, agora tem uma bela marina, um punhado de restaurantes excelentes e uma pequena praia agradável para um banho de sol ou um mergulho rápido. Almoçamos por lá, antes de voltar ao centro de Palma.

Tínhamos hora marcada no Hammam Al Ándalus Baños Árabes Palma — uma joia escondida, numa rua lateral do centro histórico. Os banhos árabes de estilo tradicional, mas luxuosos, são impressionantes. Podemos relaxar na piscina de aromaterapia à luz de velas e desfrutar da sauna a vapor e da sala fria antes de fazer um dos vários tratamentos e massagens disponíveis.

Para fechar o fim de semana com chave de ouro, reservei mesa para jantar no Marc Fosh, o restaurante com estrela Michelin do Hotel Convent de la Missió. O restaurante tem um pequeno pátio com jardim e um menu deliciosamente criativo.

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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World