A história principal é a dos fósseis de varias espécies, em particular as trilobites, que viveram no mar durante 300 milhões de anos. Terão sido dos mais antigos seres vivos! Acrescenta-se o facto de no Museu das Trilobites podermos ver algumas das maiores em todo o mundo.
Refere Manuel Valério, o proprietário do Museu das Trilobites e da pedreira de ardósia que está nas proximidades, que “estamos a falar de animais que viveram há cerca de 470 milhões de anos.” Além do tempo, junta-se a qualidade extraordinária do registo desses seres vivos.
“Na pedreira encontrámos as maiores trilobites que se conhecem a nível mundial. Chegam a atingir 60 a 80 centímetros, enquanto que a média destes animais varia entre 3 e 10 centímetros. Aqui é frequente encontrarem-se trilobites até 30 centímetros. Já são grandes. Com mais de 30 centímetros é muito difícil, raro, mas aparecem alguns.”
Manuel Valério fala pausadamente e de forma bem informada sobre esta matéria. E aqui entramos na segunda história fantástica, porque, desde o início da extração, teve sempre a preocupação de salvaguardar o património encontrado e de o dar a conhecer no museu há 14 anos.
“O museu existe desde 2006 mas o processo começou há mais de 30 anos quando reabrimos esta pedreira e deparámos com os fósseis. Valorizámos esse achado. Fizemos uma recolha, uma coleção e tivemos de ter um espaço para a mostrar. Não fazia sentido ter esse material escondido. Estamos a produzir produtos para a construção civil e paralelamente temos sensibilidade e vamos guardando todos os vestígios.”
A iniciativa alarga-se a projetos científicos e o museu faz parte do Centro de Interpretação Geológico de Canelas.
O museu tem dois pisos, percebemos através de vídeos, textos e imagens a formação destes fósseis e podemos ver as trilobites gigantes. Por exemplo, uma com 70 cm, a terceira maior a nível mundial.
O fundo escuro da lousa realça os relevos de cor mais clara que determinam o tamanho e a textura da carapaça que envolvia as trilobites. O corpo tem três partes, cabeça, tronco e cauda.
Frequentemente mudavam de carapaça. Até há o caso singular de ter sido registado uma delas na altura em que estava a mudar carapaça da cabeça. Além das partes do corpo, destacam-se também os olhos.
Era um sistema visual complexo e o mais antigo que se conhece. Recorremos mais uma vez aos conhecimentos de Manuel Valério: “temos de imaginar que estes animais viveram praticamente onde hoje é a Austrália".
"Morriam e caiam no sedimento que estava no fundo do mar. Foram, entretanto, cobertos com muito sedimento e estes animais, que foram os primeiros a desenvolver partes duras no corpo, ficaram no meio desses elementos".
"O sedimento onde eles ficaram endureceu ao longo de milhões de anos e formou-se esta rocha que era sedimento no fundo do mar. É por isso que esta rocha abre às camadas porque se formou às camadas. Os animais ficaram no meio das camadas muito finas. Depois, como este material sofreu muita pressão e calor do interior da Terra, adquiriu esta propriedade de abrir muito fino.”
A outra questão é como chegaram até aqui, ao ocidente da Europa, “isso tem a ver com a deriva dos continentes. Podemos dizer que estas rochas pararam nesta região e depois sofreram um outro efeito que foi serem levantadas. As rochas estariam na horizontal a grande profundidade, mas devido ao choque continental, a crosta terrestre dobrou, formaram-se estas montanhas e os materiais foram como que levantados. É por isso que estão como que no cimo do monte.”
O estaleiro onde é trabalhada a pedra fica a pouco mais de duas centenas de metros. A pedreira é um pouco mais longe e sabem a área onde estão concentradas as trilobites.
“Os fósseis encontram-se localizados. Como que em filões. Imagine, a pedreira tem uma determinada dimensão, mas os fósseis estão localizados em duas ou três camadas muito estreitas. 98% das rochas não têm fósseis ou terão muito poucos. Deste modo, nós sabemos, conseguimos programar o aparecimento dos fósseis. Estamos por vezes vários meses sem encontrar um fóssil, mas depois, no período de uma a duas semanas, podemos encontrar uma média de 30 por dia."
"Quando nos aproximamos dessa camada temos mais cuidado porque é aí que eles vão aparecer. Isso facilita muito. Outro fator muito importante é que os fósseis coincidem com a xistosidade da própria pedra. Ou seja, o fóssil está paralelo a essa xistosidade e quando se abre a placa, se a peça tem um fóssil, a pedra tem tendência a abrir sempre no sítio do fóssil. É uma fragilidade. Algo descontínuo e a rocha abre aí. É outra vantagem muito importante.”
Dois homens, cada um com um martelo e um cinzel, em cadência alternada, fazem pequenas incisões nos extremos das placas de ardósia, uma linha imaginária, pela qual se multiplica em lousas mais finas, lisas e direitas
A maior parte do material é utilizado na construção civil. “Essa foi a primeira aplicação, em 1820, quando esta pedreira terá iniciado a atividade."
"A função primeira era para os telhados das casas e trabalhou-se sempre de forma familiar durante várias gerações até ser abandonada nos anos 70. A exploração foi retomada nos anos 80.”
Os visitantes podem ainda ter uma visão mais abrangente através de um percurso pedestre e que envolve também espaços arqueológicos. Mesmo que a visita fique só pelo museu, para alguns, o dia está ganho. “Muitos idosos que visitam o museu ficam surpreendidos porque a maioria deles nunca imaginava que existiam animais tão antigos. Normalmente saem daqui a dizer “hoje aprendi alguma coisa”.
Dos mais antigos seres vivos no Museu das Trilobites faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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