São muitos os retratos que fizeram do Infante D. Henrique e alguns não correspondem à imagem oficial que foi criada. É mesmo dissonante.
É afirmado que foi comerciante de escravos em Portugal, que foi hábil ao estar sempre ao lado dos vencedores e a única vez que perdeu, no ataque a Tânger, deixou o irmão como refém e não cumpriu a promessa de o libertar. São várias as facetas negativas com que alguns lhe traçam o perfil.
Mas o que vingou foi o mito do mentor dos Descobrimentos. O Navegador e a Escola de Sagres.
Um dos lugares que corporiza esse mito é o Padrão dos Descobrimentos em Lisboa.
O lugar onde foi construído, em 1940, envolvido pelos Jerónimos (construído no lugar onde estava a igreja de Santa Maria de Belém mandada edificar pelo Infante) e similar à Torre de Belém, em frente ao rio Tejo, ajudam a projetar a mensagem de enaltecimento que se pretendia com a Exposição do Mundo Português.
Percebemos ainda melhor esse objetivo, como sublinha Margarida Kol de Carvalho, diretora do Padrão dos Descobrimentos, com a orientação do olhar definida pela linha ascendente das figuras que termina com a imagem do Infante D. Henrique.
“A ideia dinâmica, de entrar pelo mar adentro, em que a figura do Infante já está meia suspensa sobre o rio Tejo. A figura do infante para ter a perspetiva de grandiosidade e destaque é muito mais alta do que as restantes figuras.”
O Infante tem uma caravela na mão e o seu olhar estende-se para longe. A pose do navegador.
Ao mito do Infante está ainda associada outra efabulação, a Escola de Sagres. O centro de saber, próximo do promontório evocado por poetas e escritores como o espaço da grande ousadia lusitana.
O mito ultrapassou fronteiras e ainda hoje navega na crença de muitos. “Há muita gente que procura pelo Infante D. Henrique. Há ainda a ideia de que as caravelas partiram daqui. Está mais presente do que eu imaginava. Onde o Infante morava, onde costumava estar... As comunidades brasileiras, alemã e italiana são as que mais perguntam.”
Francisco Heitor é comerciante e um interessado pela História. Na sua loja de artesanato em Sagres recebe turistas de quase todo o mundo por onde os portugueses navegaram e fica surpreendido com o interesse dos estrangeiros também sobre a mítica Escola de Sagres.
“Isto merecia, talvez, um museu do Infante. Interativo, completamente diferente. O Porto tem referências ao Infante, Lisboa também, e ainda bem. Como o Infante morreu aqui, merecia haver um museu. As autoridades regionais têm feito algumas coisas. Há estátuas e placas mas o poder central não tem tido igual interesse.”
O Infante D. Henrique morreu em Sagres em 1460 e o génio que lhe era atribuído é relembrado de várias formas, como estátuas e placas. Mas pouco mais existe.
O túmulo do Infante D. Henrique está no Mosteiro da Batalha junto com os irmãos que formaram a ínclita geração.
“Onde fica a Escola de Sagres e a casa do Infante?” faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
Comentários